Mulheres lideram ações de emergência da ActionAid no combate ao coronavírus
Durante a crise global causada pelo novo coronavírus, as mulheres têm tido um papel fundamental à frente das respostas de emergência realizadas pela ActionAid. Nos 40 países em que estamos atuando no combate à Covid-19, elas lideram ações que vão desde campanhas de conscientização sobre violência doméstica e a disseminação de informações seguras sobre prevenção à doença, até a distribuição de alimentos e kits de higiene para as comunidades mais vulneráveis.
Para a ActionAid, a resposta conduzida por mulheres vem se mostrando um verdadeiro diferencial nas nossas ações de emergência ao longo dos anos, da crise do Ebola a desastres climáticos como secas e enchentes. A experiência, os saberes e a força delas são cada vez mais decisivos para identificar problemas e soluções, e para criar as estruturas comunitárias necessárias para o enfrentamento de crises, não só na pandemia.
Ao mesmo tempo, a ActionAid está mobilizada globalmente, pedindo aos governos que garantam uma maior proteção social para as mulheres. A violência baseada em gênero vem avançando pelo planeta como uma espécie de “segunda pandemia”, e as mulheres carregam cada vez mais o fardo de cuidar de suas famílias no cenário desolador de desemprego e crise econômica.
A Secretária Geral da ActionAid, Julia Sánchez, explica por que as mulheres têm esse papel central nas nossas respostas a emergências:
Crises humanitárias e surtos de doenças exacerbam as desigualdades de gênero existentes e aumentam a violência contra mulheres e meninas. Adotamos uma abordagem liderada por mulheres para respostas humanitárias porque elas têm um forte entendimento de suas comunidades e estão em melhor posição para lidar com o impacto desproporcional das emergências sobre mulheres e meninas. Por isso, a proteção e a liderança das mulheres são fundamentais para os planos de resposta local e globalmente.
Veja como as mulheres estão atuando com a ActionAid no combate ao coronavírus ao redor do mundo:
Brasil – conscientização sobre violência doméstica
Mesmo com as medidas de distanciamento social, a Casa da Mulher do Nordeste e outras parceiras da ActionAid – como o Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata – se mobilizaram em prol da Campanha Pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico, que tem levado mensagens de divisão justa dos afazeres e de vida livre de violência, especialmente em áreas rurais e mais vulneráveis.
A proteção a essas vítimas tem se mostrado bastante desafiadora pelo país. O Centro das Mulheres do Cabo atua diretamente em casos de violência doméstica em Pernambuco. No litoral do estado, trabalham com a Casa de Referência das Mulheres, responsável pela primeira assistência às vítimas. No início da pandemia, 90% da equipe contraiu a covid-19, e o serviço precisou ser suspenso por 15 dias.
Índia – um amplo alcance de famílias
Em vários pontos do país, a ActionAid vem prestando apoio às comunidades mais afetadas, e espera poder alcançar pelo menos 55 mil famílias. O trabalho é majoritariamente realizado por mulheres que foram capacitadas como líderes e por outras jovens que se dispuseram como voluntárias. Elas fazem a distribuição direta de alimentos e produtos de higiene.
Um dos centros parceiros da ActionAid na Índia, o Gauravi One-Stop Crisis Centre, é uma referência no atendimento a vítimas de violência de gênero. Com a crise do novo coronavírus, tornou-se um balcão único de resposta, e distribui de 5 a 7 mil cestas básicas por dia para pessoas em situação de vulnerabilidade, como trabalhadores do sexo, pessoas trans, muçulmanos e desabrigados.
Quênia – coletivos de mulheres dão capilaridade à ação social
Os coletivos de mulheres e outros grupos comunitários foram essenciais para que a ActionAid pudesse conduzir uma resposta humanitária à pandemia no Quênia. Informações e folhetos foram distribuídos nas mais remotas localidades.
A organização está presente em assentamentos informais, que estão superlotados e provavelmente serão mais afetados pelo coronavírus. As mulheres são as mais vulneráveis, pois estão em casa cuidando dos doentes, cuidando das crianças e trabalhando em empregos precários.
A ActionAid no Quênia pressiona o governo, para que garanta licenças médicas remuneradas para todos os trabalhadores, tanto nos setores formais como informais, e que as pessoas que vivem em assentamentos informais tenham acesso a água potável e saúde gratuitos.
Tanzânia – treinamento de liderança para mulheres
O Programa de Direitos Locais da ActionAid Kilwa conduziu um treinamento de liderança em situações de emergência, voltado para mulheres, com o objetivo de fazê-las entender o papel que desempenham nas respostas dentro da família e dentro da comunidade. Elas se tornam multiplicadoras desses saberes, e isso se tornou uma chave para conter a propagação do coronavírus. Além disso, como resultado dessa capacitação, essas novas líderes conduziram o processo de distribuição de alimentos às vítimas em enchentes.
