Por uma Divisão Justa do Trabalho Doméstico!
Por Ana Paula Ferreira
No nosso dia-a-dia, encontramos muitas situações que são consideradas naturais, mas, na verdade, são construídas pela sociedade. Uma delas é a divisão do trabalho doméstico, quando se atribui a homens e mulheres a responsabilidade sobre tarefas diferentes. Tradicionalmente, cabe às mulheres os cuidados com a casa, com as crianças, com os idosos e com os doentes. Os homens são vistos, quando muito, como meros ajudantes nesses trabalhos, mas nunca como responsáveis por eles. Por isso, não são cobrados pela sociedade nas tarefas de limpar a casa, lavar louça, fazer comida e cuidar das pessoas. Por conta dessa responsabilidade, as mulheres são chamadas de “donas de casa”, e, mesmo assim, os homens são chamados de “chefes de família”. É a sociedade que naturaliza a dureza das tarefas domésticas para nós mulheres. Recai sobre nós a responsabilidade por essas atividades de reprodução da vida.
Que valor que é dado para uma dona de casa? É comum ouvir dizer que quando a mulher “não trabalha” vira “dona de casa”. Pois é, ao mesmo tempo em que nos “empurra” tão grande responsabilidade, a sociedade desvaloriza completamente todas essas tarefas. Sabemos quanto pode ser duro cuidar de uma casa e de todos que ali vivem. Mas, para o conjunto da sociedade essas tarefas são sem importância. Sem status ou remuneração, quase uma escravidão. E pior, são ‘naturalmente’ tarefas de mulheres.
Acreditamos que ligar as mulheres com trabalhos de menor valor está relacionado ao sistema patriarcal em nossa sociedade. Nessa ideologia, o homem tem supremacia sobre as mulheres, e assim, seus afazeres são mais importantes. O patriarcado ainda é muito presente hoje em dia. Ele se expressa de forma diferenciada em cada país, em cada cultura, e em cada localidade. Muitas vezes o patriarcado se impõe por formas diversas de violência, física, moral, patrimonial.
E no meio rural?
Embora o patriarcado esteja presente em muitos ambientes sociais, no meio rural, a violência patriarcal é ainda mais difícil de se enfrentar. Isso se deve ao isolamento em que as mulheres se encontram. Isolamento geográfico, falta de acesso aos meios de comunicação e informações, falta de equipamentos públicos para lidar com a violência. No meio rural, os papéis da divisão sexual do trabalho e da liderança dentro da família são extremamente delimitados. As mulheres são rebaixadas a uma posição de pouco ou nenhum protagonismo social e submetidas a muitas formas de violência. Às vezes, nem mesmo acesso à água de qualidade é livre a elas.
Por outro lado, as mulheres rurais vão além do papel doméstico. Elas desenvolvem atividades agrícolas, fazem artesanato, beneficiam frutas, verduras e pescados. Além do mais, recai sobre a mulher agricultora o trabalho de abastecer a casa com água, uma tarefa fisicamente desgastante nas zonas rurais. Por isso, a jornada de trabalho da mulher é maior. Elas são as primeiras a acordar para preparar o dia dos membros da sua família e a última a deitar, organizando os afazeres para o dia seguinte.
Essas desigualdades de gênero se reproduzem nas normas e valores considerados como “normais” no meio rural. Desde cedo, as meninas são ensinadas a passar, lavar, cozinhar, arrumar a casa e a cuidar de todos, sendo educadas, inclusive, para passar privações de várias naturezas, para suprir as necessidades dos homens. Muitas vezes estudam por estímulo próprio, resistindo ao descontentamento de seus pais, maridos e irmãos. Assim a sociedade constrói essa situação, e trata essa injustiça como algo “natural”.
Tudo que é construído socialmente pode ser também desconstruído socialmente
A Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico vem mostrar como as mulheres estão sobrecarregadas. Os afazeres de casa e de cuidado com as pessoas devem ser de responsabilidade de todos que habitam o mesmo lar. É necessária uma mudança de atitude. A luta por justiça começa dentro de casa, no compartilhamento do trabalho doméstico. Só assim se construirá uma realidade justa para todas as mulheres. Junte-se a nós e compartilhe essa campanha. Juntos, somos mais fortes!