Um mês do furacão Matthew: mulheres estão liderando a reconstrução no Haiti
No Haiti, nascemos com uma força interior – algo que é especialmente verdadeiro para as mulheres haitianas. Em um país com grande pobreza e frequentemente marcado por desastres naturais, temos que ser fortes. Um mês depois, ainda vivendo as consequências de um furacão que matou quase 500 pessoas e deixou mais de 80 mil sem comida ou água potável, precisamos de toda essa força.
Visitei recentemente algumas das cidades e vilas afetadas pelo furacão Matthew. As pessoas perderam tudo, suas casas e suas plantações. Assustadas, com fome, molhadas e com frio, elas também enfrentam o risco mortal de cólera. No entanto, aldeia após aldeia, eu vi o quão resilientes são os haitianos, especialmente as mulheres.
À medida que o furacão lançava os frágeis telhados de ferro corrugado nas árvores, as comunidades se uniam para garantir que os mais vulneráveis – crianças e idosos – fossem transferidos para um lugar seguro. Uma vez nos abrigos temporários, as mulheres se mobilizaram para reunir recursos e garantir que todos fossem alimentados e que as mulheres solteiras e meninas dormissem longe dos homens para garantir sua segurança. Infelizmente, sabemos que elas ficam mais sujeitas à violência em meio ao caos.
Logo após o desastre, eram as mulheres que estavam envolvidas em ajudar as pessoas e ajudar a reconstruir suas vidas. Entre elas está Joanne Moise, que trabalha em uma organização parceira da ActionAid. A casa de Joanne foi completamente destruída às 4h da manhã. Ela, seu marido e duas crianças pequenas tiveram que procurar abrigo em uma igreja próxima. Mas agora, Joanne está ajudando na recuperação do país:
Temos um programa chamado ‘Solidarité’. Portanto, se um membro do grupo tem um problema, é um problema de todos, e todos nós ajudamos a resolvê-lo. Estamos visitando todos da comunidade, pois o furacão atingiu a todos. Mas estamos especificamente lutando para melhorar a vida das mulheres, porque sabemos que quando temos um desastre são elas as que mais sofrem.Eu realmente amo a minha comunidade. É por isso que eu fico. Eu não quero ir para outro lugar, então eu quero trabalhar para torná-la um lugar melhor.
As mulheres no Haiti são discriminadas em todos os aspectos da sociedade. A violência doméstica também é um grande problema. Apesar disso, o Haiti tem um movimento de mulheres muito ativo. As mulheres desempenham um papel fundamental na cultura haitiana e são referidas como “Poto Mitan” ou “Pilar Central” das estruturas familiares. Os grupos e líderes de mulheres conhecem cada membro da comunidade e quem são os mais vulneráveis.
A ActionAid no Haiti trabalha há anos com esses grupos de mulheres, fazendo treinamento de lideranças. Quando o desastre nos atingiu essas habilidades foram imediatamente colocadas em ação.
Joceline Saint Clair é membro da Associação Camponesa de Grand-Anse, uma organização local apoiada pela ActionAid. Ela trabalhou incansavelmente para ajudar a ActionAid a distribuir itens de emergência, alimentos, água e leite enlatado; apenas horas após o furacão ter passado causando destruição e desespero.
Áreas como as comunidades em Grand’Anse já viviam em extrema pobreza antes do furacão. 40% dessas famílias são chefiadas por mulheres. No entanto, quando ocorre qualquer catástrofe, são sempre as mulheres e as crianças as mais vulneráveis, situação que muitas vezes pode se agravar com a generalizada discriminação de género e a falta de acesso aos recursos.
No entanto, essas mesmas mulheres são fundamentais para os esforços de reconstrução. Queremos que a futura agenda humanitária integre políticas e práticas que promovam o empoderamento das mulheres e a igualdade de gênero. As mulheres das comunidades afetadas por desastres devem estar no centro da definição de uma agenda humanitária global que seja inclusiva em termos de gênero e que responda às suas necessidades.
Desastres também podem ser oportunidades para termos mudanças duradouras e transformações por uma sociedade com mais igualdade de gênero. Os desastres são um momento em que a injustiça e os desequilíbrios se tornam mais visíveis, portanto são oportunidades primordiais para a mudança.
A abertura de espaço para a participação e liderança das mulheres nos órgãos de tomada de decisão na resposta humanitária e na recuperação pode despertar inspirações nas mulheres e meninas, permitindo que as suas vozes sejam ouvidas e que as soluções de base criem uma verdadeira diferença na vida de todos.
No Haiti, enquanto as famílias lutam para chegar a um acordo para a reconstrução de suas vidas partidas, sabemos que são as mulheres que estarão na vanguarda, colocando as comunidades de novo de pé, mais forte do que nunca.
por Yolette Etienne, Coordenadora Executiva da ActionAid no Haiti.
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