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“Eu só desejo que a guerra termine agora”, afirmam mulheres em Gaza sobre os 12 meses de um impacto devastador
“Eu só desejo que a guerra termine agora”, afirmam mulheres em Gaza sobre os 12 meses de um impacto devastador
A ActionAid ouviu mulheres em Gaza sobre o impacto devastador que os 12 meses de guerra tiveram em suas vidas. Na luta pela sobrevivência, elas enfrentaram um ano de bombardeios constantes do exército israelense, deslocamentos repetidos e acesso limitado a comida, água e medicamentos. No entanto, elas vêm encontrando formas de apoiar umas às outras e demonstrando força e liderança notáveis.
Mais de 41 mil pessoas foram mortas em Gaza no último ano – uma média de cerca de 130 pessoas por dia – em uma guerra definida pelos ataques constantes a escolas e hospitais, que podem constituir graves violações do direito humanitário internacional. Mazouza é uma das muitas mulheres em Gaza que se tornaram viúvas da noite para o dia, após o bombardeio da casa onde estava, que matou seu marido. Ela e a filha sobreviveram após serem resgatadas dos escombros. No campo de deslocados em Nuseirat, onde agora vive, Mazouza disse à ActionAid que a violência e a brutalidade do último ano foram sem precedentes. “Eu testemunhei as três guerras, mas nunca vi uma guerra como esta”, afirmou. “Eles não poupam uma criança, um homem, um jovem ou um idoso.”
Pelo menos nove em cada dez pessoas em Gaza foram deslocadas durante o último ano, algumas delas até nove ou dez vezes. Shurooq, uma mãe de 31 anos, descreve seu intenso sofrimento quando ela e sua família foram forçadas a fugir de casa, no norte de Gaza, em meio a bombardeios incessantes e perigo. Eles se mudaram para uma escola que se tornou abrigo. “Eu estava em estado de choque. Meu estado psicológico era muito difícil. Se alguém dissesse algo para mim, eu gritava”, contou.
Com até 85% de Gaza sob ordens de evacuação, as pessoas foram forçadas a viver em espaços cada vez mais superlotados e insalubres, onde doenças e enfermidades vêm se disseminando. Shurooq disse que toda a sua família adoeceu devido às condições no abrigo: “Todas as crianças e adultos contraíram gastroenterite. A água não estava disponível; não sabíamos como lavar as roupas ou os lençóis que as crianças estavam vomitando. Os banheiros eram horríveis, não havia privacidade para as mulheres. Nos primeiros dias [aqui], não comemos nada porque não queríamos ir ao banheiro, que estava muito sujo.”
Apesar das imensas dificuldades, Shurooq disse que havia um forte senso de solidariedade entre as mulheres no abrigo. “As mulheres palestinas são conhecidas por serem pacientes e fortes e enfrentarem todas essas dificuldades”, disse.
“No abrigo, todas as mulheres aqui se ajudaram. Eu não sabia como assar. Havia uma tia que vinha e me ensinava: coloque o fermento assim, coloque a massa aqui, faça isso.” Shurooq sofreu uma queimadura de terceiro grau no pé após derrubar chá de uma chaleira, e pôde contar com apoio: “As mulheres me ajudaram, pois eu não conseguia fazer todo o trabalho, como lavar e cozinhar.”
Dalia é uma das milhares de mulheres em Gaza que deram à luz no último ano enquanto estavam deslocadas e sem acesso a cuidados adequados. Ela foi forçada a fugir para Rafah com sete meses de gravidez, e acabou dando à luz em janeiro, desnutrida e fatigada. “Estava incrivelmente frio; estávamos bem no meio do inverno. Eu não conseguia obter roupas para mim ou para meu recém-nascido. Não havia carne, frutas ou vegetais disponíveis no mercado.”
Dalia disse que a tenda onde ela e o bebê estão vivendo é totalmente inadequada e que ela não consegue obter os itens essenciais que seu bebê precisa. “Meu bebê está na idade em que deve começar a dentição e a engatinhar. Eu não consigo remédio para aliviar a dor da dentição. Não tenho comida suficiente, especialmente porque meu leite materno é insuficiente. Não tenho fórmula. É perigoso para ela engatinhar neste chão. Há todo tipo de insetos, além da falta de higiene. Não temos detergentes para limpeza. Eu só desejo que a guerra termine agora.”
Quase toda a população está enfrentando altos níveis de insegurança alimentar aguda. Não chegam comida, água, medicamentos, combustível e outros suprimentos em quantidade suficiente em Gaza. As operações de ajuda no território são severamente prejudicadas pelo perigo constante, pela restrições de movimento e pela falta de combustível para transporte.
Fidaa é uma das muitas trabalhadoras humanitárias em Gaza que arriscam suas vidas todos os dias para prestar apoio às vítimas. Ela perdeu o marido durante um ataque a um abrigo da UNRWA em maio e agora é a única cuidadora dos sete filhos, mas continua se dedicando ao trabalho humanitário.
“Enfrento muitos desafios como trabalhadora humanitária. Primeiro, lidando com meu estado psicológico. E também para interagir com o mundo exterior, para fazer o upload dos arquivos do trabalho. Uso dispositivos básicos. O outro desafio é como chegar ao local de trabalho. Todos os dias uso carros puxados por burros e cavalos. Esse meio de transporte torna a jornada para o local de trabalho difícil, desconfortável e [demora] muito tempo.”
Fidaa e seus filhos foram deslocados sete vezes e agora vivem em uma tenda – ela teme que não seja adequada para a chegada do frio do inverno. “Acho que a tenda mal nos protegerá do ambiente externo. Se o vento frio entrar na tenda, eu não conseguirei cobrir todas as minhas crianças com cobertores e colchões.”
Riham Jafari, Coordenadora de Advocacy e Comunicações da ActionAid na Palestina, disse: “É impossível compreender como esta crise se arrastou por um ano inteiro sem um cessar-fogo. Por 12 meses, o mundo falhou com o povo de Gaza. Sabemos, por nosso trabalho no território, como as mulheres e meninas estão sendo particular e agudamente impactadas por este pesadelo. A elas é negado o acesso a cuidados maternos e itens essenciais como produtos de higiene menstrual. Também estão em risco de violência baseada em gênero. Nossa equipe dedicada e parceiros estão trabalhando contra as todas as probabilidades para apoiá-las, seja distribuindo comida, água e kits de higiene, ou criando espaços seguros para que possam relatar violência sexual ou doméstica. Mas os ataques incessantes e o bloqueio de ajuda estão tornando o trabalho quase impossível de ser realizado.”
“Com a chegada do inverno, as mortes por desnutrição e doenças, assim como os constantes ataques militares israelenses, só aumentarão. Exigimos um cessar-fogo imediato e permanente agora, e que os estados façam tudo ao seu alcance, incluindo a suspensão das vendas de armas para o governo israelense e a imposição de sanções, como proibições de viagem e congelamento de ativos. Depois de 12 meses de horror e trauma, não pode haver mais atrasos.”
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