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Da Guatemala ao Brasil: os desafios da juventude na construção de um mundo mais justo
Da Guatemala ao Brasil: os desafios da juventude na construção de um mundo mais justo
Ao mesmo tempo em que o contingente populacional de jovens se adensa nos países do Sul Global, é justamente essa parcela que mais vem se tornando vulnerável às crises humanitárias enfrentadas no presente. Para quatro lideranças jovens do Brasil e da Guatemala, o momento é decisivo para que a juventude assuma seu papel protagonista em respostas emergenciais, seja na pandemia, seja nos demais dilemas que persistem de forma estrutural na sociedade.
O diálogo entre representantes dos dois países se deu no webinar “Juventudes em ação na América Latina: uma conversa com lideranças jovens de ações humanitárias”, mobilizado pela ActionAid, como parte do projeto SYLHA – Fortalecendo a Liderança Jovem em Ações Humanitárias. As experiências brasileiras foram compartilhadas por Elaine Cristina, do Fórum de Juventudes do Cabo (Fojuca), e por Marcus Barão, presidente do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve).
Marcus ressalta que o Brasil tem o maior número de pessoas, de 15 a 29 anos, em toda a sua história, e que o desemprego, para essa faixa etária, também é recorde.
A população jovem tem sofrido uma constante violação de seus direitos. Temos a maior taxa de desemprego, no Brasil e no mundo inteiro, além da evasão escolar de crianças e jovens – que nos custa 220 bilhões de reais por ano. Mas não se trata só do país ou da economia. As pesquisas apontam que esses jovens vivem menos, e perdem 30% do valor de renda que poderiam ganhar – e isso é manutenção da pobreza e da miséria.
Para Elaine, é a necessidade por uma vida melhor que ocasiona o protagonismo dos jovens em ações humanitárias. Muitos e muitas se engajam, por exemplo, em distribuições de cestas básicas durante momentos de crise, como a pandemia. E rapidamente percebem que a falta de acesso à alimentação segura é um problema sistêmico, que precisa de soluções mais duradouras e efetivas. No entanto, nem sempre essa proeminência da juventude é vista com bons olhos.
Quando somos negados a algo, buscamos respostas pela incidência política, pela via humanitária e emergencial. Nós, jovens, estamos descobrindo novos grupos e intensificando nossa experiência no mundo, para além da família e da escola. O protagonismo faz parte desse momento, em que descobrimos o nosso pertencer nesse lugar. Mas a forma como as pessoas encaram esse protagonismo na juventude tem se tornado problemática. Quando os jovens se reúnem para uma batalha de rap numa praça, por exemplo, isso é criminalizado. A juventude é uma potência. Protagonizamos uma história em todo o continente e seguimos invisibilizados. Isso não pode ser um simples acaso.
O webinar contou com a participação de Molly Chan López, ativista da Youth Compact Champions, e de Kendra Avilés, diretora da Incide Joven. Elas alertaram para a precarização dos direitos humanos na Guatemala, e que a pandemia apenas ressaltou um quadro de vulnerabilidade social que precisa ser revertido o quanto antes.
Kendra Avilés afirma:
Há um enfraquecimento do poder institucional que poderia oferecer uma vida mais humana e digna para as pessoas jovens. Muitos se encontram num contexto de mera sobrevivência, e, assim, vamos normalizando as outras violências que vão surgindo. Nós, jovens, estamos aqui. Em espaços de organização e de coletividade, e na exigência por melhoras na vida das pessoas. Devemos partir do reconhecimento que somos protagonistas dos nossos coletivos e organizações.
Molly Chan alerta para o alcance da voz dos jovens, principalmente na era da internet e da tecnologia. Para a ativista, o futuro das gerações futuras depende de mudanças drásticas, que precisam incluir populações invisibilizadas e sem acesso a direitos básicos, como saúde.
Precisamos chegar a populações mais invisibilizadas, que precisam mais dos serviços essenciais e da informação. A Covid apenas nos mostra as fraquezas que já tínhamos antes. O sistema de saúde pública da Guatemala já estava colapsado. E o que acontece com a necessidade desse serviço em outras situações? Quando é preciso obter anticoncepcionais, ou quando um jovem quebra uma perna? Precisamos desenvolver a resiliência no dia a dia. Não queremos continuar a viver essa realidade. Queremos um futuro digno para as gerações que estão vindo.
Na cidade do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, onde atua o Fórum de Juventudes do Cabo, o maior desafio sentido é o de engajar mais jovens em movimentos sociais. Elaine destaca o clima de desconexão agravado com as crises que vieram na esteira da pandemia.
Vivemos um momento de apatia e desconfiança. A juventude está sem emprego, precisa ter o que comer e precisa priorizar a sobrevivência. O que mais precisamos é de ajuda para alcançar recursos e equipamentos para que nossa rede de jovens possa estar, cada vez mais, além da nossa comunidade, num trabalho de rede e de intercâmbio com outros grupos de juventudes.
Para Marcus, as organizações que atuam com a juventude devem priorizar a formulação de agendas que envolvam problemas em totalidade, priorizando o fortalecimento de redes na América Latina.
A vida de um jovem não é separada em fatias. Resolver educação envolve resolver saúde mental, segurança alimentar da família, e tudo mais. O Relatório de Riscos Globais, do Fórum Econômico Mundial, aponta para os riscos da desilusão juvenil, pela falta de esperança que a população jovem tem sentido por um conjunto de fatores.
Kendra afirma que um terço da população da Guatemala tem acesso a serviços de segurança social, e que esse quadro precisa ser revertido urgentemente.
As desigualdades não nascem sozinhas e tudo se conecta para que elas se mantenham. Há cada vez menos pessoas com condições de sair de uma crise. Quem está provocando essa permanência?
Para Molly, pensar sobre o presente é decisivo para que se chegue num futuro possível.
Os jovens não são o futuro, mas o presente. São agentes que lutam constantemente pela mudança e pela justiça social. Independente de etnia, orientação sexual ou identidade de gênero, temos que lutar pelos direitos humanos.
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