Uma reflexão sobre a cultura do estupro
Todo o país tem acompanhado o caso da adolescente que foi estuprada por mais de 30 homens no Rio, além de outros casos de estupros recentes igualmente chocantes no Piauí e no Distrito Federal. Imediatamente, várias questões vêm à mente: Por que coisas dessas acontecem? Por que a violência de gênero ainda é tão forte e presente? Sabemos que a violência de gênero é um reflexo direto da cultura machista perpetuada nas relações sociais, não importando a sexualidade, origem, cor, classe, casta, religião ou profissão.
De acordo com o mais recente mapa da violência contra as mulheres no Brasil, 13 mil mulheres vítimas de estupro foram atendidas na rede pública em 2011. São 35 vítimas por dia, isso sem contar as que não procuram ajuda por medo ou vergonha. É necessário lembrar que os serviços públicos de saúde e assistência reproduzem estruturalmente o machismo, não oferecendo para essas mulheres vítimas de violência sexual um atendimento acolhedor e respeitoso a sua situação. Não é raro ouvirmos relatos de mulheres que “reúnem forças” para ir às delegacias e, quando lá chegam, são completamente desrespeitadas. Suas queixas não são acolhidas, e elas ainda são questionadas sobre a roupa que estavam usando, horários, comportamentos. É como se essas questões fossem a razão do estupro.
A maior parte das mulheres que chega aos serviços tem entre 10 e 14 anos e foi violentada, na maioria das vezes, na própria residência ou na rua. A mesma pesquisa revela que as mulheres têm mais medo de estupro do que da morte.
A culpabilização da mulher vítima de estupro reflete o patriarcalismo que marca a sociedade brasileira, e sua eliminação depende de mudanças estruturantes. Precisamos entender que a vítima não é a culpada pelo estupro. Nas narrativas midiáticas, poucas vezes o agressor está em foco. Na maioria das vezes, sugere-se que a vítima pode ter provocado o ato de violência e é ela que ganha praticamente toda a exposição e culpabilização que deveriam ser para o agressor. Basta analisar as matérias iniciais sobre o estupro coletivo no Rio de Janeiro.
A ActionAid busca desconstruir essa cultura de violência contra a mulher. Entendemos que as mulheres podem ser protagonistas dessa desconstrução, mas o Estado deve propor políticas de retração da violência, e a sociedade deve estar ativa para impedir a sua perpetuação.
Colocamos as mulheres no centro de nosso trabalho. Queremos vê-las desenvolvendo suas vidas e construindo seus caminhos, e de suas famílias, para fora da pobreza. Fazemos isso de diversas formas, inclusive combatendo a violência doméstica e nos espaços públicos. Entendemos que as mulheres precisam ter a garantia de poder circular pelas ruas, sem medo de serem agredidas e violentadas. Só assim acessarão a educação e as oportunidades de emprego. A ActionAid entende que uma cidade segura para as mulheres é uma cidade segura para todos.