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Oficinas de mídia amplificam a voz das jovens do projeto Meninas em Movimento no enfrentamento à violência sexual
Oficinas de mídia amplificam a voz das jovens do projeto Meninas em Movimento no enfrentamento à violência sexual
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Ivan Melo
As oficinas de Mídia Advocacy do projeto Meninas em Movimento estão dando o que falar. Literalmente. Nas atividades, as jovens têm desenvolvido habilidades de comunicação com o objetivo de atuar como multiplicadoras no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. A evolução das meninas já é visível na avaliação das educadoras, mesmo com o ciclo de dez oficinas ainda em andamento.
O trabalho acontece nos sete territórios pernambucanos onde o projeto é realizado pela ActionAid em parceria com as organizações parceiras Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do programa Petrobras Socioambiental. Em cada um desses lugares, busca-se contextualizar os temas de acordo com as realidades locais.
Os encontros utilizam uma metodologia de educação inclusiva, participativa, dialogada e popular, inspirada no educador Paulo Freire (1921-1997), que consiste em uma maneira de educar se conectando ao cotidiano e às vivências das meninas. Vivências que elas aprenderam e reproduzem, e que logo impactam nas vidas delas em sociedade, como explica a educadora Flávia Lucena, que integra o quadro do Centro das Mulheres do Cabo e é responsável pelas oficinas de Mídia Advocacy no território do Ibura, no Recife:
“Nossa prática é norteada pelos princípios da educomunicação, que visa não apenas ao acesso e ao aproveitamento das ferramentas de comunicação, mas também à qualidade das relações e do aprendizado por meio do diálogo. Além disso, o respeito aos princípios democráticos, a valorização e representatividade da diversidade nos meios de comunicação.”
Ainda de acordo com Flávia, que é atriz e jornalista, a construção metodológica considerou, em todo processo, a efetivação da comunicação como um direito fundamental. Sempre à luz do feminismo, a metodologia orienta que meninas e mulheres devem contribuir, na prática, para a elaboração e proposição dos conteúdos midiáticos, bem como atuar nas esferas públicas de comunicação. O objetivo é garantir o lugar das meninas como sujeitos políticos para a transformação social a partir do exercício de sua fala pública e qualificada.
A educadora Suzana Santos, responsável pelo ciclo de formação no Ibura, por meio da Etapas, já consegue identificar avanços na comunicação, no protagonismo, e também na liderança das meninas.
“Ainda vamos ter um momento de avaliação para escutar as meninas, mas já estive em algumas atividades com elas e eu vi que estão bem mais abertas. Algumas desenvolveram tanto essa habilidade para a comunicação que querem fazer o vestibular nessa área. As que já falavam estão falando mais e as que não falavam estão se colocando, sobretudo na participação delas nas dinâmicas”, afirma.
Geovana Sthephany, moradora do Ibura, tem 14 anos e é uma das mais participativas. Nas oficinas, ela se sente bastante à vontade para se expressar sem medo de errar, pois sabe que vai ter a ajuda das educadoras para explicar suas dúvidas.
“Uma pessoa desinformada é uma pessoa que não sabe os seus direitos. Eu aprendi no Mídia Advocacy que todo ser humano tem o direito à comunicação, e isso despertou em mim uma vontade muito grande de ser jornalista”.
A adolescente conta ainda que se identificou com várias práticas e temas estudados, entre eles, teatro, colcha de retalhos e racismo. “Gosto de ver figuras que me representam porque normalmente o que eu aprendo na escola é sobre homens brancos e cis, e eu não me sinto representada com isso. Aqui eu estudo a história toda, conheci (a escritora e filósofa) Djamila Ribeiro, conheci os meus antepassados, conheci o problema do racismo, as lutas das mulheres. Tenho que saber que para eu estar aqui existiram outras mulheres que lutaram por mim. Isso está me ajudando bastante e me deu muito conhecimento”, complementa Geovana, que já está levando essas discussões para a escola dela.
Já Déborah Victória, que tem a mesma idade e também mora no Ibura, está conseguindo perder a timidez a partir das oficinas. Em uma das atividades, ela participou de uma apresentação de programa de TV, em que percebeu que verbalizar é muito importante para enfrentar a violência sexual contra crianças e adolescentes.
“Eu consigo perceber algumas coisas que a maioria das pessoas veem, mas não conseguem falar sobre por medo, por não se sentirem seguras, ou por não se importar mesmo. O projeto está me ajudando a pensar melhor, a me expressar melhor, a me comunicar melhor, e a perceber detalhes que ninguém percebe, como as falas de algumas pessoas, os gestos, algumas coisas que elas praticam. É muito importante a gente se prevenir”.
As próprias educadoras do Mídia Advocacy já conseguem perceber a evolução das meninas ao longo do ciclo de oficinas. Entre as mudanças notadas estão o despertar da consciência crítica de que a voz de cada uma é importante para a vida delas e da comunidade. Elas também estão se conscientizando da importância da comunicação para cobrar seus direitos. Na prática, a análise crítica sobre a representatividade de meninas na mídia e em redes sociais tem permitido que elas se apropriem das diversas linguagens da comunicação: arte educação, corporal, teatro, rádio, televisão, redes sociais.
A educadora social Sintia Alves, que também está ministrando as oficinas no Ibura, explica que, além de compartilhar processos, caminhos e novas metodologias de aprendizados para elas aplicarem nas outras etapas do projeto, a exemplo da Campanha Todas Juntas Vencem, as oficinas são importantes porque ampliam o conhecimento acerca das temáticas do abuso e da exploração sexual. Isso se dá por meio da explicação de informações fundamentais para o empoderamento das meninas, tais como “o que o é o abuso?”, “como acontece?”, “quem faz parte da Rede de Proteção?”.
“De forma mais empoderada, as meninas conseguem difundir mais sobre assunto em sua casa, na escola e nos demais ambientes onde elas circulam, enfrentando a violência sexual por meio da informação qualificada”.
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