ActionAid lança no Brasil apelo para ajudar vítimas da fome no Chifre da África
Organização alerta para subfinanciamento da crise; segundo a ONU, há apenas R$ 65 disponíveis para cada pessoa em necessidade na Somália
A organização internacional de combate à pobreza ActionAid lança no Brasil nesta sexta-feira um apelo de emergência para ajudar as vítimas da fome em decorrência da seca prolongada em Etiópia, Quênia e Somália. São aceitas doações de qualquer valor a partir de R$ 20. A quantia arrecadada será usada para a distribuição de água potável e alimentos, como arroz, farinha, açúcar e óleo, para as pessoas que mais precisam. Segundo as estimativas da Organização das Nações Unidas, já são mais de 16 milhões de pessoas em necessidade urgente de alimentos na região conhecida como Chifre da África.
As doações podem ser feitas online, pelo link: https://seguro.actionaid.org.br/SecaNaAfrica/peoplehttps://seguro.actionaid.org.br/SecaNaAfrica/people
A ONU estima ainda que sejam necessários U$S 1,9 bilhão para lidar com esta crise gerada pela estiagem prolongada, que tem levado à falência de colheitas e morte de gado, fazendo com que as famílias vendam seus poucos ativos remanescentes, como os animais sobreviventes, e abandonem suas casas em busca de comida e água. Apesar dos seguidos alertas por parte das Nações Unidas e das organizações que atuam nesses países, a ajuda que chegou até agora por parte da comunidade internacional é insuficiente. O apelo para a Somália em 2017 recebeu R$ 422, 4 milhões dos países doadores – apenas 11% do que a ONU solicitou. Há 6,2 milhões de somalis em grave necessidade de ajuda alimentar, o que significa que há apenas R$ 65 para cada pessoa nesta situação – muito abaixo da soma necessária para tratar um paciente com cólera ou alimentar um cidadão durante os meses de crise que estão por vir.
Ifrah Mohammed, de 30 anos, é uma das pessoas assistidas pela ActionAid na Somalilândia. Quando a organização chegou até ela, Ifrah, que tem um bebê de um mês, além de outros filhos, estava com dificuldade de amamentar, pois se sentia muito fraca, devido à falta de comida.
“Meu marido está com o resto do gado procurando comida e água. Estou com medo de perder nossos filhos, eles estão ficando cada vez mais fracos. De manhã, eu os alimento com farinha e mingau”, relata ela, cuja família possuía 50 camelos, todos agora mortos.
Para o coordenador de Resposta Humanitária da ActionAid, Myke Noyes, o mundo corre o risco de cometer os mesmos erros de 2011, quando a fome matou 250 mil pessoas só na Somália:
“A fome e as doenças em decorrência da seca são ameaças concretas para as vidas de inúmeras pessoas que, pelo ritmo da ajuda internacional, podem morrer antes que o financiamento comece a chegar. A resposta da ajuda internacional foi lamentavelmente pequena até agora. R$ 65 por pessoa é desesperadoramente pouco diante do que é necessário para alimentar os seis milhões de somalis que estão passando fome. Em 2011, crianças morreram na frente de suas mães, enquanto a comunidade internacional hesitou. Isso não pode acontecer novamente. Se quisermos salvar vidas, o mundo deve agir antes que seja tarde demais”, alerta Noyes.
A ActionAid também alerta que, na Somalilândia e no Quênia, mulheres e meninas já experimentam impactos devastadores desta crise, incluindo a violência e a exploração sexual. Na Somalilândia, onde 80% dos animais morreram como resultado da seca, a ActionAid tem relatos de mulheres passando por situações extremas, como mães com acesso a apenas uma refeição por dia, e crianças deslocadas e desacompanhadas na busca por comida. Além disso, há relatos sobre aumento da violência sexual, à medida em que as mulheres e as meninas passam a andar longas distâncias em busca de água.
No Quênia, onde 2,7 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária devido à seca, a ActionAid registrou mulheres e meninas caminhando até 70% mais que o normal em busca de água, com algumas, não raro, percorrendo mais de nove quilômetros de distância. Na Etiópia, a organização não tem relatos de aumento da violência ou exploração sexual, mas está seriamente preocupada com a saúde de crianças e mulheres grávidas. Há 5,6 milhões de pessoas que precisam urgentemente de ajuda alimentar no país e uma recente avaliação conduzida pelo governo indicou que havia três milhões de mães e crianças com menos de cinco anos que estavam agudamente desnutridas.
O QUE A ACTIONAID JÁ ESTÁ FAZENDO
Até o momento, 95 mil pessoas, incluindo crianças, receberam da ActionAid no Quênia alimentos, como farinha, arroz, feijão e óleo. Além disso, a organização está atuando para reabilitar fontes de água e apoiando mulheres em áreas afetadas pela seca para exigir a proteção de seus direitos nos planos de resposta do governo.
Na Somália, onde a organização trabalha na região da Somalilândia, já foram distribuídos seis mil toneladas de alimentos e milhares de litros de água, alcançando mais de 13 mil pessoas. Ali, a ActionAid também está apoiando mulheres nas comunidades para liderar a distribuição de ajuda e monitorar sua eficácia. Na Etiópia, a ajuda promovida pela organização começou a chegar esta semana e inclui a distribuição de água potável, milho e óleo. Assim como nos outros dois países, a ActionAid está atuando junto às mulheres para que elas participem dos comitês de monitoramento da eficácia da resposta humanitária.