Jovens do Meninas em Movimento participam de Rodas de Cuidado e Afeto
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Alcione Ferreira
Depois de muita convivência durante as diversas atividades do Meninas em Movimento, jovens do projeto participam, agora, das Rodas de Cuidado e Afeto. Neste ciclo de fortalecimento de laços, o foco são o autoconhecimento, autocuidado e autoestima, sempre visando ao enfrentamento do abuso e da violência sexual. Elas aprendem sobre os sistemas reprodutores feminino e masculino, a utilização de preservativos e tiram dúvidas sobre sexualidade, por exemplo.
O projeto, realizado pela ActionAid, atua em sete territórios de Pernambuco com a parceria das organizações locais Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, e o patrocínio da Petrobras e do Governo Federal.
O território do Ibura, no Recife, é um dos que já realizaram os cinco encontros do ciclo, que contou com a participação da psicóloga Renata Farias, da Etapas, para mediar as interações e fazer o acompanhamento das meninas. Foi ela quem acompanhou as mães do Ibura nas Rodas de Cuidado direcionadas a mulheres adultas no início do projeto.
“É interessante concluir essa rede que o projeto se propõe a formar. Agora, quando volto, vejo quem são essas meninas de que as mães tanto falavam, que demandam tanto cuidado delas”, conta Renata, responsável por iniciar um plantão psicológico de demanda espontânea, abrindo, assim, um maior espaço de acolhimento para quem desejar.
Estudo sobre órgãos reprodutores e formas de proteção
O primeiro encontro foi chamado de Ciclo de Cultura, no qual foram levantadas temáticas a serem trabalhadas durante as rodas. Surgiram temas como saúde sexual e reprodutiva, saúde mental, consumo de álcool e outras drogas, internet e redes sociais, além de afeto e relacionamentos, abordando como se permitir ser cuidada e cuidar de si mesma.
Uma das demandas mais latentes foi pela compreensão da sexualidade e pela educação sexual, o que gerou a participação especial da ONG Gestos Soropositividade, Comunicação e Gênero na roda de encerramento, com troca de informações e demonstrações práticas de autocuidado.
Entre as práticas, as meninas puderam conhecer melhor os sistemas reprodutores feminino e masculino, aprender sobre preservativos, além de tirar dúvidas sobre sexualidade. Elas também debateram juntas a cartilha com histórias em quadrinhos intitulada “Viver Melhor sem Preconceitos e com Direitos: Crianças e Adolescentes Vivendo e Convivendo com HIV/AIDS”.
A psicóloga Tânia Tenório, que atua na Promoção de Direitos e Controle Social da Gestos, explica o trabalho feito junto ao Meninas em Movimento:
“Um dos eixos para o exercício da sexualidade é a informação para que elas entendam todos os processos, tenham autonomia de escolha e os insumos necessários, acessem os serviços de saúde e educação com qualidade. É através da informação que a gente vai construindo o processo de autonomia das meninas e das mulheres”.
Para além dos temas trabalhados, as meninas puderam praticar habilidades sociais em relação a como elas desempenham o acolhimento e a ajuda mútua.
“Mesmo havendo esse senso de coletividade de forma subjetiva, agora, a gente consegue ver de forma mais concreta: o cuidado com o corpo e com a saúde mental. A saúde mental está em nosso corpo, a gente pensa e age com o corpo. Isso também está na comunidade, esse bem estar, no ir e vir, em se mobilizar. A gente compreende que essas interlocuções do ciclo de cuidado e afeto também estão contribuindo para esse senso de mobilização social”, relata Renata Farias.
‘Aprendemos sobre autocuidado e proteção do nosso corpo’, diz adolescente
Samara Rianna, de 14 anos, é uma das meninas que aproveitaram bastante os encontros, aprendendo, ensinando e se sentindo acolhida, não só pela psicóloga, mas por todas as meninas do grupo, que ficaram mais unidas após a realização das rodas.
“O Meninas em Movimento não é só um grupo de meninas que está fazendo protesto por aí. A gente aprende muito além de feminismo, é um grupo de acolhimento”, relata Samara.
Ela acrescenta que se sente mais bem informada depois do ciclo:
“Os assuntos são falados de um jeito que abre a mente da gente. A gente aprendeu sobre virgindade e rompimento do hímen, sobre controle do nosso corpo, que nem todo mundo pode tocar nele, e que é preciso se sentir segura antes de ter relação com alguém”.
Nikolle, de 12 anos, compartilha do mesmo encantamento de Samara. Foi muito bom, para ela, aprender assuntos relacionados à sexualidade e conhecer toda a diversidade de gênero existente. Ela faz questão de reconhecer o trabalho realizado nas rodas.
“Quando a gente conversa com Renata, parece que a gente conversa com uma mãe. Se todo mundo pudesse entrar nesse curso, acho que ninguém iria querer sair. A gente pegou muito afeto por ela e não quer que acabe. Tem meninas que não conheciam a própria sexualidade, nem a si mesmas. O projeto sempre acolhe e ajuda a saber quem nós somos”.