Marielle é vítima de um mundo que não nos acolhe
Somos poucas na política, devido a um mundo que nos empurra o trabalho de cuidados domésticos. Um mundo que duvida da nossa capacidade, do nosso compromisso com a sociedade, que tenta nos impedir de participar das decisões que impactam profundamente nossas vidas. Um mundo que não nos acolhe.
Mas, quando temos a oportunidade, não fugimos do compromisso com nosso país. Marielle era um exemplo concreto disso. Em sua primeira candidatura, foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil. Não há algo mais representativo da urgência de sua luta. Incansável, ela levantou sua voz em defesa das mulheres negras, moradoras de periferia, as mulheres que dão rosto à pobreza neste país. Marielle lutou para construir uma cidade e um Brasil mais seguro e mais justo para as mulheres. Sonhou um sonho conjunto.
Na última quarta-feira, depois de um debate com mulheres negras no Centro do Rio de Janeiro, o carro onde estava foi alvo de nove balas. Marielle deixa uma filha de 19 anos, e deixa também desamparadas milhares de mulheres brasileiras que encontravam em sua atuação a possibilidade de concretizar o sonho de um mundo justo e igual. O desamparo e o silêncio são momentâneos. O legado de Marielle e tudo o que ela representa são impulso.
Nós, da ActionAid, acreditamos que o fortalecimento das mulheres urbanas e rurais é o caminho para a superação da pobreza e da exclusão. Trabalhamos para isso em 13 estados do Brasil, inclusive no Rio de Janeiro, no Complexo da Maré, onde ela nasceu e cresceu. Aprendemos com a trajetória de Marielle, nos somamos ao pesar deste luto e ao comprometimento com a defesa da justiça social e das vidas das mulheres.
Escrito em colaboração com Juliana Câmara.