ActionAid aponta cinco indicadores para justiça climática na COP28
Na reta final do ano mais quente á registrado na história da humanidade, líderes mundiais se reúnem em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para tomar grandes decisões sobre como lidar com a crise climática durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – (COP28). O encontro, que acontece de 30 de novembro a 12 de dezembro, é um momento decisivo para agir de acordo com os compromissos climáticos e prevenir o agravamento dos impactos das mudanças climáticas.
Mais uma vez, a ActionAid está participando da COP, levando seus especialistas junto com jovens ativistas do Sul Global para participarem de uma série de eventos em torno da Conferência, amplificando as vozes em defesa da justiça climática. A COP deste ano marca a conclusão do “Balanço Global”, a primeira avaliação do progresso global na implementação do Acordo de Paris de 2015. E as perspectivas não são boas, como aponta Flora Vano, representante nacional da ActionAid em Vanuatu, país ameaçado de desaparecer em consequência das mudanças climáticas:
Na parte do mundo em que vivemos, lidamos constantemente com a dura realidade da crise climática. No momento em que estamos nos recuperando de um ciclone, surge um novo. Estamos exaustos. A nossa capacidade de lidar com estes desafios intermináveis é dificultada pela falta de financiamento efetivo. Na COP28, as nossas comunidades esperam que os países ricos assumam a responsabilidade pelas perdas e danos causados pelos seus combustíveis fósseis, e que forneçam financiamento adequado sob a forma de subvenções para garantir que possamos nos adaptar e, assim, mitigar os impactos das mudanças climáticas.
Para Teresa Anderson, líder global em Justiça Climática da ActionAid Internacional, durante a COP28 a atenção do mundo, especialmente das comunidades do Sul Global, estará firmemente voltada para que seja concretizado o tão esperado Fundo para Perdas e Danos, de maneira que as comunidades da linha da frente possam se recuperar das inundações, secas e ciclones que estão destruindo vidas em todo o mundo:
Os países ricos e que mais poluem têm uma obrigação moral evidente de financiar esse fundo e, por fim, fornecer apoio concreto aos países e às comunidades que estão sendo empurrados cada vez mais para a pobreza em função das mudanças climáticas. A COP28 também apresenta uma oportunidade importante para alertar que trilhões de dólares de financiamento público e privado estão indo para os combustíveis fósseis e a agricultura industrial, e para corrigir os fluxos financeiros prejudiciais que estão promovendo a crise climática.
5 indicadores para justiça climática na COP28
Durante a COP28, a ActionAid leva a Dubai um conjunto de cinco pontos fundamentais para garantir as ações necessárias para alcançarmos justiça climática:
- Os líderes devem chegar a um acordo e investir o dinheiro necessário no novo Fundo para Perdas e Danos, de modo que as comunidades que mais sofrem na linha da frente da crise climática possam se reconstruir e recuperar após os desastres climáticos. É triste que as mulheres, as meninas, as comunidades marginalizadas e as pessoas que vivem na pobreza sejam particularmente e desproporcionalmente afetadas pelas perdas e danos causados pelo clima. Sem o apoio financeiro internacional adequado, os países devastados pelos impactos das mudanças climáticas correm o risco de se endividarem ainda pelas perdas econômicas e os enormes custos de recuperação. É por isso que o Fundo para Perdas e Danos deve apoiar esses países.
- Os combustíveis fósseis são a principal causa da crise climática no mundo atualmente. No entanto, um relatório da ONU mostra que os petroestados mundiais seguem aumentando a produção. A COP28 deve chegar a um consenso de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis de uma forma que seja justa, totalmente financiada e que permita transições justas. Para evitar uma catástrofe, precisamos limitar as temperaturas à marca acordada de 1,5 graus Celsius, acabando, assim, com a dependência dos combustíveis fósseis, num acordo de eliminação progressiva.
- As finanças mundiais estão fluindo na direção errada. É necessária uma mudança para interromper danos e construir um futuro mais sustentável. O relatório da ActionAid “Como o financiamento flui: os bancos que estão incentivando a crise climática” descobriu que, nos 7 anos desde a assinatura do Acordo de Paris, os bancos do Norte Global têm financiado a indústria de combustíveis fósseis no Sul Global em 3,2 bilhões de dólares. As negociações sobre o Artigo 2.1c devem mostrar progressos reais na remodelação dos fluxos financeiros que continuam causando a crise climática.
- O Balanço Global (GST) deve resultar numa análise franca e num verdadeiro reforço da ação climática onde é mais necessária, colocando os maiores poluidores na berlinda. Lamentavelmente, o mundo está na contramão no que diz respeito aos esforços para manter o limite de aquecimento global de 1,5 graus Celsius ou fornecer o financiamento climático necessário para fazer face aos impactos climáticos e à transição para caminhos mais verdes.
- O novo programa de trabalho sobre Agricultura e Segurança Alimentar a ser consensuado na COP28 deve abordar soluções reais como a agroecologia para que os agricultores e os sistemas alimentares exerçam sua finalidade numa era de alterações climáticas. É imperativo que os países abandonem a agricultura industrial e invistam na agroecologia. Infelizmente, nos sete anos desde que o Acordo de Paris foi assinado, os bancos do Norte Global têm financiado a agricultura industrial, prejudicial no Sul Global, numa cifra de 370 mil milhões de dólares, de acordo com a pesquisa da ActionAid.