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Abraçar novas ideias: participantes do Mão na Massa se inspiram com a agricultura sustentável no agreste paraibano
Abraçar novas ideias: participantes do Mão na Massa se inspiram com a agricultura sustentável no agreste paraibano
Inovação, criatividade, colaboração. Foram iniciativas nesse sentido que 11 doadores viram de perto durante o sétimo evento Mão na Massa, em novembro deste ano, no agreste da Paraíba. Em dois dias de atividades, o grupo visitou regiões beneficiadas com a parceria entre ActionAid e a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia no semiárido, onde conheceu o trabalho realizado em temas como acesso à água, preservação de sementes nativas e fortalecimento da autonomia das mulheres. A “missão” do grupo era a construção de uma cisterna para os moradores, mas ao final da viagem a experiência foi muito maior.
“Me emocionei desde o início e sigo emocionada. Me arrepia ver todo um trabalho maravilhoso de agroecologia sendo realizado, ver a força das mulheres, dos jovens. Me comove ver pessoas de todas as idades que estão aqui lidando com a falta de água e fazendo a diferença, com comida orgânica e alimentação saudável. Eu não imaginava que minha contribuição mensal tinha um impacto tão grande nas comunidades”, contou a paulista Marciana Lopes, de 60 anos, em sua estreia no Mão na Massa.
Já no primeiro dia de atividades, no município de Queimadas, o grupo – formado por nove mulheres e dois homens entre 36 e 60 anos, vindos de cinco estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Paraná e Rio Grande do Sul) – foi convidado a participar de um “carrossel de experiências”: um passeio por cinco barracas expositivas divididas por temas de trabalho. Entre pausas para lanches e almoço com alimentos agroecológicos, puderam ouvir dos próprios moradores sobre as tecnologias sociais utilizadas para lidar com a falta de água, ações colaborativas para preservar as sementes e raças de animais nativas ou mais adaptadas à região, a organização da comunidade para combater a violência contra as mulheres e as formas como as crianças e jovens começam já desde cedo a aprender o valor do respeito à natureza para o desenvolvimento rural sustentável.
O Território da Borborema, onde ficam as comunidades visitadas, está numa área semiárida. O Semiárido Brasileiro concentra 750 dos mil municípios de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e dois terços dos pobres rurais do Brasil (IBGE, 2006). Para superar essa realidade, a AS-PTA assessora há 25 anos – sendo 20 desses em parceria com a ActionAid – redes de inovação agroecológica que articulam mais de cinco mil famílias agricultoras na região. Com esse apoio, as famílias podem, por exemplo, adotar a agricultura sustentável e implantar cisternas, sistemas de irrigação e bancos de sementes.
Após o dia de “carrossel”, os doadores entenderam, por exemplo, que no semiárido a evaporação é maior e mais rápida do que a precipitação de água, que é concentrada em determinadas épocas do ano, por isso é fundamental não desperdiçar essa oferta natural de água, o que demanda reservatórios capazes de armazená-la. Também que a falta de chuvas ainda afeta a produção de milhares de famílias. Sabiam, portanto, da importância daquela cisterna de 16 mil litros que finalizariam no município de Esperança. As cisternas de placa, como são chamadas, são feitas de placas de cimento, fáceis de limpar, resistentes à ação do tempo, adaptadas ao calor do bioma e aptas a deixarem a água sempre fresca.
É esse armazenamento e sua gestão racional que vão garantir a produção agrícola e animal, e promover a segurança alimentar dos moradores. O programa de construção de cisternas coletoras da água da chuva para a convivência com o semiárido é uma inovação das organizações da sociedade civil e que ganhou escala ao se transformar em política pública nacional. Em 2017 ganhou prêmio de Política do Futuro da ONU de melhor iniciativa de combate à desertificação e está presente na região e a AS-PTA, com apoio da ActionAid, administra e implementa suas ações.
Ciente dessa responsabilidade, o grupo madrugou e encarou mais um dia intenso, com direito a apresentação musical das crianças da região, muito bate-papo, além de alimentação agroecológica reforçada para dar energia para carregar enxadas e sacos de cimento, cortar e organizar placas, instalar a calha, etc.
Lá, inclusive, todos conheceram dona Ligória, moradora da região retratada na nova campanha da ActionAid. E, em algumas horas, estava pronta a cisterna que beneficiará cerca de 130 pessoas. Para encerrar a programação, os doadores visitaram a sede da AS-PTA e conheceram a equipe, até mesmo quem organiza as cartinhas das crianças apadrinhadas.
Gestora de Captação de Recursos da organização, Renata Couto falou sobre a ideia por trás de ações como o Mão na Massa:
Ao longo desses 20 anos, a ActionAid aprendeu que as pessoas em situação de pobreza precisam de oportunidades de desenvolvimento. E é dessa forma que a organização trabalha, junto com as comunidades, por meio de metodologias participativas, para construir soluções coletivas que tragam mudanças. O Mão na Massa fornece aos participantes uma visão ampla de todo esse trabalho realizado junto às famílias que apoiamos. A finalização da obra pelos doadores representa, simbolicamente, a concretização de uma rede de solidariedade que viabiliza os projetos locais apoiados pela ActionAid.
“Uma das coisas mais bacanas para mim é ver essa mistura de sotaques, essa mistura de culturas e costumes. É muito gratificante fazer parte dessa rede”, contou o baiano José Augusto de Oliveira, que vive em Brasília e que participou da edição do Mão na Massa 2015, na aldeia indígena Xakriabá, em Minas Gerais no projeto da ActionAid em parceria com o CTA-ZM.
Já a psicóloga paulistana Fernanda Muffato, de 37 anos, participou pela primeira vez e adorou a experiência:
Estar aqui e ter esse diálogo, essa troca de olhares e de carinho, foi muito importante para estourar minha própria bolha. Mesmo distantes geograficamente, estamos juntos na vontade de fazer dar certo,
Mas não foram só os doadores que esperaram ansiosos por esse encontro, como contou o agricultor e estudante de biologia Mateus Nascimento, responsável por comissões de agroecologia:
Foi um momento ímpar. Pude mostrar o quanto jovens como eu estão conquistando oportunidades e gerando conhecimento no campo. É algo que está transformando vidas, e é muito gratificante mostrar isso diretamente para aqueles que fazem parte financiando o nosso trabalho.
Integrante da Coordenação da AS-PTA na Paraíba, Manoel Roberval da Silva ressalta a grande celebração que foi o encontro: “Fiquei muito feliz em compartilhar as experiências e os avanços obtidos, e também com o respeito e carinho dos visitantes pelo lugar e pela forma de vida das pessoas. A gente sentiu isso e as comunidades também. Aquele sentimento que antes era de expectativa virou algo muito bonito”.
Vale ressaltar que não foram somente abraços apertados, muito conhecimento, quebras de estereótipos e belas memórias que os doadores levaram para casa. Regina de Mendonça, por exemplo, ganhou de presente algumas mudas que prometeu plantar no Distrito Federal, enquanto José guardou carinhosamente as “sementes da paixão”, como são chamadas as sementes nativas da região. Já na mala de Marciana, couberam até folhas de palmas, que ela pretende plantar no sítio onde mora no interior de São Paulo. Isso sem falar nos quitutes nordestinos … Que venha o próximo Mão na Massa!
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