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Com aumento da sobrecarga de trabalho doméstico para mulheres na pandemia, ActionAid retoma campanha pela divisão justa
Com aumento da sobrecarga de trabalho doméstico para mulheres na pandemia, ActionAid retoma campanha pela divisão justa
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) que revela o aumento da desigualdade na divisão sexual do trabalho doméstico no Brasil, numa escalada que já vem acontecendo há anos. De acordo com o levantamento, a jornada da mulher nos serviços de casa é 10h24m superior à do homem por semana, é quase o dobro.
Nós, da ActionAid, em nosso trabalho por igualdade de gênero, superação da pobreza e justiça social em 43 países, há anos atuamos contra essa divisão injusta do trabalho doméstico, alertando sobre a necessidade do olhar atento desses números e suas consequências. Neste momento de pandemia, em que as mulheres fazem parte dos grupos mais afetados, sobrecarregadas tanto na linha de frente do combate ao coronavírus quanto em suas próprias casas, é fundamental aprofundar o debate e defender medidas que garantam a proteção e vida digna dessas mulheres.
Por isso, a ActionAid junto a 11 parceiras, como Casa da Mulher do Nordeste e Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, além de organizações que compõem a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, retomaram a Campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, que visa a levar mensagens de divisão justa e de vida livre de violência para as mulheres impactadas por suas ações, especialmente em áreas rurais e mais vulneráveis. O mote da campanha é “Ficar em casa é questão de saúde. Dividir tarefas e viver sem violência também”, tema do bate-papo virtual que marcou o lançamento, realizado no YouTube, e que pode ser assistido aqui.
Nossa assessora de Direitos das Mulheres, Claudia Dias, comenta a importância do tema:
Historicamente, a materialização dos cuidados com as tarefas domésticas e com os dependentes vem sendo estrutural, cultural e socialmente atribuída a nós, mulheres. É um ‘trabalho invisível’, pouco reconhecido ou valorizado. Agora, diante da escalada de uma tragédia sanitária e econômica, essa sobrecarga em relação aos homens se escancara e coloca mães, avós, trabalhadoras informais, enfermeiras e tantas de nós na linha de frente tanto do combate ao vírus quanto dos seus impactos.
De acordo com a Pnad, desde 2016, o tempo dedicado pelos homens ao trabalho doméstico se mantém em 11h. Há 4 anos, no entanto, a diferença de horas dedicadas entre homens e mulheres era de 9h54. Em 2019, subiu para 10h24. No Brasil, ainda segundo a pesquisa, 92% da população feminina de 14 anos ou mais realizam afazeres domésticos, enquanto 78,5% da população masculina se encarregam dessas atividades. O relatório “Quem cuida do futuro” , publicado este ano pela ActionAid, também aponta números nesse sentido: mulheres e meninas desempenham ¾ do trabalho doméstico e dos cuidados não remunerados no mundo inteiro.
Claudia ressalta ainda a urgência de haver uma resposta à crise com olhar para as necessidades das mulheres, tanto as emergenciais quanto de longo prazo:
Os agravados reflexos dessa divisão injusta do trabalho doméstico vão bem além dos físicos e emocionais. Com postos de trabalho extintos, escolas fechadas e serviços públicos paralisados ou voltados ao combate da pandemia, as mulheres ficaram não somente ainda mais sobrecarregadas, mas sem condições de suprir as necessidades de suas famílias. As mulheres estão na posição mais baixa da pirâmide econômica: têm rendimentos mais baixos; vínculos empregatícios mais precarizados, compõem a maior parcela do mercado informal e correm mais risco de perderem seus empregos na pandemia, principalmente as mulheres negras. Nesse contexto, as moradoras de favelas, periferias e comunidades pobres, além de indígenas e quilombolas, são as mais vulneráveis.
Entre as próximas ações da Campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico está a distribuição de uma série de materiais de comunicação em comunidades rurais e urbanas, principalmente na região Nordeste, para conscientizar mulheres e famílias sobre a importância da divisão justa de tarefas, além de alertar para abusos e formas de prevenir e denunciar a violência doméstica.
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