Rukia Maguruka, que faz parte da associação comunitária TUJIWAKI, explica que as habilidades de liderança aprendidas com a ActionAid foram fundamentais para a situação imposta pela pandemia.
Garantimos que as pessoas permanecessem na distância necessária para evitar infecções por Covid-19 e priorizamos pessoas com necessidades especiais. Acredito que a experiência nos tenha trazido confiança, e vamos assumir o controle quando for necessário.
Libéria – lições deixadas pelo surto do vírus ebola
Na Libéria, a ActionAid vem usando as lições aprendidas durante a crise do vírus ebola para chegar a comunidades de mais difícil acesso. As organizações de direitos das mulheres e as lideranças femininas no campo facilitaram a criação dessa rede. Durante o isolamento social, reuniões virtuais e postagens em redes sociais são uma poderosa ferramenta de mobilização comunitária.
No surto de ebola, houve um aumento dramático na violência contra mulheres e meninas. Os serviços de apoio foram reduzidos e as sobreviventes não tinham acesso à justiça. A diretora nacional da ActionAid na Libéria, Lakshmi Subramani, fez um apelo ao governo para que houvesse um plano de resposta adequado.
“Estamos pedindo ao governo que garanta acesso à justiça e proteção das mulheres nos planos nacionais de resposta. O estupro e outras formas de violência sexual e de gênero aumentam durante surtos de doenças, as mulheres devem poder relatar esses casos”.
Nigéria – mulheres na linha de frente da distribuição de doações
Na Nigéria, a ActionAid precisou direcionar ações emergenciais para algumas localidades que não podem receber o apoio do governo, e para outras em que há um número elevado de casos de Covid-19. As mulheres assumiram a linha de frente, e distribuíram as cestas básicas para cerca de 200 famílias em cada estado – a maior parte delas, chefiadas por mulheres. Foram levados itens essenciais como arroz, feijão, óleo e sabão.
Itália – o trabalho de identificar quem mais precisa de ajuda
Um dos países que mais sofreu no início da pandemia, a Itália testemunhou um grande aumento da violência de gênero. O Donatella Tellini Center, financiado pela ActionAid, apoia mulheres em situação de abuso, e pôde permanecer aberto graças ao fundo de doações #Closed4Women. Lá, é prestado aconselhamento jurídico e psicológico, por telefone ou Skype, 24 horas por dia. Para a coordenadora, Rosita Altobelli, até a diminuição do número de ligações deixa a equipe em estado de alerta.
As mulheres que estão confinadas em casa enfrentam dificuldades para procurar ajuda, pois na maioria das vezes elas não têm a possibilidade de fazer uma ligação com garantia de privacidade.
Também na Itália, o Projeto Sementes auxilia 450 famílias em risco em Nápoles e Milão durante a pandemia. Entre os grupos vulneráveis estão os de mães solo. Graças ao olhar atento das comunidades da diáspora e de associações de minorias, foram identificados algumas destinatárias do benefício que não atendem aos requisitos de apoio do governo, e que teriam sido excluídas por estarem fora dos radares institucionais – portanto, invisíveis. Gerente de projetos da ActionAid na Itália, Daniela Capalbo é uma das mulheres responsáveis por mapear essa população que precisa de ajuda.
É essencial cuidar daqueles que não têm outras formas de ajuda, porque o bem-estar da comunidade depende do bem-estar de cada pessoa.
Gana – absorventes junto com as cestas básicas
As cestas distribuídas pela ActionAid em Gana contêm itens básicos para alimentação e kits de higiene pessoal, inclusive absorventes. A gerente de comunicação Akosua Kwafo Ogyiri faz questão de destacar a presença desse item, pois ele é, infelizmente, considerado artigo de luxo no país que está se deparando com a miséria.
Entendemos que para muitas das meninas que atendemos, absorventes são um luxo pelo qual elas não podem pagar. Essa crise e o impacto gerado nas atividades econômicas dos chefes de família impossibilita a compra de alimentos, e ainda mais a de produtos de higiene. Nós distribuímos o absorvente porque sabemos que as famílias provavelmente colocarão outras necessidades na frente.
Palestina – doações para as sobreviventes da violência de gênero
A ActionAid na Palestina vem distribuindo cestas de alimentos e kits de higiene para ajudar principalmente as mulheres sobreviventes de violência doméstica. Esse auxílio garante dignidade para elas, particularmente diante dos riscos causados pelo prolongado e devastador bloqueio de Gaza, que enfraqueceu profundamente os serviços de saúde.
Só no território palestino na Faixa de Gaza, a ActionAid atendeu a 247 famílias chefiadas por mulheres. São, em maior parte, sobreviventes da violência de gênero. A resposta é fundamental para reduzir a disseminação da Covid-19 nas comunidades mais pobres.