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Crianças do Ibura participam de oficinas de Fotografia Criativa pelo projeto ‘Meninas em Movimento’
Crianças do Ibura participam de oficinas de Fotografia Criativa pelo projeto ‘Meninas em Movimento’
Texto e fotos: Aline Vieira Costa
Cerca de 40 crianças de 7 a 11 anos da comunidade do Ibura, no Recife, participaram de oficinas de fotografia criativa por meio do projeto “Meninas em Movimento”, que atua no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. As atividades integraram a parte final do ciclo de formação para essa faixa etária e contaram com a participação de uma educadora convidada, a cineasta periférica Rayanna Maria, cujo trabalho teve como objetivo fazer com que as crianças se apropriassem da linguagem audiovisual, assumissem esse lugar de produtores de conhecimento e criassem suas próprias narrativas. O programa é uma realização da ActionAid, com o apoio das ONGs Casa da Mulher do Nordeste, Centro das Mulheres do Cabo e Etapas, por meio da Petrobras Socioambiental.
Como explica a cineasta, a fotografia foi introduzida na oficina de forma acessível, com ferramentas comuns, como o próprio celular, além de câmera e outros equipamentos que as crianças puderam tocar e sentir, para irem se familiarizando com esse universo. Elas também participaram de atividades de desenho, dobradura, criação de câmera escura e stop motion, por exemplo.
“Meu intuito é que essas crianças tenham a oportunidade de conhecer o cinema fora do circuito comercial, dos filmes da Disney, e que elas se apropriem a ponto de fazer seus próprios filmes. Quero que sejam diretoras, câmeras, o que puderem e quiserem ser”, comenta Rayanna, que gosta de trabalhar com ficção pelo fato de os jovens estarem nessa fase da imaginação.
“É bom estar aguçando a criatividade para, a partir daí, eles poderem fazer denúncias, trazer belezas, ressignificar a comunidade onde vivem por meio da foto e do filme. A maioria das pessoas pensa que o Ibura é um inferno, mas é um lugar lindo, com crianças inteligentes, potentes e criativas. Só falta oportunidade”.
Rayanna conta que, no desenvolver do trabalho, foram abordados temas para além da fotografia: “Os problemas estão enraizados. A gente conversa sobre várias coisas. Eu tento dar voz a elas. A fotografia é só uma ponte”, afirma Rayanna, que também é estudante de pedagogia.
De acordo com a educadora Suzana Santos, responsável pelo ciclo de formação no Ibura, por meio da ONG Etapas, na hora de materializar o conteúdo é preciso lidar com as especificidades do público e do território. Como ela explica, as crianças de até 10 anos gostam muito de brincar, correr, enquanto as meninas de 11 já costumam interagir de outra forma.
“Perguntam como é a cólica e têm curiosidade sobre vida sexual, sobretudo, por ser um assunto muito latente na escola e que, dentro de casa, é um tabu. Se ninguém responde, elas acabam procurando muitas vezes fontes erradas. Então, a gente tenta criar um ambiente onde todas as discussões sejam introduzidas diariamente. Todo dia a gente fala sobre raça e gênero porque elas sempre trazem uma coisa que, de certa forma, soa preconceituoso”, conta Suzana.
No encerramento da oficina, as crianças tiveram a oportunidade de brincar, de participar de atividades, de lanchar e de criar uma exposição com produções artísticas e fotográficas próprias, colocadas em molduras desenhadas e pintadas por elas.
As crianças também puderam assistir ao vivo a grafitagem feita pelo pintor Jeff Allan em uma das paredes do Clube de Mães de Três Carneiros, onde foi realizado o encerramento da oficina.
“As referências do Jeff são ele, os meninos negros do bairro dele e de outras comunidades. A proposta de ele estar aqui é mostrar que ‘eu sou a minha própria referência, minha mãe também, minha amiga, minha tia…’”.
A dona de casa Poliana Severina dos Santos, de 31 anos, é mãe de Guilherme, de 10, que está participando das atividades do projeto desde o início. Ela, que já viu na família, por meio dos irmãos, os benefícios de participar de programas sociais da Etapas, agora acompanha os frutos do trabalho desenvolvido com o filho.
“Se esses meninos pensarem em querer fazer alguma violência com as meninas, eles vão se lembrar do que aprenderam na infância. Isso ajuda a eles mesmos porque o incentivo à sexualidade está demais no mundo, e o projeto abre a mente deles, uma coisa que eu não tive no meu passado”, comenta ela, que também relata uma melhora no comportamento geral do filho.
“Eu gostei bastante de aprender sobre fotografia e sobre abuso sexual, e quero aprender mais. Aprendi que a gente nunca deve abusar das meninas e que homens e meninos nunca devem ser covardes”, conta Guilherme, que quer ser bombeiro civil quando crescer para ajudar as pessoas.
Também feliz com as oficinas, Emanuele Luana, de 11 anos, conta que vai levar para a vida o que aprendeu: “Aprendi sobre respeitar as pessoas negras, os mais velhos… Também aprendi sobre ter cuidado com a gente mesmo porque o mundo está muito cruel. Agradeço muito às professoras”.
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