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Saiba como foi o webinar de lançamento do ‘Meninas em Movimento”, novo projeto da ActionAid, com patrocínio da Petrobras
Saiba como foi o webinar de lançamento do ‘Meninas em Movimento”, novo projeto da ActionAid, com patrocínio da Petrobras
“Vamos empoderar essas jovens para que elas possam multiplicar o conhecimento”. A chamada para ação é de Ana Paula Brandão, diretora programática da ActionAid, uma das participantes do webinar de lançamento do projeto “Meninas em Movimento”, realizado no dia 27 de outubro. O objetivo da iniciativa, patrocinada pela Petrobras, é garantir os direitos de crianças e adolescentes e enfrentar a violência sexual, promovendo equidade de gênero e igualdade étnico-racial no Recife e no litoral sul de Pernambuco.
O projeto, com duração de dois anos, é parte do Programa Petrobras Socioambiental, em parceria com as organizações Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e Etapas. Além de Ana Paula, o evento on-line teve a participação de Vinicios da Silveira Mousinho, da Petrobras; de Tricia Calmon, da ActionAid; da pedagoga e escritora Caroline Arcari, presidente do Instituto Cores e especialista em educação sexual; de Nivete Azevedo, do CMC; Isabela Valença, da Etapas, e Anabelly Brederodes, da CMN.
Vinicios da Silveira Mousinho, coordenador de Responsabilidade Social da gerência de Relacionamento Comunitário Norte/Nordeste da Petrobras, situou a importância do projeto para a empresa:
‘Meninas em Movimento’ vem com a proposta de fortalecer a rede de proteção, essa temática tão relevante e tão sensível em todo o país e não só em Pernambuco. Reforçamos a importância das parcerias, o projeto precisa delas fortalecidas. Vamos construir junto com as comunidades iniciativas territoriais para ajudar a alcançar o êxito que buscamos.
Ana Paula Brandão apresentou a iniciativa em linhas gerais, seu objetivo e as organizações envolvidas, todas parceiras de longa data da ActionAid:
O nome ‘Meninas em Movimento’ é sugestivo e diz respeito a uma não permanência. Queremos que meninas e mulheres alcançadas pela iniciativa se movimentem. O objetivo é que elas tomem as rédeas das suas vidas. Nossa missão é uma vida livre de violência.
O enfrentamento à violência sexual contra meninas, adolescentes e mulheres já era um tema sensível e complexo o suficiente em 2018, quando o projeto começou a ser elaborado. Como ressalta Ana Paula, a pandemia veio torná-lo ainda mais necessário:
É importante fortalecer a comunidade para o entendimento do problema. A rede de proteção precisa ser acionada. É para todo mundo estar junto e oferecer soluções. Por isso ‘Meninas em Movimento’ foi feito a várias mãos e tem diferentes linhas de comunicação.
Há 23 anos no Brasil, a ActionAid segue uma política internacional de proteção à criança e ao adolescente. Ana Paula destaca que o abuso sexual no país tem a ver com o grande desequilíbrio de poder:
“O abuso atinge muito mais as crianças negras e indígenas, porque está ligado ao patriarcado e ao desequilíbrio econômico. Precisamos finalizar isso.”
Tricia Calmon, especialista em Monitoramento e Projetos da ActionAid. e mediadora do webinar, acrescenta:
O desafio não é pequeno nem é novo. É um tema muito delicado. Formas inovadoras de lidar com ele precisam ser construídas.
Para inspirar os participantes e reforçar a importância do projeto, Caroline Arcari, autora do premiado livro infantil Pipo e Fifi, falou sobre prevenção à violência sexual contra crianças e adolescentes:
Há muitos mitos que precisamos desconstruir em relação a essa temática. Durante a pandemia, as situações de violência se agravaram. Temos sempre que lembrar que estamos em um mundo ‘adultocêntrico’. O que faz toda diferença na ação é fazermos o exercício da escuta. E não é só ouvir. É acolher. Crianças e adolescentes têm voz. Não nos cabe dar voz a eles. O que nos cabe é não interditar. A nossa responsabilidade como adultos é na mediação.
