Palestina: A vida no escuro
Este 5 de junho marca os cinquenta anos da ocupação de Israel à Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e Cisjordânia. Desde 1967, centenas de milhares de famílias palestinas foram expulsas de suas casas e terras, enquanto outras centenas de milhares vivem uma condição similar a do apartheid.
Desde 2007, a situação se agravou. Com o bloqueio da Faixa de Gaza, a taxa de pobreza aumentou para 65% e hoje 80% de sua população dependem de ajuda humanitária internacional para necessidades básicas diárias, como alimentação. Além disso, as crises elétricas são crônicas na região e, nos melhores dias, só se tem luz por 4 horas seguidas. Isso afeta a vida de 1.9 milhões de pessoas, pois não há eletricidade para o funcionamento de hospitais, escolas e sequer para o abastecimento de água.
Psicologicamente, é extremamente difícil. Posso ver o estresse na minha esposa e filhos. Estamos todos cansados de nos levantar durante a noite para estudar ou usar a máquina de lavar quando a energia chega. Me sinto triste.
As condições de vida são desafiadoras para todos, principalmente para mulheres, crianças e pessoas em situação de pobreza. As mulheres agora precisam fazer tarefas domésticas sem eletricidade, o que exige maior esforço físico, e têm acesso limitado a serviços básicos. As crianças não conseguem ter uma rotina saudável de estudos e muito menos acesso a lazer, pois não há lugares para brincar. Muitas vezes precisam estudar tarde da noite ou até de madrugada para aproveitar a eletricidade esporádica. Nas salas de aula, superlotação e calor dificultam o aprendizado.
Nada tem 11 anos e vive com seus três irmãos, sua mãe e avó em uma antiga casa, onde o teto está desabando. Nos últimos três anos, sua família sobreviveu graças à ajuda humanitária internacional, recebendo cupons para alimentos. Nunca é suficiente, no entanto.
Eu acordo e vou para a escola sem café da manhã, pois não podemos pagar mais de duas refeições por dia. A água que temos na escola é a das torneiras, mas ela está contaminada, então evito. Minha turma está superlotada – somos 44 alunos abarrotados em uma sala. É difícil ouvir o que o professor está dizendo e é difícil se concentrar. Minha mesa e cadeira também são velhas e quebradas. Eu vou para casa almoçar, que é minha primeira refeição do dia.
Anssam, de 13 anos, vive em um campo de refugiados na Cisjordânia. Como o campo fica próximo do muro de separação, os soldados muitas vezes invadem suas casas, batem nas pessoas – inclusive crianças – e soltam gás lacrimogêneo. As meninas já não se assustam mais, porque isso acontece frequentemente. O que realmente as deixa tristes e frustradas é quando querem brincar na única área de lazer do campo, mas os soldados jogam as coisas nelas até elas irem embora.
O QUE ESTAMOS FAZENDO
Trabalhamos há mais de dez anos na Palestina, fortalecendo a resiliência das comunidades. Investimos na capacitação de mulheres, para que elas tenham alternativa de geração de renda, e no treinamento de jovens para que eles conheçam seus direitos. Em Gaza, damos apoio psicosocial para crianças e mulheres, oferecendo proteção e ajudando na recuperação e na redução do trauma pós-guerra.
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