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Campanha Todas Juntas Vencem, do projeto Meninas em Movimento, é lançada em Pernambuco
Campanha Todas Juntas Vencem, do projeto Meninas em Movimento, é lançada em Pernambuco
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Micaella Pereira / ActionAid Brasil
Cerca de 70 adolescentes protagonizaram um momento histórico para o projeto Meninas em Movimento: elas lançaram a campanha Todas Juntas Vencem, de enfrentamento ao assédio e ao abuso sexual contra crianças e adolescentes, na Câmara Municipal de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Na casa legislativa, onde vereadoras e vereadores formulam políticas públicas, as jovens mostraram que podem ser protagonistas neste processo.
A solenidade, no dia 22 de setembro, contou com a participação de integrantes do legislativo municipal, das redes de proteção e dos comitês locais. Também participaram do lançamento representantes da ActionAid, realizadora do projeto, do Centro das Mulheres do Cabo (CMC), da Casa da Mulher do Nordeste (CMN) e da Etapas, organizações parceiras à frente da mobilização nos sete territórios pernambucanos em que o Meninas em Movimento atua. O projeto Meninas em Movimento tem o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Ambiental.
No lançamento, meninas de todos os territórios ocuparam a plenária da casa legislativa de forma organizada e participativa, compartilhando papéis e espaços com palavras de ordem que exaltavam a ação das meninas e o autocuidado para a prevenção e o enfrentamento à violência sexual. Elas se expressaram por meio de linguagens visuais, artísticas, musicais e corporais, usando cartazes, poesias e paródias produzidas nas oficinas do projeto.
O grupo foi recebido pela vereadora Gisele de Dudinha, anfitriã da solenidade na Cãmara Municipal, que discursou na plenária para parabenizar o trabalho:
“Estou muito feliz em estar ocupando este espaço levando a voz de tantas mulheres e meninas. Reitero o compromisso com a causa da mulher e me sinto honrada em receber esse convite e estar presente nesse movimento e nessa luta”.
Maria Eduarda, de 17 anos, moradora do Engenho Massangana, nunca imaginou que estaria naquele lugar falando, inspirando outras meninas. “Quando eu me sentei ali [na plenária], eu me imaginei no futuro. Quero muito estudar para estar ali um dia e poder repassar as coisas que eu venho aprendendo”, relata Maria Eduarda.
A jovem, que deseja atuar na área de comunicação, destaca a importância dos estudos para empoderar as meninas.
“Um dia eu quero estar aqui falando como aconteceu, como tudo evoluiu, como a gente repassou as coisas. Quero ir a fundo. O povo vê a gente, mulher, como fraca, mas se a gente estudar, for atrás, e botar nossa voz no mundo, a gente consegue tudo. Meu recado para vocês, meninas, é que vocês não se calem porque sempre vai ter uma pessoa para ouvir vocês”, completa.
A presença das meninas na casa legislativa municipal não foi por acaso. A especialista em Monitoramento e Projetos da ActionAid, Tricia Calmon, ressaltou, para as jovens, que lançar a campanha Todas Juntas Vencem na Câmara de Vereadores é bastante representativo por ser um dos lugares onde as políticas públicas são elaboradas e decididas:
“Quando vocês entram por aqui, vocês estão construindo exatamente isso. Imagino que algumas de vocês já tenham noção, e outras ainda terão, do que significa entrar por aquela porta e descobrir tudo o que acontece por aqui”.
O que mais deixa Tricia contente, na campanha, é a qualidade da construção. Para ela, dentre as coisas mais importantes do projeto, está a integração da comunicação com a voz de quem fala.
“A gente vê várias campanhas Brasil afora sempre dirigidas a adultos. Falar com pessoas que muitas vezes não têm onde falar, no entanto, como neste projeto que estamos construindo, é muito inovador”, destaca Tricia.
