Racismo ambiental é o tema principal em seminário realizado pela ActionAid
O tema Racismo Ambiental ainda é desconhecido e pouco compreendido por grande parte da população brasileira, mas testemunhado pela ActionAid nos territórios em que atua no Brasil há 25 anos. A pesquisa “Percepções sobre Racismo no Brasil”, encomendada pelo Projeto SETA junto com o Instituto Peregum, mostrou que apenas 24% da população sabe o que é ou já ouviu falar em Racismo Ambiental.
Para jogar luz sobre esse assunto, nos dias 4 e 5 de junho de 2024, o Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Zona Sul do Rio, foi palco do “Seminário Racismo Ambiental: o que isso tem a ver com o seu quintal?”. O evento foi promovido pela ActionAid, em parceria com UFRJ, com a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), com o Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) e teve apoio da Fundação Heinrich Böll e do Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista).
O Seminário foi pensado justamente para fomentar a discussão e apresentou pautas como insegurança alimentar e mulheres negras; mobilidade urbana e ocupação das cidades; tecnologias sociais e políticas públicas para questões climáticas, ambientais e agrárias e teve como objetivo fortalecer a articulação e os diálogos entre as organizações comunitárias, instituições, setor privado e movimentos sociais de comunidades rurais e urbanas aos participantes.
Território de Partilha e educação ambiental
Com apresentação de Naiara Evangelo, assessora de comunicação do Projeto SETA e mediação do Especialista em Justiça Climática da ActionAid, Júnior Aleixo, a mesa de abertura teve a presença de Ana Paula Brandão, diretora programática da ActionAid, Thuane Nascimento, diretora-executiva do PerifaConnection e integrante da Coalizão Negra por Direitos, Andréia Coutinho, diretora-executiva do CBJC, Acácio Jacinto, gerente-executivo regional da EBC no RJ e Cássia Curan Turci, vice-reitora da UFRJ. Durante a conversa, os integrantes falaram sobre a importância de o tema ser discutido, da população que mais sofre com a questão expor também suas experiências e, ainda, trataram sobre o papel das organizações que representam a disseminação do conhecimento em relação ao assunto.
Ana Paula Brandão comentou a respeito da pauta de justiça climática estar baseada na intersecção de gênero, raça, classe e território.
“As populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas e periféricas são as mais afetadas. No primeiro momento e por permanecerem com resquícios da tragédia”.
Racismo ambiental: realidade das regiões periféricas
Criado na década de 1980 pelo ativista americano, Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., o termo racismo ambiental nasceu em meio a protestos contra depósitos de resíduos tóxicos, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, a expressão se refere a uma forma de desigualdade socioambiental que afeta, principalmente, as comunidades marginalizadas e populações negras e indígenas. Falamos mais sobre o que é o racismo ambiental aqui.
A recente tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul apontou a necessidade de amadurecimento e de debates sobre o fato de áreas historicamente marginalizadas (como favelas e comunidades quilombolas) terem mais riscos de inundações e, possivelmente, mais dificuldades para se reerguerem devido à falta de suporte do poder público. De acordo com um levantamento Conaq, organização representada no Seminário, o estado gaúcho possui 145 quilombos, distribuídos por 70 municípios. Por conta das enchentes, todos esses territórios foram atingidos e aproximadamente 17.500 quilombolas sofrem com os impactos da tragédia.
Muito desse debate passa pela educação, principalmente uma educação antirracista, principal campo de atuação do Projeto SETA. Luciana Ribeiro, especialista em educação do Projeto SETA e mediadora de uma das mesas do seminário, resume a importância desse enfoque.
“Todos os assuntos tratados durante esses dois dias de seminário, passam pela educação. É fundamental também para pensarmos racismo ambiental, educação básica, ensino superior e para refletirmos em outra possibilidade de educação que não essa, que vivenciamos hoje, universal, colonialista, embranquecida e que não olha os nossos currículos como precisam olhar”.
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