Para jovens, educação é caminho para combater assédio contra meninas e mulheres
As mulheres e meninas são um dos principais focos do nosso trabalho em todo o mundo, pois elas são mais vulneráveis às consequências da pobreza. A violência e o assédio, por exemplo, impedem muitas mulheres de quebrarem os ciclos de pobreza em que vivem, limitando suas oportunidades e seu acesso ao estudo e ao trabalho.
Em estudo lançado no dia 30 de janeiro, apontamos que mais da metade, ou 53%, das brasileiras entre 14 e 21 anos convivem diariamente com o medo de ser assediadas. Com este resultado, o Brasil se revela o país onde as meninas se sentem mais ameaçadas cotidianamente, na comparação com outros três pesquisados: Quênia (24%), Índia (16%) e Reino Unido (14%).
A pesquisa, encomendada pela ActionAid e realizada com 2.560 jovens (homens e mulheres) entre 14 e 21 anos nos quatro países, teve o objetivo de descobrir quando e onde a exposição ao ódio contra as mulheres, o que traduz o termo misoginia, começa, e como as experiências generalizadas de assédio sexual ocorrem durante a adolescência. No Brasil, o estudo foi realizado em dezembro de 2018 e ouviu 500 jovens – 250 mulheres e 250 homens. A amostra incluiu participantes de todos os níveis de escolaridade e de todas as regiões do país.
Entre o grupo de mulheres brasileiras, 78% haviam sido assediadas nos últimos seis meses. Quando perguntadas quais tipos de agressões sofreram, elas relataram assédio verbal (41%), assovios (39%), comentários negativos sobre sua aparência em público (22%), comentários negativos sobre sua aparência nas redes sociais (15%), pedidos de envio de mensagens de texto com teor sexual (15%), piadas com teor sexual que as envolviam feitas em público (12%), piadas com teor sexual que as envolviam feitas nas redes sociais (8%), beijos forçados (8%), apalpadas (5%), fotos tiradas por baixo da saia (4%) e fotos íntimas vazadas nas redes sociais (2%). Setenta e seis por cento disseram se sentir confortáveis com a ideia de contar a alguém o que havia acontecido – 77% das meninas entre 14 e 16 anos afirmaram que o tinham feito.
“A ideia de que mais da metade das jovens brasileiras sai de casa todos os dias temendo sofrer algum tipo de violência é alarmante. Indica o nível de normalização de atitudes que agridem e provocam danos sobre suas vidas. Sentir medo não é normal”, afirma Ana Paula Ferreira, coordenadora de Direito das Mulheres da ActionAid no Brasil. Ela complementa:
O que algumas pessoas podem achar engraçado, ou mesmo um elogio, faz com que muitas meninas alterem suas rotinas, se desmotivem nas escolas, criem estratégias para transitar pelas ruas, ou mesmo gastem mais dinheiro para evitar se expor nos espaços públicos. São jovens e adolescentes iniciando a vida adulta, e isso impacta seu desenvolvimento pessoal, econômico e social.
Conscientização está crescendo
Ações que traduzem desprezo ou desrespeito pelas mulheres, no entanto, não são exclusividade do Brasil. Entre todos os países pesquisados, três quartos dos jovens (homens e mulheres) disseram ter sido expostos a atitudes negativas ou ofensivas em relação a meninas jovens nos últimos seis meses, e 65% das mulheres participantes enfrentaram alguma forma de assédio sexual neste período. Ana Paula comenta:
“É importante que esta pesquisa tenha ouvido também meninos, pois a discussão sobre a violência contra a mulher envolve a todos. Homens que assediam o fazem por diversas razões, incluindo o fato de que foram ensinados, em alguma medida, que isso é normal”, pontua Ana Paula.
A boa notícia é que a conscientização sobre o assunto parece estar crescendo nesta geração. Quando perguntados no Brasil sobre o nível de tolerância a determinadas agressões, 88% dos jovens (meninos e meninas) consideraram comentários negativos sobre a aparência de meninas inaceitáveis, e 85% se mostraram totalmente intolerantes a piadas sexuais envolvendo garotas – os melhores resultados entre os países.
Entre os jovens dos quatro países pesquisados que disseram ter testemunhado situações de assédio sexual nos seis meses anteriores à realização da pesquisa, 85% apontaram a vontade de impressionar os amigos, achar que seria engraçado ou acreditar que isso é “o que os homens fazem” como razões mais prováveis para a atitude do agressor.
No Brasil, uma proporção maior de jovens (44%) respondeu que o assédio testemunhado foi motivado pela crença do agressor de que a vítima consideraria um elogio ou ficaria feliz por alguém considerá-la atraente. Os brasileiros também lideram a lista de jovens que acreditam que as meninas são mais suscetíveis a assédio do que os meninos, com 83% das respostas.
Outra boa notícia: em todos os países, os jovens acreditam que a educação é, predominantemente, a resposta: 80% apoiam a educação como forma de combater o assédio contra meninas e mulheres. No Brasil, 59% disseram que ensinar os meninos nas escolas sobre como tratar as meninas é o caminho; 54% apontaram a educação de meninas, também nas salas de aula, sobre como denunciar assédios como medida importante; e 41% acreditam na necessidade de conscientizar professores a levarem as denúncias a sério, mesma porcentagem dos que afirmaram também ser importante educar os pais. Ana Paula conclui:
A proteção de meninas e mulheres é responsabilidade de toda a sociedade, e todas as instituições devem se mobilizar para isso, desde a família, passando pelos espaços religiosos, culturais, educacionais e laborais. Só assim todas nós poderemos conhecer, um dia, a liberdade de não sentir medo.
O que fazemos
Acreditamos que é preciso fortalecer as mulheres e meninas para que elas tenham autonomia e uma vida livre de violência. Em todos os países que atuamos, incentivamos que elas sejam protagonistas das mudanças que desejam para si e para o mundo, apoiando projetos de educação, capacitação, geração de renda, agricultura sustentável e combate à violência.
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