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Projeto Meninas em Movimento abre portas da ciência para adolescentes de Passarinho
Projeto Meninas em Movimento abre portas da ciência para adolescentes de Passarinho
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Micaella Pereira
A conclusão do Projeto Meninas em Movimento em sete territórios pernambucanos marca o início de um novo ciclo para adolescentes de Passarinho, no Recife. Após dois anos de atividades de fortalecimento de jovens e crianças no enfrentamento ao abuso e à violência, as 30 participantes da comunidade tiveram um encontro especial para marcar o encerramento do projeto e o clima de despedida deu lugar à esperança de novos horizontes.
No encontro, realizado no dia 19 de julho, as jovens falaram sobre como o projeto mudou suas vidas, seus planos para o futuro, quais os medos que fazem com que não alcancem seus sonhos, com quem podem contar para realizá-los e quem vão ser as aliadas de que precisam.
Após os momentos de reflexão e compartilhamento entre elas, as meninas tiveram a oportunidade de conhecer as instalações do IAM, sede da Fiocruz-PE, localizada dentro do campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A visita foi o ponto alto da dinâmica realizada por Anabelly Brederodes, educadora social da CMN, que aplicou com as participantes uma metodologia que ela chamou de “Pensando o Futuro”.
“A ideia é que elas vejam que, para além do projeto, existe uma gama de possibilidades, e uma delas é entrar na universidade, pesquisar, fazer ciência. Por isso, a gente vai ter várias oficinas e diálogos, com o intuito de estimular as meninas para esse mundo”, comentou Anabelly.
Dentro dessa proposta, a visita ao IAM contou com um passeio por diversos departamentos e laboratórios, tais como o de Microbiologia, o de Parasitologia, o de Imunologia, o de Virologia e o de Entomologia, onde puderam conhecer pesquisadores e ver de perto os trabalhos que fazem em cada local. Elas também participaram de uma conversa sobre vestibular e políticas de cotas e de assistência estudantil e ainda visitaram o Núcleo de Plataformas Tecnológicas (NPT) da Fiocruz-PE.
A visita marcou o início de um novo ciclo para o grupo de 30 adolescentes. Elas foram selecionadas para participar do Meninas e Mulheres em Movimento para a Ciência, uma iniciativa fruto de uma parceria entre a Casa da Mulher do Nordeste (CMN) e o Instituto Aggeu Magalhães (IAM), a partir do edital nacional Mais Meninas na Fiocruz 2023.
De acordo com Tatiany Romão, pesquisadora da Fiocruz-PE e doutora em biologia molecular, além de coordenadora da iniciativa, haverá um encontro no qual as meninas trarão problemas vivenciados na comunidade e serão incentivadas e auxiliadas a pensar cientificamente em como investigar, entender e solucionar as questões relatadas. A intenção do novo projeto, segundo ela, é plantar a sementinha do conhecimento científico e tornar esse ambiente acessível.
“A gente quer ser uma ponte para trazer essas meninas para cá. Às vezes, tem uma menina que topa uma bioestatística, uma que topa estudo de saúde coletiva, outra que topa a área de biotecnologia. E, além de ser essa ponte, a gente quer mostrar a elas que ciência existe e pode ser colocada em prática na realidade de todo mundo, independente de classe social e étnica. A ciência está permeando a vida da gente”
Conhecer a realidade de como funciona o trabalho dentro do Instituto Aggeu Magalhães causou impacto na trancista Dabnny Steffany, de 18 anos. Isso porque ela conseguiu nota para passar no curso de Biomedicina, na última edição do Enem, mas desistiu.
“Eu não fazia ideia do que era o curso. Se eu tivesse vindo antes aqui, eu teria metido a cara e ido para a faculdade, pois acabei gostando muito. Uma das meninas que estavam mostrando as instalações para a gente falou que cursava Biomedicina. Com a visita de hoje, fiquei muito interessada, agora me senti um pouco arrependida de ter me sentido insegura. Mas é a vida, né? Altos e baixos”
, relata ela, que desde pequena sonha ser veterinária e que vai tentar essa carreira ou Zootecnia no próximo ano.
As escolhas profissionais das adolescentes giram, em grande parte, ao redor de áreas que prestam serviço de apoio às pessoas, como enfermagem, fisioterapia e advocacia, por exemplo. “Acabei aprendendo a ter o poder da minha própria voz, porque eu era muito vergonhosa, e, hoje em dia, consigo me expressar mais, conversar mais com as pessoas. O que mais me marcou no projeto foi o acolhimento durante as caminhadas e visitas que fizemos às escolas”, complementou Dabnny, que considera fazer Ciências Sociais, inspirada pela formação de Anabelly.
Isso é fruto também do acolhimento que as meninas receberam e que tanto fez diferença na vida delas ao longo do projeto. Alessandra Izabel, de 18 anos, se considerava uma pessoa “difícil” antes de entrar no Meninas em Movimento, onde, segundo ela, aprendeu a escutar a opinião das pessoas.
“Aprendi muito com as meninas e com Anabelly. O projeto me fez ser uma pessoa melhor até na forma de pensar e de agir, principalmente. Eu também tinha muitos problemas dentro de casa e quando eu ia pra lá, esquecia tudo. Aprendi a me comunicar mais, apesar de ter vergonha, aprendi a me amar mais, a me colocar mais para cima”, conta ela, que vai fazer o Enem no próximo ano. “Eu pensava que não queria, mas quero, é uma oportunidade. Essa visita está sendo uma experiência boa, a gente está vendo aqui muitas coisas que eu nem imaginava que existiam, acho que vou querer fazer ciências”, complementa Alessandra, que pensa em estudar Odontologia ou Fisioterapia.
Esse cuidado com o outro, representado na maioria das escolhas de profissão das meninas, ganhou um novo sentido com a visita ao Aggeu. A bióloga Katherine Aquino, que é doutoranda em Biotecnologia e integra a equipe do Meninas e Mulheres em Movimento para a Ciência, tenta desmistificar o perfil do cientista.
“A gente tem uma ideia de que o cientista é uma pessoa genial, algo quase fora da realidade, muito especial, quando não é, a gente é tudo normal, não tem nada de muito especial, apenas a curiosidade e a persistência em aprender e entender como as coisas funcionam”.
O Meninas em Movimento é um projeto da ActionAid em parceria com Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e Etapas, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Ao longo de dois anos, o projeto atuou em sete territórios de três municípios pernambucanos: Ibura e Passarinho, no Recife; Vila Califórnia, em Ipojuca; e Engenho Massangana, Serraria, Gaibu, Vila Suape e Vila Nova Claudete, no Cabo de Santo Agostinho, buscando sensibilizar, fortalecer e mobilizar as comunidades para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Foram mais de 16 mil pessoas impactadas na região por esse projeto.
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