Redução da pobreza: ActionAid analisa novos dados do IBGE
Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 2024 — A ActionAid, organização internacional presente no Brasil há 25 anos, celebra a redução da pobreza e da extrema pobreza revelada nesta quarta-feira com a divulgação da “Síntese de Indicadores Sociais 2024”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A organização, contudo, chama a atenção para a preocupante persistência do cenário de desigualdades que segue excluindo populações negras, periféricas, povos quilombolas e tradicionais da possibilidade de ascensão social e econômica no país. Dentro desses segmentos populacionais, as mulheres seguem sendo as mais vulnerabilizadas.
De acordo com o levantamento do IBGE, o percentual da população abaixo da linha de pobreza adotada pelo Banco Mundial (US$ 6,85 PPC por dia ou R$ 665 por mês) caiu de 31,6% em 2022 para 27,4% em 2023. É a menor proporção desde 2012. Em números absolutos, 8,7 milhões de pessoas saíram da pobreza no país, reduzindo essa população de 67,7 milhões para 59 milhões — também o menor contingente desde 2012. No mesmo período, a proporção da população na extrema pobreza (US$ 2,15 PPC por dia ou R$ 209 por mês) recuou de 5,9% para 4,4%. É o menor percentual já registrado, com 3,1 milhões de pessoas saindo dessa condição.
Para Francisco Menezes, assessor de Políticas da ActionAid, os avanços merecem expressivo reconhecimento, mas o quadro geral ainda é preocupante no horizonte da justiça social. “É realmente significativa a queda observada, de 2023 em relação a 2022, tanto em termos de pobreza quanto de extrema pobreza. Essa redução é reflexo de medidas importantes, como a retomada da política de valorização do salário-mínimo, a redução do número de desempregados e o crescimento do trabalho formal. A redefinição da política de transferência de renda, com o aumento dos valores do Bolsa Família e o fortalecimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), tem ajudado a aliviar os impactos da pobreza extrema”, afirma.
No entanto, a desigualdade monetária permanece elevada, como destaca Menezes:
“Não houve queda no índice de Gini (indicador socioeconômico que mede a desigualdade de distribuição de renda em um determinado território). Se por um lado o número de pessoas em situação de pobreza extrema diminuiu, os 10% mais ricos tiveram um crescimento de renda muito mais significativo do que os 40% mais pobres. Essa enorme concentração de renda ainda é um desafio estrutural no Brasil”.
Os dados do IBGE também expõem disparidades de gênero e raça. Mulheres negras continuam sendo as mais vulneráveis, mesmo nas situações em que acumulam maior formação escolar que homens. O total de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham atingiu seu menor número desde o início da série histórica, em 2012: hoje, eles são 10,3 milhões (21,2% da população total nessa faixa etária). Porém, é preciso atentar que, dentro desse conjunto, as mulheres pretas ou pardas são maioria (45,2%, 4,6 milhões de pessoas), e as mulheres brancas são 18,9% (1,9 milhão). O rendimento médio também é revelador de desigualdades. A hora média dos trabalhadores de cor ou raça branca (R$ 23,02) é 67,7% maior que a dos trabalhadores pretos ou pardos (R$ 13,73).
A ActionAid reforça que enfrentar essas desigualdades exige investimentos prioritários em educação, saúde e programas sociais, além de reformas estruturais na política tributária.
“É absolutamente necessário combater o abismo entre os grupos mais vulneráveis e aqueles que concentram renda. A destinação de recursos para educação, saúde e programas sociais precisa ser prioritária, nesse governo e nos próximos. Ao mesmo tempo, é urgente buscar medidas no campo tributário que tragam maior progressividade na cobrança de impostos dos mais ricos. Só assim, o país conseguirá sair gradativamente desse quadro estrutural de desigualdade”, conclui.
Sobre a ActionAid
A ActionAid é uma organização internacional que atua em prol de justiça social, equidade de gênero e étnico-racial e pelo fim da pobreza em mais de 70 países, por meio de parcerias com outras organizações e movimentos sociais. Em 2024, celebramos 25 anos de atuação no Brasil, onde já atuamos em mais de 2.400 comunidades e beneficiamos mais de 300 mil pessoas. Saiba mais.
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