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Meninas em Movimento: jovens participam de oficina para campanha Todas Juntas Vencem
Meninas em Movimento: jovens participam de oficina para campanha Todas Juntas Vencem
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Aline Vieira Costa / ActionAid Brasil
As adolescentes do Projeto Meninas em Movimento não param. Em setembro, elas participaram de uma oficina de produção de conteúdo para a campanha ‘Todas Juntas Vencem”, que busca disseminar o protagonismo de meninas e mulheres no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. Com atividades teóricas e práticas, elas já puseram a mão na massa, gravaram e editaram um vídeo sobre assédio.
O Meninas em Movimento é um projeto da ActionAid realizado em sete territórios pernambucanos em parceria com as organizações locais Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental. A oficina de produção ocorreu no dia 17 de setembro e foi a segunda etapa da construção da campanha “Todas Juntas Vencem”, anteriormente chamada de “Não brinque com meu direito”.
A mudança de nome foi uma das primeiras ações de protagonismo das participantes nessa construção e se deu a partir do interesse das próprias meninas por uma frase que melhor representasse o grupo. Esse foi o segundo encontro presencial entre adolescentes de diferentes territórios e também com a Angola Comunicação, agência que está estruturando a campanha.
De acordo com a coordenadora de Operações da Angola, Rafaela Valença, a oficina retomou os resultados do primeiro encontro, realizado em junho, dedicado ao planejamento de comunicação, para que as meninas pudessem se apropriar do que foi combinado a partir das escutas feitas com elas e com as organizações parceiras. Na pauta da oficina, atividades como delinear os conteúdos que vão ser trabalhados, os meios, os canais e os objetivos da campanha. Em seguida, houve uma atividade prática:
“A gente propôs uma edição de vídeo a partir de uma trend que se chama POV (sigla em inglês bastante utilizada nas redes sociais que significa ‘ponto de vista’ na tradução para português). A frase proposta foi: ‘o que eu faço quando recebo cantada de um adulto’. A partir disso, elas construíram roteiro para vídeo, atuaram, fizeram edição, assistiram ao resultado e disseram que topam fazer esse tipo de conteúdo. A gente vai dar o mote para elas colaborarem, construírem o restante, porque a estratégia, desde o início, é que elas sejam partícipes e colaboradoras da construção do conteúdo”.
A coordenadora ainda explica que esse teste foi feito para a agência entender se elas curtiriam fazer o vídeo e se o público delas iria gostar, para além de questões técnicas. E elas aprovaram a ideia.
“A gente entendeu que acaba sendo um local onde elas se sentem seguras para contar as experiências delas e que esses espaços faltam. Para além de uma atividade que tem objetivos específicos, como produzir conteúdo de comunicação, acaba se tornando um espaço de escuta ativa, de abertura e de construção de vínculo, de aumentar essa rede de apoio”.
Para a educadora Suzana Santos, da Etapas, que atua no território do Ibura, no Recife, essas últimas atividades, sobretudo as de intercâmbio, são muito simbólicas.
“Além de garantir o protagonismo das meninas na construção da campanha, elas também têm a oportunidade de encontro entre os territórios e a possibilidade de elas se aterem a essa coletividade que passou a ser enxergada com uma maior clareza a partir dos debates e das pautas promovidas durantes as atividades, nessa perspectiva interseccional de raça, gênero e classe”.
Segundo a educadora, as atividades formativas também permitem que as meninas tenham uma perspectiva real de transformação social com base na participação, contribuição e visibilidade delas.
“Elas passam a se enxergar em cada fala, a se reconhecer e a reconhecer também o que as une e as fortalece”, complementa Suzana.
Essa participação é algo celebrado entre as adolescentes, que sentem maior liberdade de expressão nesses encontros, em comparação a outros espaços fora do grupo.
“Todo mundo aqui tem liberdade para falar. Tem muita gente com a mesma opinião que a minha e que passa por coisa parecida pela qual passei. Se eu falar alguma coisa, a pessoa vai entender porque ela já conviveu com aquilo, já sabe como é a sensação, esse tipo de coisa. Então, a pessoa vai ficar calada para escutar e deixar a outra mais confortável”, conta Eberlany Evelen, 14 anos, moradora do Engenho Serraria, no Cabo de Santo Agostinho.
Compreensão é, de fato, uma das questões que muitas meninas relatam encontrar nas rodas, mas não em outros espaços, entre eles, o familiar. Algumas contam que deixam de denunciar violações e de se comunicar com parentes, amigas, autoridades, até mesmo nas redes sociais, por vergonha, desconforto e/ou medo. Eberlany revela que
“Creio que, depois de ter vindo para cá, provavelmente vou ser mais aberta para falar minha opinião, sem ter medo de alguém dizer que estou errada, porque é a minha opinião, e a pessoa tem a dela, são mentes totalmente diferentes”.
Aos 11 anos, Kaliny Siqueira, moradora do Ibura, é uma dentre várias meninas que reconhecem a importância desses encontros entre territórios para a construção da campanha.
Foi nas trocas dessa oficina, inclusive, que o grupo descobriu uma curiosidade muito bem-vinda sobre Kaliny: ela aprendeu Língua Brasileira de Sinais (Libras) porque quer atuar como intérprete quando crescer. Por isso, foi convidada a fazer alguns vídeos utilizando Libras. Ela, que também sonha em ser veterinária, comemora.
“Achei uma ideia boa, porque nem todo mundo que faz alguma campanha bota um intérprete, alguém que as pessoas com deficiência auditiva possam entender, e acaba que elas não conseguem ter o conhecimento de muitas coisas. As pessoas vão se sentir acolhidas”.
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