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Jovens lideram ações para combater coronavírus, driblar fake news e ajudar quem mais precisa
Jovens lideram ações para combater coronavírus, driblar fake news e ajudar quem mais precisa
Com o isolamento social durante a pandemia do coronavírus, o uso de ferramentas digitais tornou-se fundamental para todos. Porém, nas comunidades mais vulneráveis tanto de zonas urbanas quanto rurais, o acesso à internet é limitado, há pouca ou nenhuma formação digital e um escasso acompanhamento do poder público. É nesses locais que muitos jovens ligados às organizações parceiras da ActionAid têm desempenhado um papel estratégico.
São jovens que estão à frente não só de ações de distribuição de cestas e kits de higiene, mas também de iniciativas para disseminar informação e combater fake news, de apoio àqueles que precisam utilizar aplicativos do governo e a quem tem dificuldade para manter o ensino à distância.
Além disso, meninos e meninas também estão atuantes na coleta e mapeamento de dados para gerar estratégias de contenção do coronavírus e pensar formas de superar os desafios onde vivem, como destaca Carolina Coelho, Assistente de Programas da ActionAid:
Mesmo sendo estatisticamente menos afetados pelo adoecimento causado pelo Covid-19, os jovens, especialmente negros e de regiões periféricas, já estão sendo profundamente afetados pela crise econômica. Enfrentam ainda dificuldades de se manterem nas atividades escolares à distância, seja por terem que assumir responsabilidades nos cuidados de casa, revezarem com outro parente o lugar na fila do auxílio emergencial ou mesmo pela dificuldade de acesso à internet. No nosso trabalho em diversas regiões do Brasil, observamos que, ainda que a luta por sobrevivência se sobreponha, é essa mesma juventude que mostra enorme potencial criativo e produtivo nas ações cotidianas, produzindo alternativas à crise durante e pós-pandemia.
Karoline de Oliveira, 20 anos, integrante do Observatório de Olho na Quebrada:
Há mais de um ano, participo do Observatório de Olho na Quebrada, coletivo de jovens que faz mapeamento de dados para preservar a memória da região e demandar políticas públicas e apoio da sociedade para superar nossos problemas. A gente faz mapeamento de tudo! Só durante a pandemia, já fizemos pesquisa sobre número de casos de covid-19 em Heliópolis, sobre impacto na renda das famílias, acesso à internet. Estamos mapeando também a questão emocional dos moradores e alimentação durante a pandemia. Teve um menino que respondeu que tem dia que come, tem dia que não come. Ele ia nas ações da UNAS para ter o que comer, por exemplo.
Outro ponto que estamos mapeando é o quanto os jovens estão abandonando estudos por conta do coronavírus. Já era difícil antes, agora os professores passam as atividades, mas o jovem que não tem computador? Eu mesma, que estudo enfermagem e também para o vestibular de medicina, tive que dar uma pausa porque minha família perdeu renda. Mas espero voltar e conseguir passar para a USP.
Eldimar Santos, 23 anos, graduado em administração e presidente da associação comunitária de Canto-Serrinha:
Estamos vivendo duas pandemias: a da Covid-19 e a das fake news. Então o fato de os jovens terem mais energia e estarem mais antenados faz muita diferença para propagar informação e apoiar quem precisa. Eu sou ‘jovem multiplicador’ do MOC e ActionAid e, logo no início, fizemos mapeamento para entender as principais necessidades da comunidade e assim elaborar projetos. Agora, seguimos o trabalho via whatsapp. Ajudei a criar grupo para os agricultores familiares venderem sua produção, por exemplo, e também apoio a disseminação de informação para o combate às fake news.
Clécia da Silva Oliveira, 26 anos, graduada em tecnologia e agroecologia. Poeta e moradora de Conceição do Coité:
Aqui o impacto na renda é muito forte. Então, além de contribuir com informações nas redes sociais, especialmente debatendo questões relacionadas a raça, também sou terapeuta holística e venho trabalhando com outros cinco terapeutas para amenizar o impacto emocional da pandemia. Já estamos com mais de 300 pessoas só em um grupo de whatsapp. A maioria são mulheres, e elas sempre comentam sobre a dificuldade de dormir, o medo do futuro, o medo da perda, ser contaminada e não resistir. Já não sei se sou eu que ajudo elas, ou elas que me ajudam. Também utilizo a escrita para trabalhar diversos temas e envolver as pessoas nos projetos que desenvolvo.
Michele Souza Nascimento, 21 anos, estudante de pedagogia e integrante da TiVi Griô:
Eu sou apaixonada por audiovisual e faço parte da TiVi Griô. Existe uma demanda grande de conteúdo para a gente. Por exemplo, levantamos a questão do aumento da violência e fizemos vídeos, lives, para conscientizar as pessoas a ficarem em casa. A gente fez uma campanha com vídeo para uso das máscaras que viralizou. Criei o roteiro, chamei as meninas pelo whatsapp, e gravamos. Tudo pelo celular mesmo. Aí vamos desenvolver também outros vídeos, podcast, rádio. Além disso, também estou envolvida nas videoaulas para a preparação do Enem. Estou nessa, incentivando os meninos e meninas a não pararem de estudar. Agora, estamos pensando também em estratégias com rádio e carros de som, porque nem todo mundo tem internet. Hoje, com 21 anos, eu sinto que tem uma geração atrás de mim a quem quero servir de referência. E para além do contexto da Covid-19, o audiovisual tem uma força enorme. Crianças e adolescentes precisam de escuta, são mais vulneráveis, mas têm força. Não podemos achar que só os adultos têm esse poder.
Edvânia Soares, 18 anos, estudante:
A Michelle é do audiovisual e eu sou do teatro, então nos juntamos para fazer campanhas em vídeo. Fizemos tudo pelo whatsapp. E também estou estudando por whatsapp. Faço o curso pré-vestibular do Grãos e no começo a gente fazia todas as aulas praticamente na sala virtual. Mas nem todo mundo tinha acesso à internet, ou o celular não tinha câmera. Aí estamos fazendo aulas via whatsapp. Eles enviam o link, as atividades em PDF ou links do YouTube, discutimos lá no grupo mesmo. Por exemplo, com matemática eu tenho dificuldade, aí em vez de trocar no grupo, a professora do Grãos me acompanha no privado. Eu tento fazer no caderno, tiro foto do exercício e envio, aí a professora explica o que está errado. Como eu tenho acesso a uma boa internet, quando amigas têm problemas eu passo o que foi dado nas aulas. O curso do Grãos é muito importante. Porque eu nunca imaginei que com 18 anos eu já teria passado para duas universidades e seguiria buscando o curso que eu quero, que é psicologia.
Stephane de Oliveira da Silva, 19 anos, estudante de Serviço Social no Recife:
O coronavírus vem impactando nas nossas vidas, trabalhos, casas, estudos. Embora não seja fácil ficar longe das pessoas que amamos, precisamos ser fortes e resistir, para o nosso bem. Sou jovem mobilizadora da Etapas e venho contribuindo disseminando informação nas redes sociais, tanto para combater fake news quanto para angariar doações e apoio. A gente está separado fisicamente, mas o termo ‘ninguém solta a mão de ninguém’ segue nos pensamentos e atitudes sempre. A gente está mobilizado para gerar uma rede de comunicação do bem. Tenho certeza de que, depois disso, abraços, beijos e até mesmo apertos de mãos terão novo significado.
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