Há quase um ano sem aulas, crianças de Gaza sonham com retorno à escola
Setembro e outubro normalmente marcam o início do ano letivo em Gaza, mas dessa vez crianças e adolescentes da região sequer sabem quando voltarão a frequentar a escola de novo. Desde 7 de outubro do ano passado, cerca de 625.000 crianças em idade escolar em Gaza não puderam ir à escola depois que a incursão militar israelense no território pôs fim à vida normal.
Quase toda a população foi deslocada de suas casas desde então – muitos deles várias vezes – e as escolas deixaram de ser lugares de aprendizado, transformando-se em abrigos para milhares de pessoas deslocadas. No que deveria ser o primeiro dia de volta às aulas após o verão, crianças em Gaza contam à ActionAid sobre o desejo de voltar a aprender e rever seus amigos e professores.
Arwa, de 11 anos, lamenta a perda de sua escola.
“Perdi meu direito de ir à escola, pois as pessoas deslocadas precisam viver lá. A maioria das escolas foi destruída, incendiada ou bombardeada como resultado da guerra em andamento. Eu realmente sinto falta da minha escola; sinto muita falta dos meus amigos e professores.”
Já Maryam perdeu sua casa em um bombardeio e, agora, vive com a família onde antes apenas estudava.
“Eu gostaria de voltar para casa; eu gostaria que a guerra acabasse. Não quero viver na minha escola. Quero aprender nela. Sinto falta dos meus amigos e professores… Meus livros viraram cinzas. Minha mochila foi rasgada e meus cadernos se foram… Eu gostaria de voltar para casa. Eu gostaria de voltar a estudar. Quero vestir meu uniforme escolar e me preparar para a escola. E comprar meus materiais escolares.”
No último ano, mais de 25.000 crianças em idade escolar foram mortas ou feridas em ataques militares israelenses, segundo o Ministério da Educação Palestino, enquanto a ONU informou que 261 professores e 95 professores universitários foram mortos apenas nos primeiros seis meses da crise.
Os últimos 11 meses tiveram um impacto devastador na infraestrutura educacional de Gaza. Cerca de 90% dos 307 prédios escolares do governo de Gaza foram destruídos, segundo o Ministério da Educação Palestino, enquanto todas as 12 universidades de Gaza foram danificadas ou destruídas.
Crianças traumatizadas e exaustas por viverem em uma zona de guerra, sem acesso adequado a alimentos, água e outros itens essenciais, anseiam pela rotina e normalidade que a escola representa. Raed, de 9 anos, disse: “Sinto muita falta da minha escola e gostaria de voltar para aprender. Não vou à escola nem estudo há 10 meses.”
Na Cisjordânia também, centenas de crianças estão sendo privadas de seu direito à educação, à medida que o aumento das restrições ao seu movimento, além de incidentes de assédio, intimidação e violência, as impedem de ir à escola.
Riham Jafari, Coordenadora de Advocacy e Comunicações da ActionAid Palestina, destaca que o direito à educação, mesmo em meio a um cenário de guerra, não é menos essencial.
“Ir à escola não é um luxo, é um direito fundamental, e ainda assim centenas de milhares de crianças em Gaza estão sendo privadas de uma educação pelo segundo ano letivo consecutivo. Hoje, 58.000 crianças deveriam ter tido a oportunidade de começar a escola pela primeira vez – em vez disso, elas enfrentam mais um dia vivendo sob bombardeios incessantes nas condições humanitárias mais inimagináveis. Uma geração inteira está sendo privada da oportunidade de aprender e construir um futuro melhor para si. Já passou da hora de essa crise acabar: é necessário um cessar-fogo permanente agora.”