O que o povo do Território Palestino Ocupado tem pra dizer?
Faz quinze dias que cheguei do Território Ocupado Palestino em visita ao trabalho da ActionAid na Palestina. A minha visita teve como objetivo conhecer o trabalho que é realizado pela ActionAid na região, principalmente com crianças e jovens. Foi há quinze dias mas parece que foi ontem. Ontem mesmo que aprendi sobre resiliência, sobre resistência e sobre coragem de continuar a sobreviver com doçura diante de tantas agonias causadas por um conflito que se arrasta desde meados do século passado.
É inspirador ver meninas jovens que planejam, sonham, se capacitam profissionalmente, aprendem a denunciar as violências que sofrem nos espaços públicos com um olhar de firmeza diante da vida. É bonito ver a riqueza de sua produção na agricultura familiar mesmo com todas as restrições aos bens comuns mais necessários para produzir: água e terra. A impressão que dá é que até os lindos pés de Oliveira também aprenderam a importância de resistir.
Sobreviver, ousar amar, criar filhos em meio a tantas dificuldades é, naquele território, sobretudo, uma questão de coragem. Parece até ousadia.
É impossível falar da vida palestina sem falar das muitas restrições que a população sofre para circular pelo seu território desde o início do processo de ocupação. Uma rotina que alguns chamam de Apartheid, porque classifica cidadãos palestinos e israelenses a partir de inúmeras restrições e permissões. Com essas restrições e a extrema tensão causada pela militarização do território e de suas fronteiras, é um fato que tão certo muitos palestinos tem um enorme sorriso acolhedor para te receber, muitos também tem histórias tristes para compartilhar.
É que desde a Guerra dos Seis dias em 1967, Israel passou ocupar o Território Palestino para além das fronteiras que foram determinadas em 1948 e assim permanece desde então. Nessa época, Jerusalém, declarada em 1948 como território de administração internacional, foi declarada capital do Estado do Israel, e hoje dá aos cidadãos palestinos do lado oriental da cidade apenas do status de residente com a condição que os mesmos não desloquem o centro da sua vida do lugar, caso o façam, perdem sua permissão de residência.
Essa situação ainda é agravada com o tensionamento a partir da expulsão de centenas de milhares de palestinos de suas casas por conta da violência desde 1948. Hoje são mais de cinco milhões¹ de refugiados que são atendidos pela UNRWA², um organismo de assistência de refugiados da ONU direcionado apenas para tratar do caso dos refugiados palestinos. São cerca de 60 campos de refugiados espalhados pela região do Oriente Médio. São vidas, famílias repartidas, histórias que se interromperam e que até hoje aguardam uma situação definitiva sobre seu retorno para suas casas. No caso da Faixa de Gaza, o lugar é considerado uma prisão ao ar livre. 50% das pessoas que vivem em Gaza têm menos de 18 anos. Eles estão famintos de alimentos, água e direitos humanos básicos, incluindo a educação. Se você tivesse 11 anos em Gaza, você já teria sobrevivido a 3 grandes guerras sangrentas.
Como todo lugar do mundo, o Território Ocupado Palestino tem seus problemas internos. Divergências políticas, desigualdade social, de gênero, etc. Em poucos lugares do mundo, porém, acredito que exista uma resiliência tão grande. Nesse cinco de junho completam-se cinquenta anos da ocupação desse território. É preciso falar sobre essa ocupação. É preciso devolver a dignidade a essa população e sua liberdade para decidir seus próprios rumos.