Machismo: Quebrar o silêncio e educar
Na mesma semana em que a figurinista Susllen Tonani quebrou o silêncio e denunciou o ator José Mayer por assédio recebemos a notícia que o Ministério da Educação alterou o texto da nova versão da base nacional curricular e retirou todas as menções à expressão “identidade de gênero”.
Em ambos os casos estamos lidando com um problema comum, principal fonte de todas as formas de violência que atingem as mulheres hoje, que gera o assédio, o silêncio da denúncia, o medo de sair na rua, o bullying na escola.
O machismo tem a capacidade de se manifestar de diversas formas. Da piada machista na mesa do bar ao assassinato misógino. Do assédio na rua à violência doméstica. Da tortura psicológica ao estupro. Do assédio no trabalho a desigualdade nos espaços de poder.
E ele começa cedo. Está encruado na nossa cultura. Nos livros, na TV, nas reuniões de família, na lojinha de brinquedos, nas relações afetivas, na escola. As meninas e os meninos são ensinados a se comportar socialmente de jeitos distintos e desiguais para fortalecer a estrutura da nossa cultura patriarcal. Seja por esse poder invisível que impõe a forma como devemos andar, sentar, se relacionar; seja vivenciando a violência na própria pele.
E ficar em silêncio sempre esteve no topo dos ensinamentos. Não foi a primeira vez nem será a última que uma mulher sofrerá assédio por um colega de trabalho. E aí chega em dois aspectos envolvendo as duas notícias da semana que gostaria de comentar.
O primeiro é que Su quebrou o silêncio. E isso é incrível! O feminismo faz isso com a gente, nos fortalece, empodera, nos mostra que não estamos sozinhas e nos faz ter coragem de romper o silêncio. O que aconteceu com ela está acontecendo com milhões de mulheres nesse momento. E precisamos fazer com que todas essas mulheres possam ter a mesma coragem de denúncia da Su. Nós estamos nos libertando, estamos atentas ao machismo, estamos metendo a colher. A primavera feminista chegou e aí está a diferença.
Mas para que todas as mulheres denunciem e digam basta para a violência, elas precisam se sentir seguras, acolhidas e aí está a segunda questão que gostaria de comentar. O poder público não pode se eximir do seu papel. A violência contra a mulher se dá por causa de uma histórica opressão de gênero dos homens em relação às mulheres tanto na esfera privada como na pública… A responsabilidade de transformá-la é do Estado. E essa reparação precisa começar na escola.
O ensino de gênero nas escolas é condição para desconstruir a cultura machista da violência e propor saídas para os altos índices de assédio, estupro, assassinato e outras formas de opressão que vivenciamos. A criança precisa entender desde pequena que não existem brincadeiras separadas pelo gênero para que a relação desigual de poder entre meninos e meninas possa ser refundada.
Só conseguiremos superar o machismo se quebrarmos essas estruturas desiguais de poder e assim abrir caminho para uma nova sociedade em que todas as mulheres estejam livres da violência!