8M: conheça mulheres que combatem a fome com solidariedade na pandemia
As mulheres estão no centro do trabalho da ActionAid, não só recebendo nosso apoio, mas também liderando ações nas comunidades onde vivem. Em momentos de crise, como o que estamos vivendo há quase um ano com a pandemia do coronavírus, o papel das mulheres se torna ainda mais importante. Em um cenário de aumento da fome e da pobreza, são elas as protagonistas da maioria das nossas respostas de emergência no combate à Covid-19, levando bem-estar, dignidade e acesso a alimentos e itens essenciais nas comunidades mais vulneráveis em que atuamos no Brasil.
Combate à fome e à violência em Pernambuco
Izabel Santos é uma dessas mulheres na linha de frente. Ela faz parte da equipe de coordenação do Centro das Mulheres do Cabo – CMC, organização parceira da ActionAid que há quase 37 anos vem trabalhando pelo empoderamento de mulheres do Cabo de Santo Agostinho, cidade litorânea de Pernambuco. Muitas delas trabalham em empregos informais, outras tantas são marisqueiras e pescadoras. Durante a pandemia, essas famílias se viram totalmente desprovidas de recursos.
Quando a pandemia se instalou, fizemos várias ações para apoiar essas mulheres. Então o CMC fez uma campanha para arrecadar recursos e alimentos para essas famílias, muitas inclusive com dificuldade de acesso a água potável. Conseguimos ajuda para conseguir água, filtros de água e uma série de alimentos não perecíveis para ajudar no combate à fome.
A campanha teve início em abril e contou com apoio da ActionAid e outros parceiros. Até outubro, as ações conseguiram atingir mais de 2 mil famílias com doações de cestas básicas, itens de higiene, água mineral, filtros de barro e vales-gás. Junto às cestas, o CMC também disponibilizou cartilhas da Lei Maria da Penha e com dicas básicas de como mulheres poderiam se proteger e a suas crianças, e as formas de como pedir ajuda na pandemia, devido ao aumento nos índices de violência doméstica, agravado pelo fato de muitas mulheres estarem isoladas com seus agressores durante a quarentena.
O sentimento que eu tenho é de gratidão a quem colaborou e vem colaborando, e também de sensação de dever cumprido, pois nós não ficamos inertes diante da fome e da dor que a pandemia trouxe para a vida das mulheres. Tenho orgulho de fazer parte do CMC e dessa parceria com a ActionAid, e de estar na linha de frente no combate à fome e na violência, nessa luta árdua que é. A sensação é de gratidão por poder contar com apoio de outras pessoas e responsabilidade por conta da adesão a nossa campanha. É muito importante saber que a gente pode contar com apoio nessa luta na defesa dos menos favorecidos.
Rede solidária em Minas Gerais
Com o que produz no seu quintal agroecológico, a agricultora Vera Lúcia Ferreira distribui alimentos e conhecimento para as mulheres de sua comunidade, na Zona da Mata de Minas Gerais. Ela defende que saber plantar o próprio alimento é a forma mais eficaz de combater a fome, principalmente em tempos de pandemia.
Com a pandemia, a gente não pode ficar indo e vindo. E se a pessoa produzir, não precisa sair para buscar tantos alimentos fora. Tem muita coisa boa no meu quintal que alimenta: mandioca, quiabo, taioba, frutas, legumes… Com isso, o quintal mata a fome da minha família. Eu não planto para vender. Eu uso para minha família e doo para parentes, para vizinhos. Às vezes eu troco alface por almeirão, mostarda, etc. Nós, mulheres que produzimos, trocamos alimentos umas com as outras. A gente não tem condição de produzir em grande escala, mas eu consigo doar. Isso me deixa muito feliz.
Vera é também coordenadora geral do Centro de Tecnologias Alternativas – CTA, organização parceira da ActionAid na região, que apoia e capacita agricultoras familiares nas práticas da agroecologia – uma agricultura sem veneno, sustentável e resiliente ao clima.
