Pnad traz alerta para piora nas condições de vida da população
Os indicadores da PNAD 2015, divulgados do último dia 25, não chegam a trazer surpresas, embora demonstrem sensível piora nos rendimentos dos trabalhadores e em relação aos dados sobre emprego. Não surpreendem, porque refletem as consequências já sabidas do ajuste fiscal realizado a partir de 2015 e da recessão desencadeada por esse ajuste. O rendimento resultante de todos os trabalhos teve uma queda de 5% no período de um ano. As regiões Nordeste e Norte tiveram piores desempenhos e a região Sul, o melhor, o que é um outro dado preocupante, pois mostra uma perda mais acentuada em regiões mais pobres. Mantiveram-se algumas tendências positivas, como é a de redução da diferença entre o rendimento médio masculino e feminino.
Por outro lado, registrou-se uma queda da população ocupada, de 3,9%, em relação ao ano anterior, em todos os grupamentos (serviços, comércio e reparação, atividades agrícolas, indústria e construção). Esse quadro revela o aumento do desemprego em acentuada intensidade. Outros indicadores reforçam o quadro de perdas que vem atingindo o trabalho e sua remuneração.
É oportuno lembrar que os resultados dos últimos dois anos ameaçam fazer retroceder uma série de avanços obtidos pelo país, sobretudo em relação à condição de vida da maior parte de sua população. Pode-se argumentar, em contraposição, que a desigualdade continuou caindo, seguindo a trajetória dos últimos anos. Mas neste aspecto, deve-se observar que tal resultado se deu, não por qualquer melhoria no rendimento dos mais pobres e sim pelo fato da perda de renda ter sido um pouco mais acentuada para o pequeno grupo dos mais ricos.
Vale um alerta. A insistência em medidas recessivas para enfrentar as atuais dificuldades econômicas e, pior, o aprofundamento dessas medidas, como agora ocorre, poderão comprometer seriamente as condições de vida da maior parte da população brasileira. Pior ainda se, ao lado da queda do rendimento e crescimento do desemprego, vierem a se confirmar as perdas em relação aos serviços públicos, da maneira como está em marcha, na discussão da PEC 55 (antes chamada PEC 241), em vias de aprovação no Congresso Nacional.
Todas essas tendências se agravam ao considerarmos o cenário internacional, marcado pela recessão econômica e a instabilidade geopolítica. O Brasil não sairá da crise com ajustes que aprofundem a recessão, mas com políticas corajosas que estimulem a criação de empregos, a inovação tecnológica e a distribuição de renda. Contamos com vasto mercado interno e capacidades produtivas ociosas que devem ser potencializadas em função de um projeto de nação que vá além de sermos um país agroexportador. Só dessa forma será possível reverter os indicadores que hoje nos mostra a PNAD.