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No projeto Meninas em Movimento, mulheres e meninas se fortalecem para atuação política na sociedade
No projeto Meninas em Movimento, mulheres e meninas se fortalecem para atuação política na sociedade
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Ivan Melo
Muito além de atividades com dia e hora marcada, o projeto Meninas em Movimento busca sedimentar caminhos para o fortalecimento da cidadania como forma de enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes no cotidiano. Um desses caminhos é a formação política de meninas e mulheres, por meio de práticas e reflexões promovidas nos sete territórios beneficiados pelo projeto — com atuação no Recife, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, no litoral sul de Pernambuco. A iniciativa é realizada pela Actionaid, em parceria com as ONGs Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Historicamente nós ouvimos que política não é lugar de mulher. E desconstruir esse processo na nossa cabeça, sobretudo na cabeça das mulheres que até então não tiveram acesso à informação sobre seus direitos, é urgente. Essa transformação é necessária para mudar a condição de vida das mulheres, para que elas possam ser protagonistas da própria vida e da coletividade da comunidade
, argumenta a professora Nivete Azevedo, que coordena as atividades do Meninas em Movimento nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.
Como efeito do fomento à participação política de meninas e mulheres há ainda o intuito de impactar no desenvolvimento de políticas públicas de suporte aos desafios que a sociedade enfrenta como um todo, como explica a especialista em Monitoramento e Projetos da ActionAid, Tricia Calmon:
As meninas e mulheres são agentes-chave para a construção de processos de transformação, já que representam segmentos da população especialmente impactados por determinados tipos de violência.
Por isso, é urgente que, cada vez mais, as mulheres compreendam e apropriem-se de seus próprios direitos como cidadãs, pois esse é um elemento importante para que ocorram as mudanças na sociedade. Segundo Tricia, o conhecimento dos direitos é também importante ferramenta para o enfrentamento à pobreza e às diferentes discriminações vividas no cotidiano.
Esse domínio sobre os direitos é fundamental para a própria sobrevivência da mulher, para a proteção à vida da família, e para que ela se veja e protagonize sua história como sujeito de direito. Também para se afirmar como parte de coletivos com o objetivo de impactar e mudar a vida social e econômica da comunidade.
Através do exercício político, as mulheres tornam-se propulsoras na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, especialmente em decorrência de seus papeis como mães e como chefes de famílias nas periferias, como destaca a assistente social Itanacy Oliveira, diretora do Programa Mulher Trabalho e Vida Urbana da Casa da Mulher do Nordeste, que atua em Passarinho, no Recife.
Elas também são cidadãs e sabem a importância de proteger e cuidar dos vulneráveis. Fazem isso dentro de casa, mas também têm a possibilidade de atuarem como agentes políticos fora de casa, o que é muito relevante dentro de uma sociedade democrática.
Saber quais são seus próprios direitos é uma maneira de se preparar para agir como sujeito na sociedade, acredita Itanacy, construindo, somando e exercitando, ao lado de outras pessoas, o acesso à cidadania.
Para a realização desse trabalho, Tricia Calmon, da ActionAid, explica que as atividades do projeto Meninas em Movimento têm, dentre outras coisas, instrumentalizar as mulheres e meninas para conseguirem identificar o que são as violências, pois no senso comum existe uma compreensão de que violência é a física, aquela que agride o corpo, enquanto a violência moral e psicológica, por exemplo, é mais difícil de identificar.
Estamos criando espaços que fortaleçam relações de confiança, pactuando os acordos de respeito aos limites de cada uma, trabalhando com profissionais experimentadas que fazem com que os temas emerjam de forma orgânica.
Coordenadora geral do Centro das Mulheres do Cabo, Nivete Azevedo pontua ainda a grande capacidade da atuação das mulheres que têm entendimento de seus deveres e direitos como cidadãs — é um potencial avassalador para romper com as desigualdades e situações de violência.
Essa atuação política se dá na nossa comunidade, nas instâncias do poder público, entre outros locais, quando se ocupa um lugar de representação política, seja em uma câmara de vereadores, em uma assembleia legislativa, na prefeitura, ou outros âmbitos que decidem sobre a vida da população.
O projeto Meninas em Movimento tem levado o debate da participação política feminina para as comunidades durante as atividades das rodas de autocuidado. Muitas mulheres, entre tantos afazeres, falta de descanso, lazer e oportunidades, não se dão conta de que estão em processo de sofrimento e de violação dos direitos, como ressalta Nivete.
Ter domínio, por exemplo, sobre o próprio tempo, pode parecer uma tarefa simples, mas torna-se uma missão quase impossível quando recaem apenas sobre elas todos os cuidados com a casa e com a rotina dos filhos e do companheiro.
É como enxerga hoje a empreendedora Mônica Arruda, 45, que é mãe e participa do projeto no território da Nova Vila Claudete, no Cabo.
É muito importante porque o que a gente aprende nos encontros a gente vai passando em casa para ver se muda um pouco essa história de que as mulheres não podem. Mulheres podem, sim, podem aprender, podem participar de tudo que elas quiserem participar
, relata ela, demonstrando ainda o desejo de que cada vez mais mulheres compartilhem dessa experiência.
O foco do trabalho, segundo a coordenadora do Meninas em Movimento nos municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, tem sido promover um momento de atenção à própria saúde física e mental. É aí que surgem, nesses encontros, reflexões importantes. Por que tanta ausência de direitos? Por que a dificuldade para o exercício da cidadania? E se as mulheres são maioria, participam da vida das pessoas em todos os lugares, por que então não estão nos locais onde são tomadas decisões importantes? São algumas perguntas que as participantes se fazem e debatem nas rodas.
Especialmente para as comemorações do Dia Internacional da Mulher, o Meninas em Movimento trabalhou a temática “Mulheres unidas por mais direitos, poder e representatividade política”. Com a intenção de quebrar a ideia de que política é lugar só para homens, um dos exercícios simulou uma eleição entre as mulheres, com direito a diálogo de propostas e voto em urna, como conta Nivete:
Foi muito simbólico para que elas se percebessem nesse lugar de potência. O estímulo levou algumas delas, que se diziam tímidas, a ter coragem de dizer ‘eu sou a candidata’, ‘eu tenho tais propostas’. Promover o debate, uma votação, e fazer as participantes escolherem uma mulher foi muito fortalecedor para elas próprias.
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