Segundo ela, muitas vezes, as mulheres adultas são as pessoas que pedem que se silencie sobre o assunto, pois foram educadas assim:
“Queremos, aqui, construir uma educação formal ou não-formal na qual haja lugar para falar, na qual não se precise silenciar dores e, principalmente, na qual tenhamos ouvido para escutar a dor das outras e ainda tenhamos condição de, a partir do não-silenciamento, realizar a prevenção”.
Para Maria Luiza, de 12 anos, moradora do Ibura, no Recife, fazer parte dessa campanha é algo muito especial, porque ela, até então, não sabia como lidar com certas situações:
“Eu já vi cenas de abuso sexual e de machismo na minha infância, e eu não entendia nada, porque eu era muito pequena. Com essa campanha, eu aprendi a ser jovem, a ser mulher, a saber os meus direitos, o que eu posso. Participar dessa campanha vai ajudar várias meninas”.
Com a campanha recém-lançada, um grupo de meninas já pôde colocar em prática os ensinamentos durante a estreia do Festival das Juventudes pela Democracia, evento realizado, em 24 de setembro, pelo Fórum das Juventudes de Pernambuco (Fojupe). Em Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, o fórum reuniu diversas manifestações culturais em defesa dos direitos da juventude e do Estado Democrático de Direito.
“Elas abordaram jovens, distribuíram adesivos, dialogaram sobre a campanha, conversaram sobre o intuito delas ali, e foram todas muito bem recebidas”, conta a assessora de Comunicação da Casa da Mulher do Nordeste, Emanuela Castro. Ela acompanhou meninas do território de Passarinho durante o evento. “Esse primeiro passo, com as meninas falando com suas pares, foi um momento bem importante para elas e para a campanha”, completa a assessora.
De acordo com a Coordenadora de Engajamento Digital da ActionAid, Erika Azevedo, ações de multiplicação como essa são uma das duas frentes da campanha, que começa a chegar ao público por meio de mobilizações em comunidades, escolas e espaços públicos. Existe também a frente digital, que vai ser ativada a partir das oficinas de Digital Influencer, que começam ainda em outubro.
“É nas oficinas que as meninas vão desenvolver conteúdo digital para a campanha a partir das propostas criadas pela Angola [a agência que está estruturando a campanha]. As meninas vão usar suas próprias redes para multiplicar o conteúdo”, explica Erika. Ainda na frente digital, a coordenadora de Operações da Angola, Rafaela Valença, explica que uma parte do conteúdo da campanha é “institucional” e vai ser veiculada nas redes das organizações.
O professor e técnico em Direitos Humanos da secretaria de Educação do Cabo de Santo Agostinho, Jorge Lins, também integrante da rede de proteção e comitê locais, encara esse trabalho como uma formação permanente, que empodera as meninas desde novas para que enfrentem essas situações de abusos.
“Acho importantíssimo esse lançamento de forma simbólica dentro da Câmara, pois mostra o quão importante é esse trabalho aqui. Tanto nossos representantes no legislativo municipal quanto o governo municipal devem apoiar e fortalecer cada vez mais”.
Também otimista com a campanha está a psicóloga Katy Lucena, que integra a rede de proteção e comitê locais. Segundo ela, a experiência geral do projeto tem sido interessante, porque já é possível perceber um reflexo positivo dentro das comunidades e da própria rede de proteção das meninas.
Katy diz que as ações do Meninas em Movimento estão estimulando outras meninas a procurar a rede de apoio e enfrentamento à violência dos municípios, que conta com órgãos como conselhos tutelares, centros de Referência da Mulher, delegacias, centros de Referência de Assistência Social e centros de Referência Especializado de Assistência Social.
“Já teve quem veio fazer denúncia que ouviu falar no projeto e foi procurar a gente. Por isso, a importância dessa interligação do comitê e a rede em si para que a gente possa trabalhar de mãos dadas: o comitê do projeto, na prevenção, e os órgãos da rede justamente na ação, no enfrentamento“, relata Katy, que atua no Centro de Referência da Mulher do Ipojuca, um dos municípios atendidos pelo projeto.
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