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Maior escolaridade não é suficiente para livrar famílias negras da insegurança alimentar, mostra novo suplemento da Pesquisa VIGISAN
Maior escolaridade não é suficiente para livrar famílias negras da insegurança alimentar, mostra novo suplemento da Pesquisa VIGISAN
Com apoio da ActionAid, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) divulgou novos dados que evidenciam que a falta de comida na mesa está ligada à discriminação racial e de gênero. De acordo com o suplemento, uma em cada cinco famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas pardas ou pretas sofre com a fome no Brasil (17% e 20,6% respectivamente). A situação é pior nos lares chefiados por mulheres pardas ou pretas, dos quais 22% sofrem com a fome, quase o dobro em relação a famílias comandadas por mulheres brancas (13,5%).
Os dados foram obtidos pelo recorte de raça e gênero do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN) e dão agora uma dimensão mais estratificada e interseccional da fome que atingia 33,1 milhões de pessoas em 2022.
“Entre as inúmeras reflexões instigadas pelo suplemento, nos chama atenção o fato de que mesmo quando têm condições socioeconômicas similares aos outros grupos, as mulheres negras têm piores índices de segurança alimentar. Por exemplo, a maior escolaridade não foi suficiente para blindar as famílias comandadas por mulheres negras da falta ou piora da qualidade dos alimentos”.
Quem comenta é a diretora programática da ActionAid, Ana Paula Brandão, referindo-se ao fato de um terço (33%) das famílias cujas líderes têm 8 anos ou mais de estudo sofrerem com insegurança alimentar moderada ou grave, comparado com 21,3% de homens negros, 17,8% de mulheres brancas e 9,8% de homens brancos.
“Os números colocam abaixo qualquer hipótese delirante de que há direitos e oportunidades iguais para pessoas brancas e negras nesse país, e ainda reforça a necessidade de reflexão sobre qual é o contexto do acesso à educação e trabalho quando nos referimos às populações negras. Quais obstáculos as mulheres negras enfrentam diariamente para escalarem a pirâmide social e sustentar suas famílias? A pandemia da Covid-19 só escancarou o que já estava latente: o racismo e sexismo que historicamente aprofundam as desigualdades deixaram a população negra, especialmente as mulheres, ainda mais vulneráveis economicamente”, complementa a historiadora e gestora da organização, que conclui:
“Ninguém deveria passar fome. É urgente que o Estado retome, aprimore e construa instrumentos e políticas públicas voltadas para essas populações. Temos potência e devemos usá-la para a rápida reconstrução do tecido social, profundamente impactado pelas sucessivas violências a que estamos expostas no país. Esse é um problema de toda a sociedade, que afeta presente e futuro de todos. As mulheres negras estão no centro do que chamamos de economia do cuidado e, por isso mesmo, acabam sendo sobrecarregadas e atropeladas pelas desigualdades de oportunidades e acesso a direitos. Mas são elas, somos nós, o motor do desenvolvimento sustentável do país.”
A fome foi uma realidade para 23,8% das famílias que tinham crianças menores de 10 anos de idade e eram chefiadas por mulheres negras. Neste grupo, apenas 21,3% dos lares encontravam-se em segurança alimentar, menos da metade do que foi encontrado nos lares chefiados por homens brancos (52,5%) e quase metade do que ocorre nos domicílios chefiados por mulheres brancas (39,5%).
A situação de emprego e trabalho também influenciou a segurança alimentar das famílias no final de 2021 e início de 2022, segundo a cor da pele autodeclarada da pessoa responsável. Onde havia desemprego ou trabalho informal, a fome se fez presente na metade dos lares chefiados por pessoas negras, comparado com um terço dos lares chefiados por pessoas brancas.
A ActionAid é uma organização global que trabalha por erradicação da pobreza e justiça social, climática, de gênero e étnico-racial com cerca de 15 milhões de pessoas em mais de 40 dos países mais empobrecidos do mundo. No Brasil, estamos presentes em mais de 540 comunidades de 12 estados, com cerca de 300 mil pessoas beneficiadas.
Realizamos um trabalho de longo prazo nas comunidades e ações de emergência, como distribuições de cestas de alimentos, e estamos presentes em coalizações e órgãos de participação da sociedade civil para fortalecimento da justiça social, climática, de gênero e étnico racial no país. Também integramosu o Consea por quase dez anos e agora voltamos a participar do órgão para contribuir com o desenvolvimento de propostas e iniciativas que possam livrar o país da fome. Também seguimos atuantes com o Projeto SETA – Sistema Educacional Transformador e Antirracista, com o Grupo de Trabalho Agenda 2030 e o Observatório da Alimentação Escolar, formados por instituições diversas.
Com doações a partir de R$ 15, já é possível contribuir para o trabalho da ActionAid na superação da fome e da pobreza. Campanhas como a “Combate à Fome” e “Mulheres da Terra” possibilitam levar comida de qualidade para comunidades que mais precisam e, ao mesmo tempo, apoiar a geração de renda.
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