ActionAid alcança sete estados do semiárido brasileiro com Fundo Água
Iniciativa promove produção e investimento em tecnologias sociais que possibilitam acesso e melhoria da qualidade dos recursos hídricos
O Brasil é o país que reúne em seu território o maior volume de água doce do planeta. Mesmo assim, quase 100 milhões de seus habitantes sofrem as graves consequências de conviver com a falta de acesso à água ou em situações de insegurança e risco hídrico. São incontáveis os indicativos ambientais, climáticos, políticos e sociais que denunciam esses impactos, que pesam mais sobre mulheres, pessoas racializadas e territórios periféricos e rurais. Diante da calamidade desse quadro e da existência de caminhos sustentáveis para superá-lo, a ActionAid lança o Fundo Água, seu novo projeto aberto à contribuição da sociedade, voltado à implementação de tecnologias sociais de saneamento, acesso, reúso e melhoria da qualidade da água.
Em sua primeira etapa, a iniciativa já alcançou cerca de 500 pessoas em sete estados do semiárido – região em que, embora possua reservas subterrâneas de água, o regime instável de chuvas agravado pelas mudanças climáticas e pelo enfraquecimento de políticas públicas precariza a vida de milhões de brasileiros e brasileiras. As doações ao Fundo Água (de pessoas, empresas ou organizações) apoiam o desenvolvimento e a implementação tanto de tecnologias sociais já mundialmente reconhecidas, como as cisternas, quanto de iniciativas inovadoras desenvolvidas pelas próprias comunidades beneficiadas. Até o momento, foram ao menos 7 variedades de tecnologias sociais implementadas. O projeto engloba também a capacitação técnica dos moradores para manejo sustentável da água e dos equipamentos.
“Essas tecnologias são fortes aliadas para a superação da pobreza e da fome, mas também importantes instrumentos de enfrentamento ao racismo ambiental e às crises climáticas. São iniciativas acessíveis e sustentáveis caso tenham investimento público e privado adequados, e que podem ser aplicadas em escolas, hortas comunitárias, ou em qualquer espaço individual ou mesmo coletivo. São pensadas, criadas e manuseadas especialmente pelas mulheres de cada localidade, que sabem melhor do que ninguém quais soluções são mais eficazes para o lugar onde vivem”, afirma Junior Aleixo, especialista de Justiça Climática da ActionAid, que defende a descentralização dessas soluções como um aspecto importante para que o acesso à água seja, definitivamente, justo e igualitário, além de sustentável.
Água é Vida
O Fundo Água é uma iniciativa da campanha de doações Água é Vida, lançada em 2022, após o Brasil enfrentar uma das piores crises hídricas dos últimos 90 anos. Naquele momento, a organização lançou também nota técnica em que destrinchou o caráter multifatorial da crise, e apontou um conjunto de soluções sociais, políticas e coletivas. Aleixo pontua algumas das razões que se colocam no caminho do acesso justo e igualitário à água.
“O desmatamento é um gatilho indiscutível nesse processo. Segundo o Map Biomas, de 1985 a 2019, o Brasil perdeu cerca de 87,2 milhões de hectares em áreas de vegetação nativa, o que equivale a 10,25% do território nacional. Isso afeta terrivelmente a maneira como o país recebe os regimes pluviais. E aí entram outros atores e fatores, que vão desde o modelo agroexportador vigente, que não só gasta muita água como também a contamina, até mesmo a falta de planejamento e a privatização dos recursos hídricos. O Novo Marco do Saneamento Básico, por exemplo, foi um desmonte dos sistemas públicos de águas, nos distanciando ainda mais da universalização do acesso”.
Maria Cleia Paulino da Silva, de 52 anos, vive com o marido, três filhos e um neto no município de Canindé, no interior do Ceará. A água da chuva que cai na cisterna serve para beber e cozinhar, e a pouca água encanada do poço é destinada para o banho e a louça. Agora, graças ao Fundo Água e a articulação da ActionAid com a organização parceira Esplar, o sistema de reúso de águas cinzas, o bioágua, foi instalado no quintal dela. A água que seria descartada vem servindo para irrigar a horta agroecológica e para limpar a casa.
“Essa água das pias ficava toda acumulada atrás da minha casa, as galinhas iam lá e pioravam a lama, que juntava mosquito e sujeira. Agora está muito melhor. Também temos uma maior possibilidade de molhar e cuidar das plantas”.
Julia Barbosa, especialista em Parcerias Institucionais e Filantropia da ActionAid, explica que histórias como a de Maria Cleia reforçam a eficiência do investimento em tecnologias sociais, sobretudo pelo protagonismo de quem vive nos territórios. Ela reforça a importância da contribuição da sociedade para essas iniciativas, uma vez que se tornam importantes aliadas ou mesmo inspirações para as políticas de larga escala.
“Abrir o Fundo Água para contribuição de doadores, não só individuais, como empresas e demais organizações, é uma forma de envolver todas e todos nessa transformação mais que necessária: urgente. ”.
- Para mais informações sobre como contribuir com o Fundo Água, entre em contato com julia.barbosa@actionaid.org
- Para mais informações e solicitações de entrevistas com porta-vozes e personagens: matheusvieira.cultura@gmail.com / 21 99924-1628 ou assessoria.imprensa@actionaid.org
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