Notícias
Meninas em Movimento são protagonistas da campanha “Não Brinque com Meu Direito”
Meninas em Movimento são protagonistas da campanha “Não Brinque com Meu Direito”
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: ActionAid / Micaella Pereira
Como criar uma comunicação eficaz para o enfrentamento ao assédio e à violência sexual de crianças e adolescentes no Brasil, país em que mais de 17 mil adolescentes de até 14 anos foram mães, segundo dados preliminares do Sistema Único de Saúde (SUS)? No projeto Meninas em Movimento, realizado em sete territórios pernambucanos pela ActionAid, em parceria com as organizações Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, com patrocínio da Petrobras, a estratégia é que as próprias jovens sejam as protagonistas no planejamento de todo o conteúdo de uma campanha de comunicação.
A campanha “Não Brinque com meu Direito” busca, com a participação das meninas, levar em conta os padrões sociais da vida pessoal e a forma como elas se relacionam entre si e com o mundo. A ideia, também, é de que as mensagens de enfrentamento possam alcançar muito mais pessoas, por meio das redes sociais das próprias adolescentes participantes do projeto Meninas em Movimento.
O planejamento da campanha acontece em parceria com a Angola Comunicação, agência que trabalha especialmente com movimentos sociais e organizações da sociedade civil, acreditando na comunicação como um direito humano que pode mudar o mundo. A agência entra, no entanto, apenas como um instrumento de materialização da campanha, pois a ideia é que as próprias meninas deem o tom e sinalizem as mensagens que devem ser transmitidas.
A coordenadora de Comunicação da Angola, Anna Terra, explica:
“A metodologia utilizada é colaborativa e baseada na escuta, pois a comunicação a ser construída tem sempre que representar quem está querendo se comunicar”.
O processo de escuta é feito tanto com as meninas, como também com as organizações parceiras participantes do projeto. Entre as adolescentes, a escuta foi realizada por meio de uma oficina, realizada em junho, que proporcionou o primeiro encontro entre as meninas dos diferentes territórios do projeto, um intercâmbio que contou com a participação de 16 representantes, escolhidas democraticamente entre elas, que puderam conhecer realidades distintas, além de criar e fortalecer laços.
Entre os temas debatidos, as meninas responderam a uma série de perguntas sobre como se comunicam, onde se comunicam, o que comunicam, quais redes sociais e meios de comunicação usam. Com a coleta, é possível definir canais de comunicação e territórios de conteúdo, que são os temas que vão nortear a criação de peças gráficas e informativas para redes sociais, vídeos, site, entre outros.
“A gente quer ouvir como a comunicação ocorre a partir da ótica delas e dar insumos para que esses assuntos ganhem o mundo não só nas redes como fora das telas, pois nem só de cards para Instagram vive a comunicação”, destaca Anna.
As adolescentes chegam ao planejamento da campanha vindas de um processo de formação política que acontece também dentro do projeto Meninas em Movimento, a partir das diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Nesse aprendizado, elas dialogam sobre direitos como saúde, educação, esporte e lazer em suas vivências em comunidade, como conta Flávia Lucena, educadora técnica do Centro das Mulheres do Cabo, que atua com meninas dos municípios de Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca:
“Esse é só o início da preparação para fortalecê-las para a fala pública, por meio da apropriação de conhecimentos sobre como elas podem melhor intervir na comunidade, nos meios de comunicação, nos espaços de incidência política, sabendo que essa fala fortalece o sujeito de direitos como agente transformador na comunidade.”
Segundo Anabelly Brederodes, educadora da Casa da Mulher do Nordeste, as meninas vêm de vivências diferentes: umas são de origem urbana, e outras, do meio rural. Com visões de mundo diversificadas, elas observam diferenças e semelhanças para que, nessas trocas, elas possam construir e se apropriar da campanha “Não Brinque com meu Direito” para sensibilizar as comunidades quanto às violações de seus direitos. Dentro do projeto, ainda para fortalecer a comunicação, as meninas participarão de cursos de Mídia e Advocacy e Digital Influencer, justamente para trabalhar essa voz pública delas.
“Primeiro, elas vão compreender quem são elas dentro dessa comunicação, seja a comunicação com elas mesmas, entre elas, com o corpo delas, com as famílias, a comunidade, que parte da comunicação desde o tête-à-tête, para depois elas pensarem o digital influencer: ‘tá, eu também sou influenciadora dentro dessa loucura toda que são as mídias digitais’”, detalha Anabelly.
Katheryne Vitória, de 15 anos, moradora do Engenho Massangana, no Cabo, é uma das adolescentes que gostam de se comunicar e sabe que essa comunicação pode ajudar bastante outras meninas. “Já vi vários casos de adolescentes que se calam porque dizem que têm medo de acontecer algo pior. Sei que posso fazer postagens, ajudar, conversar, entender aquela pessoa, chegar e dizer: ‘conversa com seu responsável, com um adulto de confiança, se você quiser, você mesma presta queixa’”, relata.
Já Beatriz Amorim, de 11, que mora no Ibura, gostaria de construir um mundo melhor tanto ajudando meninas de dentro e de fora do projeto a se defenderem do mal que muitos homens, principalmente, estão causando, como também melhorando a situação das pessoas em outras áreas da vida. “Tenho vontade de gravar vídeos influenciando pessoas a prestarem atenção no que está acontecendo de errado no mundo porque, enquanto a gente está aqui segura, tem pessoas lá fora sofrendo, e a gente não gosta de ver isso”, conta.
A educadora social Sintia Alves, também do Centro das Mulheres do Cabo, conta que é possível ver, no processo, que as meninas acabam perdendo um pouco do medo de falar em público, quebrando um pouco desse silêncio e começando a se posicionar.
“A campanha acaba sendo um estalo sobre como elas podem usar as redes de outra forma para orientar outras meninas, que multiplicam essa informação, para mostrar que elas têm direito a voz e que podem contar a história delas de forma diferente. Uma história na qual elas não sejam vítimas e possam construir e decidir o que querem na sua vida”.
Escolha os sites das outras sedes pelo mundo.