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Meninas em Movimento: Meninas vivenciam formação para melhor lidar com conflitos cotidianos
Meninas em Movimento: Meninas vivenciam formação para melhor lidar com conflitos cotidianos
Texto: Aline Vieira
Fotos: ActionAid / Alcione Ferreira
Ser mulher significa ser o que dizem que a mulher deve ser? A pergunta pode soar retórica ou polêmica, mas há respostas diversas e complexas. As questões de gênero são vividas diariamente. É um tema presente em um contexto no qual o que caracteriza ser mulher perpassa o entendimento do outro sobre o corpo e a atuação dela.
Gênero é um dos módulos das oficinas do Ciclo de Formação com crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos do projeto Meninas em Movimento, realizado em sete territórios pernambucanos pela ActionAid, em parceria com Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal.
A proposta do módulo é abordar diversidades de gênero na sociedade e violações e violências sofridas por ser mulher, seja ela cis ou trans. O ciclo é uma das fases do projeto.
São oito oficinas subdivididas em módulos de quatro horas, totalizando 96 horas. O objetivo é promover habilidades para lidar com situações de conflito no cotidiano. Com condutas de proteção e o desenvolvimento da autonomia das meninas, essa fase do Meninas em Movimento reforça o que estabelecem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas números 4 (educação de qualidade) e 5 (igualdade de gênero).
O Ciclo de Formação prepara as adolescentes para serem protagonistas na multiplicação do conhecimento e no ativismo nas causas sociais. Na grade de conteúdos estão: Direitos fundamentais do Estatuto da Criança e do Adolescente; Gênero e feminismo; Raça e enfrentamento ao racismo; Sexualidades e direitos sexuais e reprodutivos; Gravidez na adolescência; Democracia e cidadania; Violência contra mulher, e Direito à cidade. O trabalho é feito de forma participativa e com atividades lúdicas. Há ainda duas visitas guiadas a espaços culturais e de lazer.
Os encontros são quinzenais e, em cada um, meninas de uma mesma faixa etária, em grupos de 12 anos a 14 e de 15 a 17, podem se encontrar e conhecer realidades de vida diferentes e ao mesmo tempo semelhantes.
“Em casa eu não costumo falar muito. Somos quatro filhos, mas meus três irmãos são meninos. Temos apenas eu e minha mãe de mulheres. Já aqui no projeto só tem meninas e eu aprendo com elas”, diz Gabrielle, de 13 anos, moradora de Passarinho, no Recife.
Através das trocas no ciclo de formação, as meninas conseguem identificar e quebrar padrões pré-estabelecidos para o gênero.
“Quando me diziam que mulher não pode usar roupa curta, eu ia lá e trocava”, relata Gabrielle. Na casa dela, um dos irmãos cozinha e ela diz que fica feliz por essa tarefa não ser só de mulher.
Assim como ser policial não é só coisa de homem e é o sonho de profissão de Maria Eduarda, também de 13 anos, que mora em Passarinho desde os 6 anos. Ela conta que a comunidade só tem uma praça, sem lugar para brincar e conversar. Maria Eduarda perdeu um irmão vítima de violência.
“Esses encontros são maravilhosos porque desabafamos, recebemos conselhos e escutamos coisas lindas”, diz.
A educadora social da Casa da Mulher do Nordeste, Anabelly Brederodes, que atua no território de Passarinho, destaca que nas oficinas há um momento de chegada com acolhimento.
“No módulo de Gênero e Feminismo, a gente propõe uma dinâmica na qual elas dizem por que se acham bonitas e que depois vai dialogar um pouco sobre violência contra a mulher, porque as temáticas estão interligadas.”.
A educadora explica como a dinâmica funciona:
“A abordagem dos conteúdos é feita com perguntas norteadoras, com músicas que as meninas trazem. A gente escuta e vê como elas se sentem escutando, dançando, como é o corpo dessa mulher na periferia, como são tratadas, quais os adjetivos que os homens e a sociedade trazem quando elas ‘pegam’ muitos meninos, por exemplo, quando estão vivenciando a vida delas. E os meninos, como são tratados? A ideia é dialogar sobre a diversidade de gêneros e como a sociedade, através desses papéis, vai cerceando e violentando as mulheres, pois temos vários roteiros a seguir.”.
No fim do ciclo é esperado que as meninas possam estar fortalecidas, pois vão vivenciar em paralelo o Media Advocacy. É uma forma de se sentirem bem para falar sobre o projeto, de terem propriedade para dialogar sobre diversidade de gênero, escolhas, violência contra a mulher, direitos sexuais, raça, a dimensão de ser jovem periférico e ser uma maioria negra. Estes são temas a serem tratados no percurso das ações do Meninas em Movimento.
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