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De Olho Na Quebrada: grupo de jovens pesquisadores de Heliópolis mostra impacto da pandemia sobre trabalhadoras domésticas
De Olho Na Quebrada: grupo de jovens pesquisadores de Heliópolis mostra impacto da pandemia sobre trabalhadoras domésticas
Heliópolis é a maior favela de São Paulo. É lá que, desde 2018, a ActionAid apoia o Observatório De Olho Na Quebrada, uma iniciativa da nossa parceria com a UNAS. O observatório é um coletivo de jovens pesquisadoras e pesquisadores de Heliópolis que tem por objetivo mostrar as potencialidades da região, e não somente ausências e vulnerabilidades. Seu trabalho consiste em evidenciar a voz das moradoras e dos moradores.
Durante a pandemia, o De Olho Na Quebrada vem realizando uma série de pesquisas para dar visibilidade aos impactos da Covid-19 na vida dos moradores de Heliópolis. A mais recente delas, lançada na semana do Dia das Mães, busca compreender os impactos específicos na vida das mulheres que atuam como diaristas e trabalhadoras do lar, um dos grupos mais afetados pela crise do novo coronavírus.
Os impactos da pandemia nas vidas dessas mulheres está para além do conflito entre o isolamento social e a necessidade de trabalhar para pagar as contas. Segundo a pesquisa, mais da metade das trabalhadoras domésticas de Heliópolis ficou sem renda durante a pandemia. O ganho mensal diminuiu nesse período para quase todas elas – 95% das profissionais.
A grande maioria dessas trabalhadoras (78%) não tem vínculo empregatício – elas atuam sob o regime de diárias. Elas são majoritariamente negras e pardas (71%). Quase todas elas são mães (97%), e a metade é mãe solo. Quase um terço dessas mulheres tem quatro filhos ou mais.
O estudo foi realizado de dezembro de 2020 a março de 2021 – período em que o Auxílio Emergencial, concedido a 68 milhões de brasileiros, foi suspenso. As entrevistadas contam que precisaram desse dinheiro para pagar aluguel, contas e para comprar comida.
O estudo conduzido pelo De Olho na Quebrada tem como objetivo entender a fundo as características específicas da vida dessas mulheres. Para isso, contou com apoio da ActionAid na implementação de diretrizes feministas para pesquisas – como o olhar para a interseccionalidade, o questionamento das causas da desigualdade de gênero e escuta ativa a essas mulheres – em todo o processo.
A pesquisa se adequou à realidade das moradoras de Heliópolis, que sempre estão ocupadas com o trabalho (dentro e fora das próprias casas). Elas responderam a um questionário online e enviaram áudios pelo WhatsApp contando detalhes de suas rotinas, desde a hora em que acordam até o momento em que vão dormir.
Karoline Aparecida é uma das jovens pesquisadoras do Observatório De Olho na Quebrada. Ela conta como funcionou o processo da pesquisa e o que aprendeu com ele:
Precisamos pensar na vida dessas mulheres, na saúde mental delas. Na maioria dos áudios que recebemos pelo WhatsApp, dava para ouvir o som de crianças ao fundo. Elas não param nem por um segundo, não têm tempo para si próprias. Num momento tão delicado como o da pandemia, nós do observatório tivemos o privilégio de podermos escutá-las. Conseguimos dar um espaço para essas mulheres, e assim vamos conseguir que essa informação chegue a outras trabalhadoras domésticas, para que percebam que não estão sozinhas.
Para a Diretora de Programas da ActionAid, Ana Paula Brandão, o trabalho dos jovens de Heliópolis se destaca por aprofundar nas questões socioeconômicas das mulheres que trabalham no ramo doméstico:
A pesquisa é uma das ferramentas mais fortes para que as pessoas que vivem em situação de pobreza e exclusão, que são mulheres em maioria, tenham seus direitos garantidos. E essa abordagem interseccional, com olhar para os múltiplos fatores que impactam a realidade dessas mulheres, mostra que o processo por si só pode ser inovador e voltado ao empoderamento delas, usando uma abordagem transformadora de gênero desde a concepção de ideias de pesquisa até sua publicação e incidência. É muito gratificante ver isso em prática com os jovens de Unas.
Reginaldo José Gonçalves é coordenador do projeto De Olho na Quebrada e líder comunitário da nossa parceira UNAS/Heliópolis. Ele reforça a importância do projeto para o desenvolvimento de toda a comunidade:
Esses jovens traçam um retrato mais próximo da nossa realidade, fazem pesquisa de dentro do território para o território. E eles serão lideranças futuras na nossa comunidade. Esse trabalho traz visibilidade para questões não vistas pelas estatísticas oficiais. Um exemplo disso é que o número total de habitantes apontado pelo censo não condiz com nossa realidade. Essa divergência prejudica a elaboração de políticas públicas adequadas às nossas necessidades.
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