Caroline chama a atenção para o abuso dentro do contexto familiar:
“Dados mostram que 75% a 80% dos casos de abuso acontecem no ambiente da família. E meninas negras são as que mais aparecem nas estatísticas. A criança precisa se sentir dona do seu corpo. Isso é autoproteção”, diz a pedagoga, ressaltando que autoproteção não é ação isolada e não existe sem uma estrutura comunitária, ou seja, sem políticas públicas e ações sociais. É preciso ter canais de denúncia; oferecer acesso à terapia; apoiar as vítimas secundárias, como a família: “Assim como educamos a criança para se proteger no trânsito, a autoproteção pode ser positiva. Temos que falar do corpo de maneira saudável, de quem pode e não pode tocar, de todos os abraços que a criança pode ter, de fazer com ela entenda que tem direitos. E não há autoproteção se não combatermos também o racismo, a misoginia, a homofobia.”
Nivete Azevedo, do CMC, destacou os 37 anos de atuação da organização no enfrentamento da violência de gênero que atinge crianças e adolescentes: “Temos uma caminhada longa nessa área, e a ActionAid é parceira nossa de mais de 20 anos”. Ela pontua a complexidade da região do Cabo de Santo Agostinho, litoral do estado, onde o “Meninas em Movimento” atuará em cinco territórios:
O progresso tem impacto direto no modo de vida dessa comunidade. A violência sexual é muito complexa, sutil às vezes, em uma relação dominada pelo machismo, pelo racismo estrutural, que vem junto com esse projeto de modernidade.
Para Nivete, o Porto de Suape trouxe uma convivência com a violência sexual na região:
“Temos uma geração de crianças que são filhos e filhas de outras crianças. Os dados não são toleráveis. Em 2016, 30% dos recém-nascidos eram filhos de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. Meninas que perderam sua infância, que tiveram sua vida comprometida. Faltou e falta rede de proteção para essas meninas, falta a ação efetiva da sociedade como um todo. Direitos de crianças e adolescentes é dever de todos e de todas. ‘Meninas em Movimento’ nos traz a oportunidade de trabalhar nessas áreas”.
Isabela Valença, da Etapas, organização que atua há 39 anos no Recife, fala do principal território de atuação do “Meninas em Movimento” na capital pernambucana:
O Ibura é o terceiro maior bairro da capital, conhecido pelos altos índices de violência, deslizamentos e alagamentos. É distante do Centro, mas tem um histórico de lutas e efervescência cultural grande, que carece de apoio e investimento. As meninas do Ibura convivem com a ausência de direitos, de infraestrutura urbana, de serviços de saúde. Elas vivem em um território estigmatizado. O índice de gravidez precoce é alto. Elas não percebem o que é violência porque nunca viveram algo diferente, assim como suas mães.
Para Isabela, o projeto chega num momento em que as pessoas estão mais fragilizadas por causa da pandemia: “Temos que apresentar saídas. ‘Meninas em Movimento’ traz comunicação, que é o que estimula os jovens hoje, assim como a possibilidade de intercâmbio, de as meninas conhecerem outras realidades.”
Representando a Casa da Mulher do Nordeste, que há 41 anos atua no combate à desigualdade em Pernambuco, Anabelly Brederodes contextualizou o bairro do Passarinho, território da CMN no projeto “Meninas em Movimento”:
Passarinho fica entre dois municípios, o que dificulta muito as políticas públicas. É um bairro predominantemente de mulheres negras, um quilombo urbano. Em 2019 houve o acréscimo de 500 famílias em conjuntos habitacionais. A Unidade Básica de Saúde não dá conta do inchaço populacional. É difícil sair da comunidade, não há transporte público, não há acesso a esporte e lazer, que são ferramentas para conhecer nosso corpo. Não tem uma praça pública, um espaço de sociabilidade. Com o ‘Meninas em Movimento’ esperamos fortalecer a rede de proteção.
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