Com esse momento que estamos vivendo, a gente tem que não só produzir, mas também ensinar as mulheres da nossa comunidade a produzir. A gente dá o peixe, mas ensina a pescar. Eu oriento as mulheres e elas conseguem fazer diferença na alimentação da sua própria família. Essas orientações servem para todas as mulheres da nossa comunidade, porque nós mulheres que temos esse costume de produzir e trocar mudas, alimentos, sementes e experiências. É um costume de muitos anos que a gente carrega. Esse esforço de ensinar para as meninas e mulheres, de geração em geração, vamos levando assim também durante essa pandemia do coronavírus.
Sabores e cuidados na Maré
No Rio de Janeiro, há 10 anos a ActionAid apoia o projeto Maré de Sabores, iniciativa da nossa parceira Redes da Maré no maior complexo de favelas da cidade. Mariana Aleixo é coordenadora da iniciativa. Ela conta que, com a pandemia, teve o desafio de pensar, de forma rápida, soluções para a sua ação de projeto, composta por mulheres da Maré, cozinheiras, que tiveram sua renda impactada, diretamente, pelas restrições impostas ao setor de alimentação para mitigar o contágio do coronavírus.
A solução encontrada foi reorganizar o serviço de buffet do Maré de Sabores para apoiar o território no enfrentamento da crise. Foi assim que surgiu a primeira ação na rua da campanha “Maré diz Não ao Coronavírus”: a produção de quentinhas para serem distribuídas para a população em situação de rua da Maré, que nesse período, ficou mais vulnerável ao contágio.
As refeições saudáveis e diárias foram uma prática de redução de danos, que garantiu segurança alimentar, imunidade, redes de acolhimento e um acompanhamento sistemático da população em situação de rua da Maré e assim, inventamos uma outra frente de atuação no nosso projeto, que desejamos continuar em 2021.
Batizada de “Sabores e Cuidados”, a ação garantiu refeições diárias para população em situação de rua e, também, gerou trabalho, renda e cuidados para as cozinheiras do buffet Maré de Sabores. O trabalho envolveu 76 pessoas em diferentes funções e alcançou 300 moradores em extrema vulnerabilidade social diariamente. Ao todo, foram distribuídas 65 mil quentinhas.
Em 9 meses, foram produzidas 250 refeições e distribuídas diariamente para a população em situação de rua na Maré. Mobilizamos 52 mulheres entre produção das refeições, montagem das quentinhas e distribuição. A ação garantiu segurança alimentar para a população em situação de rua da Maré e possibilitou renda fixa para 12 cozinheiras, das 16 favelas da Maré, envolvidas na produção das refeições, em sua maioria, únicas responsáveis pelo sustento de domicílios e famílias.
Solidariedade na maior favela de São Paulo
Heliópolis é a maior favela de São Paulo, com cerca de 200 mil moradores. Durante a pandemia, apoiamos nossa parceira UNAS Heliópolis em uma campanha para garantir acesso a alimentos e itens de higiene e limpeza aos moradores da favela e de comunidades periféricas do entorno.
Moradora de Heliópolis, Milena tem 21 anos e é educadora social de um dos Centros da Criança e do Adolescente da UNAS. Desde o início da pandemia, ela integrou a linha de frente de várias as ações de combate à crise do coronavírus na comunidade, como a distribuição de cestas básicas.
Foi um ano muito difícil. Por mais que todos nós já soubéssemos da desigualdade social e da falta de políticas na comunidade, nós presenciamos de perto o quanto as pessoas precisavam ainda mais de nós. O quanto a pandemia afetou a vida das famílias. Foi isso que nos deu forças para continuar.
Essa rede de solidariedade fez toda a diferença. A campanha de emergência liderada pela UNAS distribuiu 40.924 cestas básicas, além de 228.225 itens de higiene e limpeza, 395.940 máscaras de proteção e 1.921 botijões de gás em 200 dias de campanha.
Todos foram essenciais nessa luta – mas em especial a mulherada, que estava em peso na linha de peso na linha de frente para vencer a fome. Sempre em busca de fortalecer as famílias e um dos nossos princípios, que é a solidariedade. Foi e tem sido muito triste ver mães solo sem nada em casa, muitas vezes sem fonte alguma de renda, desempregadas. Infelizmente, essa é uma realidade a qual tentamos mudar todos os dias. Um dia a gente consegue. Independentemente de qualquer coisa, a nossa luta continua.
Você também pode apoiar mulheres como Izabel, Vera, Mariana e Milena. Junte-se a nós e faça a diferença.