Como a ludicidade tem ajudado jovens do interior de Pernambuco a falar sobre racismo ambiental

Rodas de desenho, produção de bonecas de pano, aulas de tranças nagô... A princípio não é que se pensa quando o assunto é racismo ambiental, mas não só tem tudo a ver, como esse é um dos caminhos que o Caatinga, organização parceira da ActionAid que atua no interior de Pernambuco, vem trilhando para abordar diversos assuntos complexos com crianças e adolescentes, incluindo o racismo ambiental.
A abordagem do tema é realizada de forma prática e interativa, através de oficinas como as de tranças nagô, por exemplo, que permitem uma reflexão sobre o racismo e as raízes culturais afro-brasileiras. A prática das tranças vai além da estética: ela se torna uma ferramenta pedagógica poderosa para combater estigmas e preconceitos raciais, permitindo que as crianças compreendam a história por trás dessa tradição e sua relação com o racismo.
Cicera Carvalho, pedagoga e parte da equipe de Vínculos Solidários do Caatinga, explica como acontece a aproximação entre temas e atividades.
“Trabalhamos com rodas de diálogo, brincadeiras e dinâmicas integrativas. Durante os últimos dois anos, estamos trabalhando a temática de Racismo Ambiental com foco na questão do lixo e moradia. Buscamos trazer para as questões locais como destino do lixo em cada comunidade e reaproveitamento”.
As atividades também não deixam de fora problemáticas específicas da região, como ser um polo gesseiro, ser uma região com grande exploração de energia eólica e o impacto causado por grandes obras como a Ferrovia Transnordestina. Além das crianças e adolescentes que participam do programa de Apadrinhamento, esses debates envolvem também professores, diretores escolares e outros atores importantes do dia a dia da comunidade.
“Levar essa temática para crianças e jovens é muito importante, pois traz consciência pra lutar contra as ações que promovem o racismo ambiental no território. Ao abordar o tema, as crianças sempre relatam que já sofreram e já presenciaram um/a coleguinha que sofreu racismo e quanto a temática de Racismo Ambiental, eles relatam que nunca tinha ouvido falar sobre o tema, mas que na cidade onde moram não tem coleta seletiva e nem aterro sanitário e que muitas pessoas não cuidam do seu próprio lixo.”
Ao longo das atividades, as crianças são estimuladas a refletir sobre suas próprias experiências e a perceber as problemáticas do racismo ambiental em suas vidas. É essa ponte entre o que as crianças observam no seu dia a dia e o nome que essas coisas têm um dos principais resultados das atividades.
No futuro, espera-se que essas sementes plantadas nas novas gerações frutifiquem em uma mudança real no comportamento da comunidade. Ao dar voz aos mais jovens e permitir que eles reflitam sobre questões tão importantes, as atividades promovidas entre ActionAid e Caatinga fortalecem não só a educação ambiental, mas também um movimento de transformação social que visa um futuro mais justo e sustentável para todos.
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