Como o acesso à educação transformou as possibilidades de Maria Rita
As coisas nunca foram fáceis para Maria Rita. Nascida em um distrito de Quixadá, no interior do Ceará, seus primeiros 10 anos foram passados em uma pequena casa de taipa que dividia com os pais, que mantinham a família com a renda que possuíam como agricultores. Criança tímida e de poucas palavras, ela tinha apenas 3 anos quando começou a participar das atividades de Apadrinhamento realizadas pela ActionAid em parceria com o Esplar e, desde então, sua vida mudou.
“Sempre traziam jogos, temas para ser trabalhados, lanches, depois de um tempo eles passaram a atuar na escola. Sempre que vinham, mostravam vídeos e trabalhávamos redações com temas como meio ambiente e direito das crianças e adolescentes. Eu tinha uma certa dificuldade para redação e sempre tinha alguém me orientando e me dando dicas que até hoje uso quando tenho dificuldade em escrever.”
Debater sobre o cuidado com o meio ambiente, principalmente, era essencial nos distritos de Quixadá. A maioria das famílias sofre os impactos da crise climática no período de seca e mesmo casas com acesso à poços artesianos, por exemplo, são igualmente afetadas pela falta de chuvas que chega a diminuir o nível do lençol freático.
Outro ponto de atenção na região é a segurança. Muitos jovens, diante da falta de perspectiva de emprego e renda, decidem ingressar no crime organizado cada vez mais presente. E é justamente para reverter esse cenário que histórias como a de Maria Rita são tão importantes: depois de anos participando das atividades de apadrinhamento, ela decidiu se tornar uma delegada federal e, hoje, já está no terceiro ano da faculdade de Direito.
Como explica Neuma Morais, coordenadora do Esplar, muitas das atividades e conversas buscam mostrar para crianças e adolescentes que é possível conquistar um futuro melhor, fora ou mesmo dentro de Quixadá, mas para isso é preciso dedicação aos estudos.
"Conversamos bastante com as crianças, abordando com cuidado as diferentes possibilidades que existem. Enfatizamos que estudar em Quixadá, fazer cursos e até ingressar na faculdade, como Maria Rita fez, são caminhos viáveis. Queremos mostrar que existem outras alternativas e que elas podem e devem ser exploradas."
O foco principal de Maria Rita é se formar e realizar seus sonhos profissionais, mas depois disso ela pretende construir sua própria família e poder proporcionar aos seus filhos tudo o que ela não pode ter.
“Vou ensinar muitas coisas a eles, como ler. Minha mãe sabe ler pouco, então eu costumava ler para ela. Quando aprendi a ler, ela ficou feliz, mas nossa relação era um pouco invertida. Eu via os pais dos filmes lendo para os seus filhos e achava lindo, mas eu não tive essa oportunidade. Meu sonho é fazer isso com os meus filhos um dia, ler pra eles.”

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