Missão Nutritiva: como jogo criado pela ActionAid ensina de forma divertida sobre segurança alimentar
Se estiver com sorte, você pode cair em um “Parabéns! Você ajudou no plantio de uma agrofloresta”. Caso os dados não ajudem, a carta pode falar que “Você caiu na casa da monocultura”. Essas são algumas das etapas no caminho de quem joga Missão Nutritiva: Heróis da Alimentação, um jogo de tabuleiro educativo desenvolvido pela ActionAid e que vem sendo uma ferramenta a mais no aprendizado de crianças e adolescentes atendidos por organizações parceiras na hora de falar sobre sustentabilidade e segurança alimentar.
O objetivo é simples: de 3 a 5 jogadores precisam aprender e aplicar boas práticas de sustentabilidade através de decisões estratégicas e do trabalho coletivo dentro de uma comunidade fictícia. Cada jogador começa com um alimento e, ao longo do jogo, pode ganhar, perder ou trocar alimentos mais e menos saudáveis para garantir uma alimentação equilibrada. O jogo termina quando todos os jogadores cruzam a linha de chegada, sendo declarado vencedor aquele que apresentar a maior variedade de alimentos de diferentes grupos da pirâmide alimentar.
Carolina Silva, Especialista de Vínculos Solidários da ActionAid, explica que a ideia surgiu depois de uma visita a uma das organizações parceiras, o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), que utiliza um tabuleiro gigante como ferramenta para introduzir temas de forma lúdica nas comunidades.
“A dinâmica permite que as crianças quebrem o gelo e compartilhem seus conhecimentos e percepções sobre o assunto a ser trabalhado. Inspirados nessa metodologia, decidimos adaptar a proposta para o tema de segurança alimentar e nutricional, alinhando o conteúdo a algumas realidades vividas nos territórios dos nossos parceiros. Foi a partir dessa experiência que nasceu a ideia do jogo Missão Nutritiva”.
Construindo pontes entre espaços de saber
Não são apenas crianças atendidas pelo programa de Apadrinhamento da ActionAid que puderam viver a experiência do jogo. Karina Kato, professora do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ, estava em uma jornada com seus alunos de pós-graduação para produzirem seu próprio jogo quando ouviu falar do Missão Nutritiva.
“A experiência foi extremamente divertida e, ao mesmo tempo, muito rica do ponto de vista didático. Como o nosso jogo ainda estava em desenvolvimento, e já tínhamos oficinas agendadas nas escolas públicas, decidimos utilizar o Missão Nutritiva como ferramenta pedagógica.”
Eles levaram o jogo, então, para o Festival Agroecológico, promovido pelo Colégio Técnico da UFRRJ, em Seropédica, em comemoração ao Dia Nacional da Agroecologia. Lá, cerca de 15 estudantes do ensino médio, com idades entre 15 e 17 anos, puderam participar.
A atividade era dividida em dois momentos: primeiro, uma pequena palestra sobre "Alimentos, Saúde e Desenvolvimento", conduzida pela professora Karina e pelos estudantes de Relações Internacionais da UFRRJ. Depois, organizados em grupos, os alunos puderam aplicar o que tinham debatido no jogo.
“Ao final, realizamos uma breve avaliação com os alunos do ensino médio. Todos os depoimentos destacaram tanto a importância do tema quanto a eficácia do jogo como ferramenta de aprendizado. Eles acharam muito legal e informativo. A atividade demonstrou como uma abordagem lúdica pode tornar conteúdos complexos mais acessíveis e envolventes.”
Mariana, uma das estudantes da pós-graduação que participou da aplicação do jogo, também observou como a interação entre todos foi facilitada pela brincadeira.
“A experiência superou todas as expectativas que coloquei no dia. No começo, quando apresentamos os slides, os alunos pareciam acanhados. Porém tudo mudou quando inserimos o jogo da ActionAid. Toda a vergonha e a distância que estavam entre nós foram rompidas e todos imergiram no jogo, tanto nós que levamos, quanto os alunos. As piadas, as tentativas de ganhar, tiveram protagonismo nesse momento e nada sobressaía mais que nossas risadas.”
“Foi um momento inesquecível, brincamos, nos divertimos, mas também levamos a mensagem mais importante: o que escolhemos comer também é uma decisão política. O jogo foi crucial para que entendessem de maneira mais prática as cadeias longas e escondidas dos consumidores no mundo da alimentação.”
Para a professora Karina, três aprendizados ficaram claros com a experiência:
“A importância da presença da universidade nas escolas públicas. Essa aproximação rompe os muros da academia, alimenta nossas pesquisas com a realidade escolar e contribui com a formação de professores e estudantes da rede pública. A necessidade de repensarmos nossas práticas pedagógicas. Em um contexto cada vez mais mediado por telas e inteligência artificial, é urgente buscar métodos que estimulem o interesse, a participação e a apropriação crítica dos conteúdos — não apenas a sua transmissão. O potencial transformador das atividades lúdicas. Quando bem planejadas e acompanhadas de boas ferramentas — como o jogo da AAB —, elas promovem o engajamento dos alunos com temas sociais, científicos e culturais. Isso fortalece a formação de cidadãos mais conscientes, críticos e democráticos.”
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