ActionAid em Uganda: proteção contra a violência doméstica
As mulheres e meninas são um dos principais focos do nosso trabalho em todo o mundo, pois as desigualdades que existem entre homens e mulheres causam, entre outras coisas, menos oportunidades de estudo para elas, e deixam as mulheres mais vulneráveis às consequências da pobreza.
Em Uganda, por exemplo, um dos nossos trabalhos é prover abrigos para sobreviventes da violência, que oferecem camas seguras para mulheres e meninas durante a noite, além de comida e aconselhamento psicológico e social, proteção sanitária e acesso a atendimento de saúde e serviços legais. Também são realizadas atividades de capacitação, para que as mulheres se tornem economicamente independentes.
Para prevenir essa recorrente forma de violência, formamos uma Rede de Mulheres em Kampala, capital do país, que realiza reuniões de sensibilização das comunidades. Em 5 anos, a ActionAid já envolveu mais de 126.300 pessoas em seus programas de conscientização em Uganda.
Melisende vive em uma comunidade em Kampala e é uma sobrevivente da extrema violência doméstica praticada por seu marido. Em seu país, estima-se que 58% dos habitantes e cerca de 28% das crianças menores de 5 anos de idade sofrem de desnutrição. Esta conjuntura se torna ainda mais perversa entre as meninas e mulheres.
Para que suas filhas não passem fome, pais e mães incentivam que elas se casem com homens com uma situação financeira melhor do que a de sua família, pois acreditam que, assim, as meninas terão uma chance a mais de sobreviver. Essa triste realidade faz com que 40% das mulheres de Uganda se casem antes de completar 18 anos.
Melisende nasceu nesse contexto desfavorável e sofreu radicalmente as suas consequências: a extrema violência doméstica a atingiu em cheio e quase destruiu sua vida.
Ela vivia com seu segundo marido e os três filhos do seu primeiro casamento: os meninos Hope, de 16 anos, e Will, de 10, e a menina Grace, de 7. As condições difíceis de vida causavam muita tensão na família. Um dia, após uma discussão, o marido chicoteou Melisende com um cabo de arame. Os ferimentos foram tão graves que ela teve que ficar hospitalizada por três meses.
Após a sua recuperação, o marido se desculpou e ela, então, concordou em voltar para casa, na esperança de uma mudança. Porém, infelizmente, isso não aconteceu e a violência se repetiu: Melisende foi espancada novamente, na frente dos filhos. Não houve uma terceira vez; ela decidiu se mudar e começar uma nova vida.
Mas o pior ainda estava por vir. Um ano depois, Melisende voltou a frequentar a igreja de sua antiga comunidade, buscando restabelecer uma rotina familiar e segura. Porém, uma noite, ao chegar em casa, foi sequestrada por dois homens. Seu ex-marido apareceu e, para se vingar de Melisende por tê-lo deixado, jogou ácido em seu rosto. Além de ficar com lesões na pele, ela perdeu o olho esquerdo.
Melisende temia por sua vida. Ela não podia mais ficar naquela comunidade, mas não tinha para onde ir com seus filhos. Eles nem sequer tinham comida. Felizmente, a polícia a encaminhou para o abrigo da ActionAid. Lá, além de acolhimento, ela conseguiu apoio legal, inclusive com o custeio do processo para levar o caso aos tribunais. Depois de
muito esforço, o ex-marido de Melisende foi condenado a mais de seis anos de prisão pelo ataque com ácido. Ela lembra o quanto o apoio da ActionAid foi importante:
A ActionAid não se cansou. Continuou facilitando que as testemunhas viessem ao tribunal por um ano e três meses. Mesmo que eu tenha perdido um olho, pelo menos estou viva. A ActionAid tomou conta de mim e me acomodou. A ActionAid me mostrou o que é o amor.
As consequências do nosso trabalho na vida de Melisende e de sua família serão levadas para as próximas gerações, como explica o jovem Hope, que pretende tratar sua futura esposa de uma forma muito diferente daquela como viu sua mãe sendo tratada:
Nenhuma mulher deve ser forçada a fazer algo que não queira. Se aquele homem não tivesse forçado minha mãe a amá-lo, nada disso teria acontecido. Então, no meu ponto de vista, nenhuma mulher deve ser forçada a fazer o que não quer. Qualquer um que viola os direitos de uma outra pessoa deve ser punido. No futuro, eu não vou forçar minha esposa a fazer coisas que ela não quer fazer.
Seu apoio pode ajudar muitas mulheres como Melisende a superarem a violência e a pobreza. Veja como.