Combate à fome se faz com políticas públicas, não com doação de sobras
A ActionAid, organização que atua há mais de 20 anos no combate à fome e à injustiça social no Brasil, repudia as recentes declarações públicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, sobre direcionamento de sobras de alimentos às populações vulneráveis como medida de combate à fome. Além de evidenciarem visões perversas e superficiais em relação à pobreza, tais falas tiram do centro do debate as questões de fato essenciais quando o assunto é a grave escalada da insegurança alimentar no país.
“Não é preciso reinventar a roda. Há no Brasil experiências de combate à fome comprovadas e reconhecidas internacionalmente, e o que vimos nos últimos anos foi o desmonte dessas políticas públicas. Não se deve desprezar a importância de buscar soluções para o desperdício de alimentos. Inclusive, já existem políticas relacionadas a isso. O que se espera de um governo é que implemente e coordene planos robustos, não que se questione comportamentos de consumidores”, avalia o economista Francisco Menezes, analista de Políticas e Programas da ActionAid no Brasil.
Dados divulgados pela Rede Penssan com apoio da ActionAid apontam que mais de 19 milhões de pessoas vivenciaram insegurança alimentar grave nos últimos três meses de 2020, mas o cenário já vinha sendo desenhado desde 2018. Portanto, é fundamental reafirmar que a fome no país está ligada a pelo menos cinco aspectos: crescimento da extrema pobreza; desmonte das políticas públicas de segurança alimentar; demolição da estrutura institucional; destruição dos meios de subsistência; alta dos preços dos alimentos básicos aliada à redução do auxílio emergencial.
Não é coerente chamar atenção para a questão do desperdício de alimentos como solução, enquanto continuam sendo enfraquecidas políticas públicas de segurança alimentar como o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa Cisternas e o Programa de Restaurantes Populares; ou após a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA); ou então quando são flexibilizadas medidas de proteção dos meios de subsistência das populações brasileiras. A devastação ambiental que atualmente sofre o Brasil e o negacionismo frente ao problema climático têm direta relação com a fome.
ActionAid no combate à fome
Além do trabalho de longo prazo para fortalecimento da segurança alimentar no país, a ActionAid vem respondendo aos impactos sociais da pandemia em conjunto com organizações parceiras que trabalham para alcançar as comunidades mais vulneráveis. Nos oito primeiros meses da pandemia, a ActionAid apoiou a distribuição de mais de 57 mil cestas de alimentos em 12 estados. Grande parte dessas cestas foram provenientes da agricultura familiar, com alimentos seguros e saudáveis comprados diretamente dos produtores. Mais informações estão disponíveis em www.combateafome.org.br.
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