Refugiadas sírias contam suas histórias
A promessa de um novo ano traz a renovação das esperanças e dos planos para a maioria das pessoas. No entanto, para muitos refugiados o futuro ainda é incerto. Anna se mudou da Síria para a Grécia há 22 anos para viver com seus irmãos e há alguns meses ajuda refugiados no centro para mulheres e crianças da ActionAid, em Lesbos.
É a primeira vez, desde que vim para a Grécia, que sinto que realmente estou fazendo algo significativo. Desta vez, sou a mesma pessoa que eu era na Síria.
Faltam palavras para dar conta da tragédia
Um dos momentos mais difíceis para mim foi quando uma mulher me abordou aos prantos. Ela havia perdido seu marido e seu bebê de sete meses no mar, eles se afogaram. O marido segurava o bebê em seus braços no barco e desapareceu. Ela estava chorando o dia todo. Não há conforto em casos como estes.
Eu conheci outra família que perdeu seu filho no mar. Ele tinha 25 anos e agora tenho a foto dele no meu celular, pois a mãe dele me enviou enquanto o procurava. É inevitável chorar. Demoraram a notificar a família sobre sua morte e horas depois, quando finalmente descobriram, eles simplesmente perderam o controle.
Outro dia algumas crianças disseram que o ISIS as obrigou a assistir às decapitações. Meu coração dói quando ouço crianças contando essas histórias.
Mulheres no centro das famílias
Os centros para mulheres e crianças da ActionAid são lugares onde elas recebem kits de higiene para si mesmas e seus bebês e encontram um lugar seguro para amamentar e conhecer mulheres que compartilham as mesmas experiências.
Quando as mulheres chegam ao centro, elas estão muito cansadas por tudo o que sofreram. Mas quando me ouvem falando em árabe, elas se acalmam. Quando conto que eu também sou da Síria, vejo seus rostos se iluminarem. Pouco a pouco, começamos a conversar. Falamos sobre a jornada no mar, sobre suas vidas, o que aconteceu em suas cidades e sobre os parentes que deixaram para trás. Elas querem falar sobre a vida em seu país. E eu começo a contar sobre seus direitos. Às vezes, percebo que elas têm dificuldade em deixar nosso espaço, embora queiram ser registadas o mais rápido possível para continuar a viagem. Elas chegam muito cansadas, por tantas coisas que já sofreram, mas acredito que saiam daqui mais fortes e serenas. Elas vão embora sabendo o que as espera pela jornada, conhecendo seus direitos como refugiadas e como mulheres. Toda a família se organiza em torno das mulheres.
Não há lugar como a Síria, porque não há lugar como a nossa casa
Nunca achei que isso aconteceria na Síria. Não há lugar no mundo como aquele país. E o que o torna único são as pessoas. Os sírios são um ótimo povo, sempre cuidando uns dos outros. Por exemplo, se você está grávida, seus vizinhos cuidarão de você até o bebê nascer. Na Síria, você nunca está só. Sempre tem alguém na sua casa, fazendo uma visita. Ontem eu vi uma mulher chorando muito. Ela não estava chorando por causa do seu sofrimento. Estava chorando pela Síria. Tudo o que ela conseguia dizer sem parar era: ´a Síria acabou, acabou’.
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