Crise dos refugiados Rohingya completa um ano, sem solução à vista
No próximo sábado, dia 25 de agosto, completa-se um ano desde que a violência em Myanmar levou mais de 700 mil refugiados Rohingya a buscar abrigo na vizinha Bangladesh. Ainda não há uma solução para a crise à vista. A organização internacional de combate à pobreza ActionAid tem atuado para garantir melhor estrutura para as pessoas que chegam ao campo de refugiados Kutupalong-Balukhali, em Cox’s Bazar, especialmente mulheres e crianças, que são as mais vulneráveis em situações de crises humanitárias.
Farah Kabir é diretora da organização em Bangladesh e tem liderado o trabalho de resposta no país. Ela está disponível para entrevistas por telefone e e-mail. Farah afirma:
“Um ano depois, as mulheres e meninas Rohingya continuam a sentir o impacto da crise dos refugiados. As pessoas que apoiamos em nosso trabalho carregam as cicatrizes físicas e mentais daquilo que viveram – incluindo violência sexual, gravidez em decorrência de estupro e as marcas de uma viagem dolorosa e perigosa para Bangladesh. Hoje, em meio a condições precárias de vida, as mulheres e meninas nos campos enfrentam violência conjugal, casamentos forçados e o medo da violência sexual. Agora, mais do que nunca, a comunidade internacional precisa escutar essas mulheres, que reivindicam seus direitos e pedem uma solução justa para sua situação”.
Sobre a resposta humanitária da ActionAid no caso Rohingya
A ActionAid adotou uma abordagem de resposta humanitária centrada nas mulheres e que é liderada por mulheres. Seu esforço em campo inclui a garantia do acesso a alimentos, água e saneamento; distribuição de kits de dignidade; apoio à gestão dos acampamentos pelos refugiados; acolhimento psicológico; e apoio a mulheres que denunciam violência de gênero. Esta é a época de monções e ciclones em Bangladesh, e os campos estão enfrentando problemas em função das chuvas.
Os refugiados apoiados pela ActionAid, predominantemente mulheres e meninas, afirmam que voltarão voluntariamente para casa somente se tiverem garantia de segurança para si e para suas famílias. A organização defende que o repatriamento dos Rohingya seja informado, voluntário, digno e seguro.
Entre os principais riscos apontados atualmente pelos refugiados, estão: violência doméstica, tráfico de mulheres e meninas, e aumento de casamentos precoces e de abandono parental. Embora não haja dados conclusivos sobre o casamento de meninas, os representantes da ActionAid no campo observam que eles parecem estar crescendo, muito provavelmente relacionados ao aumento da pobreza extrema e da ausência de pais e/ou guardiões do sexo masculino.
São recorrentes os casos de homens abandonando suas famílias, seja em busca de novas parceiras, seja para encontrar trabalho fora dos campos. As mulheres que são deixadas para trás precisam administrar famílias fragilizadas, sozinhas, e enfrentar assédios e ataques. A ActionAid em Bangladesh estima que aproximadamente 60% das mulheres nos campos são mães solteiras.
A organização criou seis espaços destinados às mulheres, locais no acampamento onde apenas elas podem entrar. Lá, encontram um espaço para processar seus traumas, sentirem-se seguras da violência e planejar o futuro. Nesses centros, são oferecidos primeiros socorros psicológicos e aconselhamento individual por pessoas treinadas; há verificação das condições de saúde e encaminhamentos médicos; conscientização e informação sobre a violência de gênero e os riscos de casamentos precoces; além de uma oportunidade para as mulheres socializarem, fazerem amizades e apoiarem-se mutuamente. Mais dois espaços estão atualmente em construção.
Dados sobre a resposta da ActionAid à crise dos Rohingya em Bangladesh:
- Até o momento, a organização alcançou 66.403 refugiados.
- Distribuiu kits de dignidade para 40.466 mulheres e meninas. Eles contêm absorventes, sabonetes, balde, xales, vestido, chinelos, roupas íntimas, desinfetante e uma lanterna, para que elas possam se sentir seguras ao ir ao banheiro à noite.
- Equipou 7.383 famílias com lanternas que funcionam por energia solar.
- Criou seis espaços reservados para mulheres, onde, até o momento, 15.873 foram atendidas.
- Criou 33 comitês de monitoramento liderados por 497 mulheres, para prevenir a violência de gênero.
- Um total de 360 mulheres e adolescentes Rohingya receberam treinamento de costura, com o objetivo de capacitá-las para trabalhos futuros e, consequentemente, geração de renda.
- Apoiou a mudança de 240 famílias para áreas mais seguras do campo, a fim de evitar locais propensos a enchentes.
- Instalou 291 postes solares.
- Instalou 15 estações de serviço de água e saneamento, cada uma com quatro banheiros e dois chuveiros. Metade desses equipamentos é reservado para uso exclusivo por mulheres.
- Além dos citados acima, instalou 45 chuveiros apenas para mulheres e meninas.
- Distribuiu 14.486 cobertores para 7893 famílias.
- Forneceu tendas de abrigo de emergência para 90 famílias.