ActionAid leva água e conhecimento para comunidade no interior do Alagoas
“Tá perdida essa água, não presta pra nada”, era o que Dona Maria dizia quando via a água que sobrava depois do uso em casa, na pia da cozinha ou do chuveiro. Era o que ela sempre tinha ouvido falar dos vizinhos e conhecidos, na comunidade Pedra Branca, no interior de Alagoas, mas a chegada de um projeto financiado pelo Fundo Água da ActionAid mudou esse pensamento e muitas outras coisas na vida de Dona Maria.
Isso porque há cerca de um ano Dona Maria e algumas outras pessoas da comunidade receberam a estrutura para reúso de águas cinzas, uma das tecnologias sociais proporcionadas pelo Fundo Água, uma iniciativa para combater o risco hídrico que centenas de pessoas enfrentam no Brasil, principalmente em regiões do nordeste do país.
Antes disso, a rotina de Dona Maria era sair de casa às 5h da manhã e andar cerca de 5km até Coatrá, distrito do seu município, onde buscava água em uma mina. Quase sempre havia muita gente no local e ainda era necessário esperar a água minar, o que podia demorar horas, até que ela pudesse sair com os dois tambores de 200 litros e fazer a caminhada de volta para casa.
Outro destino para a água
Nessa realidade, a pouca água que Dona Maria conseguia captar era destinada ao consumo próprio e a hidratação dos animais, não sobrava muito que pudesse ser destinado à irrigação de plantas no quintal. Foi essa a maior mudança levada pelo Fundo Água e, hoje, o quintal de Dona Maria dá um show de variedade que ajuda a manter a mesa sempre cheia.
Acerola, umbu, melancia, laranja e goiaba são algumas das frutas que já nasceram por lá. O quintal também produz as chamadas culturas de sequeiro, que se adaptam em períodos com pouca água, como milho, feijão, abóbora, palma e cana de açúcar. Existe também um canteiro medicinal com manjericão, alecrim, hortelã da folha miúda, louro, canela e alecrim de caco. Além de serem usados no próprio consumo, esses alimentos vão parar também nas receitas que Dona Maria ama fazer e vende em uma barraquinha na cidade, o que contribui com a renda mensal da família.
“Eu quero plantar mais outras coisas ao redor. Eu tô com vontade de plantar laranjeira, goiabeira, que a gente sempre usa, e se tiver oportunidade quero vender, porque a gente da roça tem que ter sempre uma renda para ajudar mais. Só tem uma rendazinha no inverno, aí no verão, é pesado. Eu ainda tenho a banca, que ainda tira uma renda pouca, mas tira toda semana”.
E junto com a renda mais segura e a tranquilidade de ter mais acesso à água, veio também a independência e conhecimento que as reuniões realizadas pelo projeto trouxeram.
“Eu era meio isolada, nesses espaços ganhei conhecimento. A gente vai ganhando mais experiência, né. Ficando mais ativa e reconhece os nossos direitos. Que a gente não pode viver isolada porque uma andorinha só não faz verão. Se a gente baixar a cabeça, a gente vai ficar amarrado ao pé da mesa, não vai sair nunca. Tem que reagir mesmo. Eu sempre fui independente, desde solteira, agora que eu me envolvi com esses projetos, ninguém me segura”.
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