Conheça a história de Dona Ligória
Há sete anos, o quintal de Dona Ligória dos Santos era “só mato” na maioria dos meses. Ela plantava, mas não colhia. Lamentava ao ver a chuva cair e não ter onde armazenar água para os frequentes períodos de seca na comunidade em que vive, no interior da Paraíba. Sem água, quase tudo faltava para Ligória e sua família: não tinha o que beber, era difícil cozinhar e praticamente impossível regar sua horta, única fonte de renda além dos bicos do marido como servente de obras.
Dona Ligória abre sua casa em nosso novo vídeo. Assista.
Mas a vida mudou com a chegada de uma cisterna e a possibilidade de aprimorar seus saberes sobre a terra. Hoje, aos 50 anos, Ligória enche o peito de orgulho para dizer que a comida de qualidade que lhe nutre e gera renda vem de seu quintal agroecológico – sem utilizar agrotóxicos e fazendo uso adequado da água e do solo, em harmonia com o meio ambiente.
Antes de a ActionAid chegar era bem difícil. Faltava água e comida para nós e para os animais, não tinha como produzir. Agora, temos água o ano todo, conseguimos estocar as sementes para plantar ao longo dos meses e aproveitar melhor o solo. Hoje tenho de tudo no meu quintal: pimentão, milho, alface, ervas medicinais, alecrim, manjericão, capim-santo, erva-cidreira, frutas, etc. O que eu produzo eu vendo, troco, até faço doação. Todo mundo quer porque é puro, não tem veneno. É muito bom porque não falta meu trocadinho e isso já é o bastante para garantir o pão, o leite, o lanche para minha neta levar para a escola todo dia. Isso é muito gratificante.
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Ligória mora com o marido, Itamar, que hoje também ajuda na plantação, e a neta Keysse, de 5 anos. O município em que vivem tem cerca de 33 mil habitantes e, na falta de emprego, sua única filha foi morar em outra cidade, onde vive até hoje. Ligória, Itamar e Keysse estão entre as 5 mil famílias do Pólo da Borborema (abrangendo 13 municípios do agreste paraibano) que contam com apoio da AS-PTA, associação parceira da ActionAid no Brasil que atua para o fortalecimento da agricultura familiar e para a promoção do desenvolvimento rural sustentável.
A agricultora conta com assessoria técnica para melhorar as formas de produção e garantir alimentos diversos o ano todo, além de encontros sobre direitos das mulheres. Para a avó, mais autonomia e geração de renda; para a menina, uma vida segura e saudável para poder se dedicar à escola e brincar.
A mudança foi grande. Hoje é mais fácil superar as dificuldades porque participamos também desses grupos, buscamos mais sabedoria para a comunidade. Os técnicos vêm sempre e nos orientam no dia a dia. Antes, eu não me preocupava em deixar plástico espalhado nos roçados, por exemplo. Hoje não deixo porque sei que vai levar muito tempo para desmanchar. Aprendi a juntar o lixo e queimar. Aprendi que devo ir mudando as plantas de lugar, e o que devo plantar para fazer sombra natural nas hortaliças. Gosto de deixar tudo bonito. As macaxeiras ficam arrumadinhas, formando um monte ondinhas. Fica parecendo um mar.
Intercâmbios de conhecimento com outras comunidades e encontros com mulheres também são pontos importantes de mudança na vida de Ligória. Ao encontrar agricultores de outras regiões, ela aprende práticas novas e também ensina o que sabe. Já nos grupos com mulheres, discute sobre temas diversos, que vão de formas de superar a violência doméstica a como administrar a casa, ou manter o banco de sementes da comunidade. “Posso dizer que primeiro aprendi a engatinhar, depois levantei e hoje estou aqui de pé. Firme e forte. Eu que administro tudo aqui em casa. E sinto muito orgulho disso”.