Notícias
Meninas e crianças mais pobres são as mais afetadas pelo fechamento das escolas na pandemia
Meninas e crianças mais pobres são as mais afetadas pelo fechamento das escolas na pandemia
Mais de seis meses depois de decretarem o começo da pandemia em seus territórios, países de todo o mundo tentam entender como vai se dar a volta das crianças e jovens para as salas de aula. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos as escolas já estão reabrindo, professores na África, na Ásia e na América Latina vêm manifestando inquietude sobre os rumos da educação.
A ActionAid ouviu relatos de 130 professores de 14 países: Bangladesh, Brasil, Camboja, Etiópia, Ghana, Índia, Quênia, Malawi, Moçambique, Nepal, Nigéria, Ruanda, Somalilândia e Zimbábue.
Esses educadores trabalham em comunidades duramente afetadas pela Covid-19 e pelo isolamento social. Eles responderam a perguntas sobre evasão escolar, a manutenção dos estudos à distância, os impactos sofridos pelos estudantes durante esse distanciamento social e as possibilidades de retorno presencial.
Para esses professores, a maior preocupação está no abandono escolar de meninas e de crianças mais pobres. Com esses estudantes fora do perímetro escolar, as consequências mais temidas pelos entrevistados são a gravidez precoce, o casamento infantil e o aumento da fome. Segundo os educadores, as garotas vão sair da escola por falta de recursos da família, por trabalho não remunerado dentro e fora de casa, ou por já terem sido casadas durante o isolamento social.
Em Gabiley, na Somalilândia, o professor Husein Goohe conta que apenas 13 meninos (de um total de 119) conseguiram voltar para a escola, após a reabertura em julho. Nenhuma das 50 meninas pôde retornar – para ajudar na agricultura familiar e para se casarem, com idade inferior a 12 anos. Goohe denuncia, ainda, o aumento da mutilação genital feminina durante os últimos meses.
O gestor de serviços públicos da ActionAid, David Archer, explica que o intuito da pesquisa é registrar as preocupações dos professores com essa geração.
A educação pode funcionar como uma poderosa força de geração de igualdade. No entanto, a crise da Covid-19 agrava as desigualdades existentes. Meninas, crianças portadoras de deficiência ou de famílias mais pobres não conseguem completar os estudos. É possível evitar o declínio das metas da educação. Reconstruir um futuro após a Covid-19 passa por enfrentar as barreiras da desigualdade na educação.
Essas preocupações encontram eco nos números. Na Índia, por exemplo, o programa de combate ao casamento infantil da ActionAid, em parceria com a Unicef, ajudou a prevenir 305 casos de casamento infantil durante a pandemia em cinco estados. As comunidades são capacitadas por 52 coordenadores distritais, que conscientizam as famílias sobre os riscos sociais dessa prática abusiva.
Ghasiram Panda, gerente nacional do programa, destaca que a pobreza e a desigualdade são as maiores razões para o casamento precoce, já que os pais se veem obrigados a reduzir o número de bocas a alimentar dentro de casa. Com as normas de distanciamento social, essas famílias encontraram uma boa desculpa para economizar nas cerimônias religiosas.
Nosso trabalho é desmontar as normas sociais e religiosas que desvalorizam as meninas. Trabalhamos com grupos comunitários de mulheres que fortalecem nossos mecanismos de denúncia do casamento infantil.
No distrito de Odisha, a jovem Manisha (nome fictício para proteger sua identidade), de 14 anos, estava presa em casa, sem acesso à escola, e se viu prometida em casamento a um caminhoneiro, que não podia trabalhar por causa do isolamento. A comunidade se mobilizou e o casamento em iminência foi impedido. Em outro caso, duas jovens líderes descobriram que uma colega de escola, Amina (nome fictício), de 15 anos, corria risco de ser casada precocemente. As autoridades foram informadas e o caso foi impedido.
No Malawi, as estatísticas de evasão escolar já eram alarmantes desde antes da pandemia. No ano passado, numa escola na área rural de Lilongwethe, 190 crianças foram matriculadas para o 1º ano, e apenas 20 para o 7º ano. O diretor da unidade, Grey Banda, ouvido pela pesquisa, alertou para o casamento precoce de meninas – que muitas vezes, é a saída que os pais encontram para superar a fome na família.
Alguns esforços começam a ser esboçados em localidades do Malawi em que atuamos. Grupos de mães se arregimentaram em quatro distritos para proteger as meninas do casamento infantil. Uma delas é a jovem Rigines, de 17 anos, que sonha em ser professora, mas precisa cuidar dos irmãos mais novos e das tarefas domésticas.
Não tinha tempo de ouvir o conteúdo remoto passado por rádio, ou para ler os livros e as tarefas.
Líder do grupo Chaola Mothers, Chrissy Chinjeza conta que 60 garotas foram ajudadas.
Temos orgulho dos nossos esforços, mas o governo precisa investir mais recursos para a educação das meninas. Os sonhos delas não podem ser transformados em pesadelos.
Escolha os sites das outras sedes pelo mundo.