A situação é tão cotidiana que 86% já tomaram alguma atitude para se proteger. Mudar de caminho, evitar ruas escuras ou pedir que uma pessoa acompanhe o trajeto, por exemplo, são medidas tidas como normais para muitas mulheres. Mas encontrar jeitinhos para driblar o perigo nem sempre é possível. São inúmeras as histórias de mulheres que enfrentam dificuldades para estudar ou trabalhar por conta da insegurança do seu percurso.
Ninive Nascimento, 26 anos, vive na favela de Heliópolis, em São Paulo. Ela frequenta uma universidade no centro de São Paulo, a quase 20 quilômetros de distância de onde mora. Depois de um dia de trabalho, ela vai para a universidade. Ela está sempre cansada, mas o que a incomoda, mesmo, é a sensação de insegurança ao longo do trajeto de ida para a universidade e no retorno para casa às 11h da noite.
Não existe ponto de ônibus em Heliópolis. Então, eu tenho que fazer a pé todo o caminho de casa até a rua principal e o ponto de ônibus. O ponto de ônibus é escuro e não tem segurança. Os ônibus chegam sempre lotados, mas, na hora do rush, é impossível embarcar. Os trabalhadores que vivem aqui têm que acordar muito mais cedo ou sair do trabalho mais tarde para evitar os ônibus superlotados na hora do rush.
Serviços públicos precários, como ruas mal iluminadas, transportes lotados e policiais despreparados, deixam as mulheres e meninas ainda mais vulneráveis. Em outro relatório da ActionAid, o Liberdade de Locomoção, fica claro que os governos não estão investindo o suficiente nos transportes públicos para que eles sejam seguros e sensíveis a gênero. Além disso, o planejamento urbano é feito sem incluir as mulheres e sem pensar em suas vidas. Muitas conciliam o trabalho e cuidados com a família ao longo do dia e para isso utilizam o transporte com mais frequência e de forma mais complexa.
Queremos que os governos planejem serviços públicos sensíveis a gênero. Isso vai transformar as cidades em lugares mais seguros para as meninas e mulheres, e uma cidade segura para elas é uma cidade segura para todos. Aproveitamos esse 25 de novembro para dar largada aos #16diasdeativismo pelo fim da violência contra as mulheres pedindo cidades seguras e livres de medo.