Novo relatório da ActionAid revela falhas no investimento em transição justa antes da COP30 e apela a ações urgentes para evitar danos
Um novo relatório da ActionAid aponta que menos de 3% (2,8%) do financiamento climático está apoiando abordagens de “transição justa” que priorizam trabalhadores, mulheres e comunidades ao lidar com a crise climática.
Recém-divulgado antes da COP30, o relatório “Como o Financiamento Flui: Financiamento Climático para Uma Transição Justa” analisa dados dos dois principais fundos climáticos globais – o Fundo Verde para o Clima (GCF) e os Fundos de Investimento Climático (CIFs) – para revelar que, de forma decepcionante, menos de 3% (2,8%) do financiamento climático está apoiando abordagens de transição justa. Os dados também revelam que apenas um em cada 50 projetos (1,96%) está ouvindo e apoiando adequadamente as pessoas por meio da transição justa, e apenas um dólar americano em cada 35 é gasto no apoio à transição justa.
“O mundo precisa urgentemente de ações para evitar o colapso climático, mas devem ser os poluidores, e não os trabalhadores e as comunidades, a pagar o preço”, afirma Arthur Larok, secretário-geral da ActionAid Internacional, que completa:
“Nosso novo relatório mostra que as abordagens de transição justa são surpreendentemente subfinanciadas e que as necessidades das pessoas estão no fim da lista de prioridades. Algo precisa mudar. Se a transição justa continuar sendo negligenciada, haverá um risco real de que as desigualdades se aprofundem.”
Há uma necessidade urgente de abandonar os combustíveis fósseis e a agricultura industrial e avançar para as energias renováveis e a agroecologia, mas isso deve ser feito de forma a proteger os empregos e os direitos das pessoas e a tornar os alimentos e a energia acessíveis. As abordagens de transição justa implicam o envolvimento das comunidades nos processos de planejamento local, o apoio e a formação para novos empregos e economias mais verdes e prósperas, e a oferta de apoio ao rendimento para ajudar a preencher as lacunas quando as indústrias destrutivas para o clima forem encerradas.
Teresa Anderson, autora do relatório e líder global em Justiça Climática na ActionAid, reforça que as pessoas não deveriam ser forçadas a sacrificar seus empregos por um futuro sustentável.
“Ninguém deveria ter que escolher entre um emprego seguro e um planeta seguro. As abordagens de transição justa garantem que as ações climáticas priorizem as necessidades diárias das pessoas e não as empurrem acidentalmente a uma pobreza ainda maior. Sem abordagens de transição justa, as ações climáticas correm o risco de causar danos indesejados, reações adversas e atrasos cada vez maiores.”
O relatório destaca histórias de danos causados por empresas de agricultura industrial e gigantes de combustíveis fósseis em comunidades com as quais a ActionAid trabalha no Sul Global, identificando casos de resistência, à medida que pessoas e trabalhadores lutam contra a destruição climática e o desmatamento. Também evidencia setores-chave que devem desempenhar um papel em um futuro mais verde, mas que ainda não estão protegendo os trabalhadores e as comunidades.
Por gerações, uma comunidade que vive perto de Timbiras, no Maranhão — região que integra a Amazônia Legal do Brasil — tem vivido do coco-babaçu, fruto de uma palmeira que cresce naturalmente na floresta e fornece óleo e fibras amplamente utilizados na alimentação e na geração de renda das famílias. À medida que o desmatamento avança, a comunidade enfrenta uma pressão crescente de agricultores, empresários e políticos para que deixem seu território para dar lugar à expansão da agricultura industrial.
“Eles querem nos expulsar para plantar milho, soja ou criar gado. Eles só querem tomar essa terra”, diz uma quebradeira de coco babaçu da região que pediu para não ser identificada.
A comunidade tem enfrentado métodos de intimidação para que deixe a terra. Há três anos, aviões e drones pulverizam a região com pesticidas. Isso tem causado dores de cabeça, náuseas, dores de estômago, tonturas e erupções cutâneas nos moradores. Embora a pulverização aérea tenha sido proibida por lei no município, pouco tem sido feito para garantir o cumprimento da norma, e o desmatamento continua.
Jessica Siviero, Especialista em Justiça Climática da ActionAid, reforça a importância que o Cerrado tem para o meio ambiente brasileiro e de todo o mundo.
“A floresta amazônica funciona como os pulmões do planeta, enquanto o Cerrado atua como suas veias, transportando vida e conectando ecossistemas vitais. A COP30, que será realizada em Belém, coloca em destaque o papel da agricultura industrial na destruição da Amazônia e do Cerrado. É hora de o mundo migrar da agricultura industrial, que é tão nociva, para adotar abordagens agroecológicas que alimentem as pessoas e resfriem o planeta. Abordagens de transição justa também precisam ser aplicadas à agricultura.”
A uma semana do início da COP30 em Belém, a ActionAid faz um apelo por um compromisso para que haja a coordenação de uma transição justa a nível global. Mais especificamente, em conjunto com os seus aliados, exige a criação de um “Mecanismo de Ação de Belém” sobre a transição justa, com o objetivo de garantir a coordenação, a partilha de conhecimentos e o apoio à implementação.
“Esta é uma oportunidade crítica para que a ação climática global evolua para melhor. A COP30 precisa entregar um plano global para uma transição justa, a fim de apoiar e tranquilizar aqueles que estão na linha de frente e desencadear a ação de que nosso planeta tanto precisa”, acrescenta Teresa Anderson.
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