‘Caos em Gaza afeta as mulheres grávidas de forma catastrófica’, afirma especialista em Gênero e Advocacy da ActionAid
31 de outubro de 2023
Equipes de ação humanitária da ActionAid em Gaza relatam que a ajuda que chega aos poucos está longe de minimizar a crise que se alastra na região. Com mais de 21 mil pessoas feridas e precisando de cuidados urgentes, os caminhões das últimas semanas só entregaram suprimentos médicos suficientes para atender 5 mil feridos. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, a taxa de ocupação nos hospitais ultrapassou os 150%. Nesse contexto, mulheres estão tendo que dar à luz sem anestesia, passando por cesáreas enquanto estão acordadas e sem analgésicos, e há um aumento nos casos de pacientes com febres altas, muitos deles crianças.
“O caos e o horror desencadeados em Gaza estão afetando as mulheres de forma devastadora. As condições nos hospitais são perigosas, cesáreas e cirurgias complexas estão sendo realizadas com apenas a luz de um celular, enquanto médicos realizam procedimentos complexos sob bombardeios. Todos os dias ouvimos falar de mulheres que estão morrendo no parto. É uma catástrofe”, afirma Soraida Hussein-Sabbah, especialista em Gênero e Advocacy da ActionAid baseada em Ramallah.
Mulheres como Khitam, mãe de um recém-nascido e abrigada no Sul de Gaza, estão tendo que fazer jornadas perigosas, uma vez que as ordens de evacuação daqueles que estão no Norte permanecem em vigor e os hospitais continuam enfrentando intensos bombardeios.
“Eu havia dado à luz apenas dois dias antes de os bombardeios e mísseis começarem e a ordem de evacuar as casas ser emitida. Eu estava no pós-parto, tinha acabado de ser liberada do hospital e ainda estava sangrando. Eu carregava [minha filha] e corria sob mísseis até chegarmos a esta escola”, conta Khitam.
A situação dos hospitais em toda a Região Central e Norte de Gaza é particularmente precária, com os hospitais Al-Quds e Al-Shifa sem receber nenhum suprimento de ajuda devido aos conflitos. Com a infraestrutura crítica em toda Gaza danificada ou completamente destruída, a pouca ajuda que consegue atravessar a fronteira não consegue chegar às comunidades mais ao Norte. Al-Shifa, localizado no Norte, já prestou serviços a 5 mil pacientes, apesar de só poder receber 700 e não conseguir receber suprimentos médicos devido às estradas destruídas.
De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), espera-se que uma média de 160 mulheres grávidas deem à luz a cada dia no próximo mês. Com dois terços das clínicas de saúde em Gaza sem funcionar, quase todas terão pouca ou nenhuma disponibilidade de serviços, como cuidados obstétricos de emergência, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Grávida e abrigada em uma escola no Sul de Gaza, Salma relata à ActionAid: “Não há comida suficiente, não há serviços de saúde, não há água e não há eletricidade. As necessidades mais básicas da vida não estão disponíveis aqui. Como uma mulher grávida, temo pelo [meu filho não nascido], pois estou no meu [último] mês [de gravidez]. Às vezes me privo de água para dar aos meus filhos.”
De acordo com o Ministério da Saúde da Palestina, dos 8.525 palestinos mortos desde 7 de outubro, 3.542 eram crianças e 2.187 eram mulheres.
Soraida Hussein-Sabbah ainda afirma:
“A morte de milhares em toda Gaza é uma tragédia completa. Mulheres sobreviventes que perderam entes queridos, inclusive crianças, estão mostrando uma incrível resiliência para manter suas famílias e comunidades de pé – mas elas não podem fazer isso sozinhas e sob um trauma tão imenso, enquanto nenhum lugar é seguro para se abrigar”.
Suas palavras são ecoadas por outro membro da equipe da ActionAid em Gaza, que teme pela segurança de sua família:
“Nos sentimos impotentes olhando nos olhos de nossos filhos, não podemos aliviar suas preocupações. Não podemos dizer ‘vai ficar tudo bem’ ou ‘você está seguro’. Na verdade, não há lugar seguro aqui em Gaza. Só queremos que essa guerra pare imediatamente. Pedimos que o derramamento de sangue pare. Meu maior desejo agora é voltar para casa, dormir na minha própria cama e usar meu próprio banheiro. Isso é tudo o que quero.”
Sobre a ActionAid
A ActionAid é uma organização global que trabalha com mais de 41 milhões de pessoas que vivem em mais de 71 dos países mais pobres do mundo. Queremos ver um mundo justo, equitativo e sustentável, no qual todos desfrutem do direito a uma vida com dignidade e livre da pobreza e da opressão. Trabalhamos para alcançar justiça social, igualdade de gênero e erradicar a pobreza.
Para mais informações, imagens e solicitações de entrevistas:
assessoria.imprensa@actionaid.org