ActionAid discute os novos desafios para a defesa da agroecologia no 12º CBA
Em todos os 25 anos de presença nos mais diversos territórios brasileiros, a ActionAid atuou – e segue atuando – de forma consistente com os movimentos agroecológicos. Mas hoje, os desafios enfrentados pela agroecologia vão muito além do que se poderia imaginar anos atrás. As disputas com o capital financeiro e os interesses da indústria energética de matrizes renováveis estão na ordem do dia, e desdobram novos debates, cada vez mais urgentes.
A organização continua construindo um futuro pautado por uma agricultura sem veneno, resiliente ao clima e pacífica com o meio ambiente e os povos tradicionais. E, por isso, atuou como apoiadora do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), realizado de 20 a 23 de novembro no Rio de Janeiro.
Duas atividades autogestionadas promovidas pela ActionAid compuseram a programação do evento, que completa 20 anos, e que apresentou como mote, nesta edição, a “agroecologia na boca do povo”. No dia 21, a organização realizou uma roda de conversa no Passeio Público com o tema “Como as finanças se apropriam e destroem nossos territórios”. O encontro contou com a participação de representantes do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA-NM), do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Carta de Belém e do Grupo de Estudos sobre Mudanças Sociais, Agronegócio e Políticas Públicas (GEMAP/UFRRJ).
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Glauce Arzua, diretora de Engajamento Público da ActionAid, refletiu a importância de pensar a agroecologia no centro da justiça social:
A agroecologia é mais que uma técnica: é uma forma de viver, pensar, produzir, reproduzir e manter a riqueza de saberes e da natureza.
Júnior Aleixo, especialista em Justiça Climática da ActionAid, conduziu a roda de conversa sobre os impactos do capital financeiro nos territórios agroecológicos. Ele explicou como os sistemas financeiros vêm se expandindo para atuar no campo e nas florestas e, assim, gerar falsas soluções que visam lucratividade e que sacrificam a possibilidade que a agroecologia traz, de uma sustentabilidade que se autorreproduz.
Discutir essas temáticas nos possibilita construir estratégias de resistência e decodificação de como essas finanças entram nos territórios e impactam diretamente suas dinâmicas. A agroecologia é o exato oposto do que as finanças vêm fazendo. Não só por capacidade técnica, de produção, preservação ou manejo. Mas por ser um sistema que se autorreproduz, que é biodiverso, e que tem condições materiais de constituir um processo de combate às mudanças climáticas.
Bruna Figueiredo, do GEMAP/UFRRJ, discutiu como a vida cotidiana regida pelas finanças se tornou decisiva para que a agricultura como um todo fosse fisgada por esse regime de investimento.
Mais da metade do financiamento agrícola, inclusive nos planos do governo, se deu por recursos privados do capital financeiro, do ano passado para cá.
Camila Moreno, da Carta de Belém, descreveu as incongruências das soluções promovidas pelos setores privados para conter impactos ambientais. Com um mapa, ela explicou como os créditos de carbono são uma metodologia que não contempla as necessidades reais da natureza nos territórios.
O plantio de árvores que consomem mais gás carbônico é pensada justamente para a natureza que recebe mais sol, onde é possível fazer mais fotossíntese: ou seja, a natureza tropical. Logo, se desconsidera que esses territórios têm suas biodiversidades, seus povos, suas culturas, suas espiritualidades. Mas só tem valor de mercado o que o satélite enxerga.
Aleixo ressaltou que as atividades financeiras vêm gerando impactos ainda mais severos para os diversos povos tradicionais que vivem nos territórios agroecológicos.
A agroecologia é um sistema completo que diz respeito a questões de gênero, raça e econômicas. Para nós é importante denunciar que as altas finanças são um impeditivo da agroecologia e, consequentemente, de outros modos de vida.
O antropólogo Breno Trindade, do CAA-NM, destacou como os mais variados povos do Norte mineiro vêm sofrendo com as pressões do capital financeiro e as omissões do estado. São instituídos parques sem a devida consulta a quem vive nos territórios – e os guarda.
As comunidades tradicionais – indígenas, quilombolas, geraizeiros – são as que sofrem os impactos mais diretos desses mecanismos. E mesmo nesse contexto criam formas de resistência, alternativas a esse processo.]
Maria Natividade, coordenadora do MIQCB, e o geraizeiro Orlando dos Santos, descreveram os conflitos que vêm enfrentando com a expansão de empresas – e como a precariedade também avança, restringindo a produção agroecológica.
As comunidades tradicionais no Norte de Minas estão em terras do Estado. A dor de um é a dor de todos, passamos por situações parecidas, que dizem respeito à omissão do Estado, que facilita o acesso de empresas às nossas terras. Esses grandes empreendimentos ocorrem justamente onde nós estamos
, pontuou Orlando.