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O fim da violência contra as mulheres do campo e o combate às mudanças climáticas
O fim da violência contra as mulheres do campo e o combate às mudanças climáticas
O dia 25 de novembro é o Dia Internacional de Combate à Violência de Gênero e, também, o início de uma campanha que existe desde 1991, chamada “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher”. A cada ano, a campanha levanta um novo tema relacionado à violência de gênero para fortalecer a conscientização da sociedade durante os 16 dias entre 25 de novembro e 10 de dezembro, o Dia Mundial dos Direitos Humanos. Em 2019, o tema é a violência contra a mulher no mundo do trabalho.
Como uma organização pela superação da pobreza que possui grande atuação em áreas rurais, nós, da ActionAid, queremos “ligar os pontos” entre diferentes dados da realidade e tratar da violência sofrida pelas mulheres trabalhadoras do campo, identificando elementos para pensar como essa violência impacta a vida de todos nós.
O Brasil é um dos países com maior número de conflitos no campo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, organização que compila dados sobre o tema há mais de quatro décadas, mais de um milhão de pessoas estiveram envolvidas em conflitos em 2018. Os dados revelam também que somente no ano passado 482 mulheres foram vítimas de violência em decorrência desses conflitos, um aumento de 377% em relação a 2017. São ameaças verbais, agressões físicas e até assassinatos devido a disputas por terra, água e pelos meios e condições de trabalho ou produção entre grandes projetos ou agropecuária industrial e comunidades tradicionais de agricultura camponesa. “Elas, ao verem destruído o local de sua habitação e trabalho, carregam consigo a dor e a angústia das crianças que estão sob sua responsabilidade”, afirma o relatório.
Só entre 2017 e 2018, foi um aumento de 40% no número de conflitos por água, chegando a envolver mais de 35 mil famílias – ou cerca de 177 mil pessoas. O cuidado com a água em comunidades rurais é muitas vezes considerado papel das mulheres, que caminham grandes distâncias para encontrar as fontes hídricas e abastecer a família.
Esses conflitos não só as afetam diretamente, impedindo seu acesso aos recursos naturais, como também sua situação se torna ainda mais precária com a degradação ambiental resultantes de desmatamento e da atividade agropecuária industrial. Segundo dados da 7ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), divulgados no início do mês pelo Observatório do Clima, o desmatamento é responsável por 44% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Junto com a atividade agropecuária industrial (25%), totalizam quase 70% das emissões, resultando em grande impacto sobre os ciclos da chuva, os rios perenes, as altas temperaturas, a erosão no solo, dentre outros.
Por outro lado, ao mesmo tempo que são mais impactadas, as mulheres do campo trabalham na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. É comum que cultivem hortas agroecológicas em seus quintais, com diversidade de alimentos saudáveis e sem veneno. Comunidades tradicionais específicas, como as quebradeiras de coco-babaçu, desenvolvem há séculos uma atividade agroextrativista que as empodera econômica e socialmente enquanto protege e regenera as florestas e savanas. As mulheres indígenas e raizeiras detém conhecimentos ancestrais sobre usos de plantas e raízes medicinais do Cerrado, da Amazônia, do Pantanal e da Caatinga, e por isso zelam por esse patrimônio biológico brasileiro.
Infelizmente, esse papel desempenhado pelas mulheres rurais é cotidianamente ameaçado pelas violências que sofrem em suas tentativas de defender a natureza e suas famílias e comunidades. Suas roças são contaminadas e suas famílias intoxicadas pelo uso intensivo de agrotóxicos. Essas violências resultam em formas inseguras de trabalho e violações de direitos humanos, relegando as mulheres e suas famílias a se deslocarem para periferias de centros urbanos e perderem suas identidades e modos de vida, e a sociedade toda perde sem elas protegendo a natureza e os bens comuns como a água, o ar, e a diversidade de plantas e animais.
A violência no mundo do trabalho é uma preocupação global urgente, e é algo que afeta desproporcionalmente grupos minoritários. No campo, a coisa não é diferente. Por isso, a ActionAid apoia projetos que fortalecem grupos de mulheres rurais para fomentar uma agricultura sustentável e sem veneno por meio da agroecologia e melhorar a gestão da água, por meio de cisternas, além de outras iniciativas.
Referências:
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