Produção de máscaras na pandemia gera autonomia para mulheres no Recife
A boa costureira sempre encontra o viés certo para passar a linha e fazer uma boa costura – não importa o tecido, não importa a condição. Um exemplo disso é Marta Guedes, de 62 anos, moradora do Canal do Arruda, no Recife. Assim que ela soube da obrigatoriedade do uso das máscaras, em função da pandemia do coronavírus, ela tirou os retalhos guardados da gaveta para produzir o máximo que podia, mesmo tendo que cuidar da netinha dentro de casa. Chegou a virar noites em claro fazendo os ziguezagues na máquina.
A Usina da Imaginação, nossa parceira no Arruda, comunidade da periferia do Recife, encontrou outras histórias como a de Marta e decidiu costurá-las entre si. Junto com a ActionAid, desenvolveu uma estratégia para incentivar o trabalho dessas artesãs e facilitar a distribuição desses protetores faciais para a comunidade. São 11 costureiras apoiadas (e, também, um costureiro) nos arredores do Arruda, que receberam capacitação, materiais e renda para a produção. Ao todo, 9 mil máscaras foram confeccionadas e distribuídas para famílias da região.
Essa iniciativa faz parte do projeto Ciranda, conduzido na Região Metropolitana do Recife pela ActionAid em parceria com as organizações locais Usina da Imaginação, Etapas e Centro Luiz Freire. O projeto, desenvolvido com apoio da OAK e da Fundação Bernard Van Leer, chegou na capital pernambucana há três anos, com o objetivo de transformar a cidade num ambiente amigável para crianças até 6 anos de idade.
Assista ao vídeo e conheça essa ação:
Daiane Dultra, nossa assessora em Gestão de Projetos e Parcerias, explica que, com os desafios impostos pela pandemia, o foco do Ciranda, agora, é encontrar maneiras de proteger e apoiar as crianças e suas cuidadoras dentro dessa nova realidade.
Nessa pandemia nos vimos desafiados a pensar sobre como dar uma resposta a partir das crianças do projeto e de suas cuidadoras. No Canal do Arruda garantimos as máquinas de costura para as mulheres da comunidade.
Esperança e renda
Rita Oenning, coordenadora da Usina da Imaginação, explica que o objetivo é desenvolver a autonomia para essas trabalhadoras, que mapeiam seus consumidores na própria vizinhança e que podem se articular com vendedores ambulantes.
Começamos a desenvolver uma estratégia de distribuição de máscaras para a localidade. E obviamente, pensando em apoiar pessoas da periferia que já estavam fazendo algumas ações de produção. Formamos uma rede orgânica, na qual o próprio produtor de máscaras cria uma dinâmica de distribuição dentro do seu próprio território.
O projeto deu uma guinada na vida de Sônia Maria Alves. Antes da pandemia, ela trabalhava como vendedora autônoma de bebidas e petiscos, e viu sua atividade profissional ruir. Com uma máquina de costura novinha e um bom treinamento, ela conseguiu criar 100 máscaras em cinco dias.
Depois que a máquina chegou, a Marta veio aqui e botou a bobina e a linha, e me ensinou tudinho. Agora meu trabalho de cinco dias está todo aqui: lavado e ensacado. Agora que aprendi, daqui para frente vai ser o meu ganha-pão.
Outro articulado por essa rede de inovação é o vendedor de ovos Cidicley Fagne. Ainda de manhã, ele passa na casa de Marta e Sônia, pega as máscaras e bota dentro do carro de som. Junto com as dúzias de ovos, ele circula a mercadoria artesanal.
As pessoas conseguem arrumar um trabalho no meio disso tudo. E ainda fazer o bem.
Nesta crise, não podemos deixar ninguém para trás
Essa história mostra que, juntas e juntos, somos capazes de fazer muito! Quando investimos no poder das pessoas, permitimos que mulheres, jovens e crianças transformem suas próprias vidas e de muitas outras ao seu redor. Assim, com o seu apoio e com a força dessas pessoas, trabalhamos para fortalecer o desenvolvimento local de comunidades em maior necessidade.